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Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

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Embora a comparação desta análise da forma com a análise marxiana das<br />

mercadorias deva ser apresentada em um tratamento minucioso no anexo,<br />

é contudo inevitável aqui uma observação restrita. Consiste em que nós<br />

não podemos reconhecer à forma valor das mercadorias nenhuma relação<br />

inerente ao trabalho. Aqui não nos encontramos absolutamente em<br />

discrepância de Marx. A forma valor nega e encobre a relação quantitativa<br />

do valor com o trabalho através da "aparência objectiva" do valor das<br />

mercadorias. "Não está portanto escrito na testa do valor o que ele é." A<br />

abstração da troca é a trama da qual se tece a aparência, pois ela só surge<br />

do fato de que produção e consumo não têm lugar na troca. O trabalho<br />

onde se produzem as mercadorias, bem como os atos nos quais elas são<br />

usadas, são as mudanças fundamentais físicas, das quais a troca de<br />

mercadorias deve ser isolada para poder ter lugar. A troca de mercadorias<br />

em si não é senão um relacionamento recíproco de apropriação. O fato<br />

decisivo presente na produção de mercadorias é que sobre sua base a<br />

socialização não se enraíza no caracter social do processo de trabalho nem<br />

na mais ou menos abrangente colectividade do modo de produção (algo<br />

assim como no comunismo primitivo), mas em um sistema da apropriação<br />

formalizado e generalizado como circulação da troca. Em sua base está a<br />

cisão da produção originariamente colectiva em um sistema de produção<br />

individual com divisão do trabalho. "Somente produtos de trabalhos<br />

privados autônomos, independentes uns dos outros, podem enfrentar-se<br />

reciprocamente como mercadorias.21 Naturalmente o mecanismo da<br />

apropriação privada nas formas da troca deve realizar, no resultado final,<br />

uma interrelação dos trabalhos privados independentes mais ou menos<br />

conforme com as necessidades sociais, a fim de que a sociedade de<br />

produção de mercadorias seja viável. "E a forma, pela qual se dissemina<br />

esta divisão proporcional do trabalho em uma sociedade, na qual a<br />

interdependência do trabalho social se faz valer como troca privada dos<br />

produtos individuais do trabalho, essa forma é mesmo o valor de troca<br />

desses produtos."22 Todos os conceitos dominantes nas sociedades<br />

produtoras de mercadorias, conceitos orientadores do operar dos<br />

indivíduos, surgem do mecanismo da troca e da aparência objectiva, pela<br />

qual essa sociedade inconsciente se torna de todo possível. Assim como<br />

este mecanismo não consta senão dos atos recíprocos de apropriação na<br />

troca dos produtos do trabalho como valores, assim também esses<br />

conceitos são cunhados pelas relações de apropriação, que lhes<br />

emprestam significação social. Sua relação com a substância social real, ou<br />

seja o trabalho, pelo qual primeiro algo que se possa trocar vem a existir, é<br />

no geral somente uma relação indireta. Somente a crítica genética da forma<br />

desses conceitos encobridores pode trazer à vista sua relação com o<br />

trabalho. Devido à reciprocidade como troca, a apropriação assume a forma<br />

do mecanismo autoregulador, que a capacita a tornar-se portadora da<br />

síntese social; isso em contraposição à apropriação unilateral, tributária,<br />

nas "relações diretas de domínio e servidão", as quais predominam nas

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