Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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mercadorias e desagua no solipsismo prático dos trocantes uns com os<br />
outros.<br />
Falta perguntar o que é que esta natureza da forma de trocabilidade das<br />
mercadorias confere à socialização pela troca. Ela confere à síntese social<br />
pela troca de mercadorias sua unidade. Se a circulação mercantil alcança o<br />
grau de desenvolvimento, no qual ela se torna o nexus rerum decisivo, a<br />
"duplicação da mercadoria em dinheiro e mercadoria" deve ter-se realizado;<br />
possivelmente também, pelo contrário, esta duplicação (que na história<br />
ocorreu pela primeira vez em torno do ano 700 a.C. na periferia iônica do<br />
mundo grego) leva a que a troca de mercadorias bem cedo se torne um<br />
meio determinante de socialização. O dinheiro é então o portador material<br />
da forma de trocabilidade das mercadorias, atua como forma equivalente<br />
geral das mesmas e forma de trocabilidade. A essência da mesma como<br />
unicidade do ser das mercadorias opera o efeito de que o dinheiro, de<br />
acordo com sua essência funcional, é uno: em outras palavras, só pode<br />
haver um dinheiro.16 Naturalmente existem um grande número de divisas;<br />
mas enquanto cada uma delas exerce de fato as funções de dinheiro em<br />
seu âmbito de circulação vale entre elas o postulado, que elas devem<br />
poder-se calcular reciprocamente a um curso de câmbio claro, portanto<br />
devem comunicar funcionalmente com um e só um sistema monetário<br />
universal. A isso corresponde a unidade funcional de todas as sociedades<br />
mercantis comunicantes. Um curso das trocas, que se formou em diversos<br />
lugares do mundo em isolamento geográfico, torna-se necessariamente<br />
com a constituição de contacto desimpedido, mais cedo ou mais tarde, um<br />
nexo de interdependência, cego mas indivisível, entre os valores das<br />
mercadorias em seu conjunto. Esta unidade essencial intercomunicativa de<br />
todas as divisas em um sistema monetário, bem como a unidade da síntese<br />
social pela troca de mercadorias, que por isso é mediada, é formalmente e<br />
geneticamente (portanto, digamos, formgenéticamente) a mesma que a<br />
unidade de ser do mundo. A unidade abstratificada do mundo circula como<br />
dinheiro entre os homens e possibilita a eles uma conexão inconsciente a<br />
uma sociedade.<br />
Para termos clareza da análise feita até aqui, seja repetido: a forma de<br />
trocabilidade é própria das mercadorias; isso vale independentemente de<br />
sua condição material, ou seja prescindindo daquilo que entra na percepção<br />
e no prático solipsismo dos indivíduos trocantes. A forma abstração da<br />
trocabilidade é portanto produto da atividade interhumana desse solipsismo,<br />
respectivamente do caráter privado da propriedade das mercadorias. A<br />
abstração surge da relação de circulação entre os homens; ela não surge<br />
no âmbito único, nem no âmbito da percepção de um indivíduo por si. Ela<br />
surge de uma maneira, que se subtrai complemente ao empirismo, o qual<br />
se reforça com base no ponto de vista da percepção do indivíduo. Pois não<br />
são os indivíduos que operam sua síntese social: seus negócios o fazem.