Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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absolutamente nenhuma unidade da coisa-mercadoria em sua natureza<br />
corporal, em sua matéria ou natureza. A unidade que faz com que uma<br />
determinada mercadoria não possa pertencer simultaneamente a dois<br />
possuidores como propriedade separada, mas que entre eles ela deve ser<br />
"trocada" contra uma outra mercadoria - essa unidade é na verdade a<br />
unidade de seu ser, ou seja o dado de fato que cada mercadoria tem um<br />
ser indivisível e único. A unicidade do ser de cada coisa é a razão pela qual<br />
essa coisa não pode pertencer separadamente ao mesmo tempo a diversos<br />
proprietários privados, porque a apropriação privada tem o sentido que o<br />
interessado faz da coisa parte de seu próprio ser.14 Chegamos com isso ao<br />
resultado de que a forma de trocabilidade das mercadorias é a unicidade de<br />
sua existência.<br />
Podemos lidar com a coisa também de outro aspecto. Dissemos acima que<br />
a troca como forma de relacionamento daqueles que trocam necessita de<br />
um solipsismo prático recíproco. Mas enquanto cada qual coloca seu ser<br />
com todo o mundo de seus dados privados (ou percepções) em confronto<br />
com qualquer outro e o mundo dele, cada vez que eles se encontram na<br />
troca de suas mercadorias, o mundo é contudo, mesmo em sua realidade,<br />
somente um entre eles. A que se reduz porém essa unidade do mundo em<br />
sua realidade entre os mercantes? Tudo o que se pode perceber no mundo<br />
e nas coisas é dividido monadologicamente entre eles como sua<br />
propriedade privada. O mundo portanto possui unidade entre eles somente<br />
prescindindo da natureza deles. E não somente as percepções das coisas<br />
são trocadas entre os possuidores, mas as coisas mesmas, enquanto as<br />
percepções delas continuam a ser individuais. Segundo o ser puro como<br />
tal, portanto, as mercadorias se movem entre os possessores, prescindindo<br />
de tudo aquilo que forma as percepções privadas dos possuidores. Só em<br />
sua realidade o mundo é um entre os possessores que dele participam,<br />
enquanto o modo da participação exerce a negação subjectiva da unidade<br />
do mundo e obedece à necessidade da troca só como a constrição externa<br />
das coisas objectivas. A troca mesma providencia sua própria cegueira<br />
como relacionamento social sintético. A troca ocorre só devido ao<br />
solipsismo prático dos trocantes, que subtrai a socialização que eles<br />
praticam à possibilidade de seu conhecimento. Mas o que é que constitui a<br />
unidade do mundo em contraposição com o solipsismo dos trocantes? De<br />
novo, ela não se constitui da indivisibilidade material do mundo ou de seus<br />
componentes ou das coisas; nem também da unicidade e insubstituibilidade<br />
dos exemplares individuais, de acordo com seu ser.15 Muito mais, é tão só<br />
a unicidade do ser de cada parte o que torna o mundo uno, por longe que<br />
se queira esticar o reino do "Mundo". O resultado é portanto o mesmo que<br />
antes: a forma de trocabilidade das mercadorias é a unicidade do ser de<br />
cada uma; é essa mesma unicidade do ser in abstrato, ou seja<br />
"independentemente" de tudo aquilo que pertence à percepção das coisas