Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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I Parte:<br />
"Forma-mercadoria e forma de pensamento - Crítica da teoria do<br />
conhecimento"<br />
1. Partir criticamente de Kant ou de Hegel?<br />
O desenvolvimento do pensamento e a ênfase recebem nova luz e se<br />
deslocam se o caminho da filosofia de Kant a Hegel for submetido a uma<br />
consideração sob o ponto de vista do trabalho <strong>espiritual</strong> e corporal, sua<br />
relação e sua separação radical no capitalismo. Com isso, a apreciação da<br />
filosofia sai dos enredamentos conceituais internos e do reino dos<br />
especialistas do pensamento filosófico, para o campo visual histórico e<br />
deveria, entre outras coisas, tornar-se compreensível até aos trabalhadores<br />
manuais. As especulações de Kant sobre a "coisa em si", por exemplo,<br />
tornam-se pelo menos em parte perfeitamente evidentes. Se considerarmos<br />
tão somente a obra sobre a razão teórica, como é o caso da Crítica da<br />
razão pura, se a análise se ocupar exclusivamente com as formas<br />
conceituais do trabalho intelectual na "matemática pura" e na "ciência pura<br />
da natureza", com a medição de seus limites de validade, sobretudo com<br />
sua "pura possibilidade" bem como com seu método, então está claro, que<br />
algo fica fora, ou seja o trabalho <strong>manual</strong>. O trabalho <strong>manual</strong> leva a cabo as<br />
coisas, das quais a razão teorética considera somente a "aparência", e tem<br />
um caráter de realidade diferente daquele que possa jamais competir ao<br />
objeto do conhecimento. No decurso de nossa pesquisa mostrar-se-á que o<br />
próprio trabalho (e somente como tal) se subtrai a todos os conceitos de<br />
sociedades produtoras de mercadorias, sendo a eles "transcendente", pois<br />
esses conceitos derivam em seu conjunto da conexão de apropriação,<br />
formada por essas sociedades. Certo, encobre-se tal situação ao<br />
pensamento de Kant, cujo esforço fundamental dirigiu-se a provar a<br />
autonomia autofundante do trabalho intelectual, precisamente do trabalho<br />
científico, bem como de todos os demais interesses da classe burguesa,<br />
"formada". Nisso reluz a "coisa em si" em variadas significações, antes de<br />
tudo na ética, onde ao indivíduo moral se assegura, que a "coisa em si"<br />
leva, em si mesma, sobretudo ao apoio de sua liberdade.<br />
Mas o dualismo, que fica para Kant em todo seu esforço do começo ao fim,<br />
é um reflexo da realidade capitalista sem comparação mais fiel à verdade<br />
que os esforços de seus seguidores, que se livram do dualismo na medida<br />
em que neles tudo é puxado para dentro da "imanência do espírito". Já<br />
Fichte chama Kant de "cabeça de três quartos", porque ele não teria<br />
extraído, ele mesmo, toda a conseqüência de sua filosofia. No entanto, bem<br />
tinha acontecido a Revolução Francesa, na qual a burguesia parecia ter-se<br />
apropriado completamente de toda a realidade, sem deixar nenhuma<br />
realidade oposta. Pode-se também dizer, que após a Revolução Francesa a