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Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

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ser salvo do entorpecimento, no qual dele se abusa sob sinal trocado para<br />

legitimar relações de dominação inconfessadas.<br />

Por trás de nossa oposição crítico-polêmica a Kant está uma concordância<br />

como medida de comparação. Estamos de acordo com Kant, que os<br />

princípios básicos de conhecimento das ciências naturais quantitativas não<br />

se podem deduzir do poder físico e fisiológico (alias <strong>manual</strong>) do indivíduo.<br />

As ciências exactas naturais pertencem aos recursos de uma produção,<br />

que abandonou os limites individuais da produção isolada de observância<br />

precapitalista. A composição dualística do conhecimento em Kant (de<br />

princípios a posteriori e princípios a priori) corresponde à contribuição dos<br />

sentidos individuais, que sempre alcançam somente tão longe quanto um<br />

par de olhos, de ouvidos, etc., e a contribuição de conteúdo imediatamente<br />

universal, que prestam os conceitos ligados à matemática. Na praxis do<br />

método experimental a contribuição da função individual de significação à<br />

"leitura" dos dados é reduzida a instrumentos de medida cientificamente<br />

construídos. A evidência científica tem certeza só para a pessoa que lê na<br />

hora, para as outras não tem senão credibilidade. Quando não for<br />

eliminavel tout court, ela é reduzida a um mínimo, e esse mínimo é o que<br />

fica do trabalhador <strong>manual</strong> no experimento, pois mesmo sua pessoa<br />

constitui o fator "subjectivo", a cujo desligamento se desliga a objetividade<br />

científica. Necessidade lógica mora somente na hipótese formulada<br />

matematicamente e nas consequências de seu âmago. Esta dualidade das<br />

fontes de conhecimento vale para nós como fato indiscutível. O que está<br />

em questão é a origem histórica, espaço-temporal do poder lógico das<br />

hipóteses, mais precisamente a origem dos elementos formais sobre os<br />

quais tal poder se funda. Mas nem Kant nem qualquer outro pensador<br />

burguês pode levar até o resultado essa questão da origem, nem sequer<br />

mantê-la como questão. Nas primeiras linhas da Introdução à segunda<br />

edição da Crítica a questão é colocada, mas a seguir esgota-se. Kant<br />

concentra as formas conceituais incertas em um princípio último básico, da<br />

"unidade originalmente-sintética da appercepção", mas mesmo para este<br />

princípio não tem ele nenhuma explicação outra, senão que ele existe em<br />

força de sua própria "espontaneidade transcendental". A explicação<br />

dispersa-se no fetichismo daquilo que se devia explicar. A partir daí, vale<br />

insistir na afirmação de que simplesmente não pode haver uma explicação<br />

genética, ou seja espaço-temporal, da origem da "pura potência da razão".<br />

A questão é selada por um dos tabus mais santificados da tradição<br />

filosófica de pensamento. O escárnio de Nietzsche - de que Kant pergunta<br />

"como são possíveis juízos sintéticos a priori" e responde, "por uma<br />

capacidade" - é perfeitamente fundamentado. Só que Nietzsche mesmo<br />

não sabe nada melhor. O tabu significa que a separação existente entre<br />

trabalho da cabeça e das mãos não possui nenhum fundamento espaçotemporal,<br />

e sim de acordo com sua natureza é atemporal, de maneira que

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