Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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causa da dualidade de fazer e pensar, que reina aqui, a identificação formal<br />
somente indicaria um paralelismo entre os dois planos, o que poderia ser<br />
indício tanto de uma pura relação de analogia quanto de uma conexão de<br />
fundamentação. Para provar a conexão de fundamentação deve-se poder<br />
indicar de que modo a abstração real torna-se pensamento, qual papel ela<br />
joga no pensar e qual tarefa socialmente necessária lhe cabe.<br />
6. Análise da abstração da troca<br />
a. Colocação do problema<br />
A significação e necessidade histórica da abstração da troca em sua<br />
realidade espaço-temporal consiste em que, em sociedades produtoras de<br />
mercadorias, ela é a portadora da socialização. Na conexão da divisão do<br />
trabalho da produção de mercadorias, nenhum procedimento de uso, de<br />
consumo ou de produção, no qual se desenrola a vida dos indivíduos, pode<br />
realizar-se sem que seja mediado pela troca de mercadorias. Cada crise<br />
econômica ensina-nos que produção e uso - na medida de sua extensão e<br />
duração - são embargados, enquanto o sistema social da troca estiver<br />
quebrado. Abstemo-nos propositalmente de aprofundar as<br />
interdependências econômicas, pois aqui não temos a ver com a economia.<br />
Baste assegurar-nos do registro de que a síntese das sociedades<br />
produtoras de mercadorias se deve buscar na troca de mercadorias, mais<br />
precisamente na própria abstração da troca. Correspondentemente,<br />
empreendemos a análise formal da abstração da troca em resposta à<br />
questão: Como é possível uma síntese social nas formas da troca de<br />
mercadorias?<br />
Mesmo nesta forma inicial e simples, esta formulação da questão lembra<br />
mais Kant que Marx. Mas é com isso um bom caso marxiano. A<br />
comparação implícita (como foi dito) não é entre Kant e Marx, e sim entre<br />
Kant e Adam Smith ou, melhor, entre a teoria do conhecimento e a<br />
economia política, das quais os nomes mencionados podem constar como<br />
os fundadores sistemáticos conhecidos. A riqueza das nações de Adam<br />
Smith, de 1776, e a Crítica da razão pura de Kant, de 1781 (primeira<br />
edição), são as duas obras em que, antes de todas as outras, se persegue<br />
a mesma finalidade com perfeita independência sistemática em campos<br />
conceitualmente desligados: a comprovação da natureza ordenada da<br />
sociedade burguesa.<br />
Com base na pressuposição de que na natureza do trabalho humano está<br />
de produzir seus produtos como valores, Adam Smith prova que só há um<br />
curso ótimo que a sociedade possa assumir: ou seja, dar a cada possessor<br />
de mercadorias ilimitada liberdade de dispor de sua propriedade privada.<br />
Isso é para a sociedade o caminho justo normativo fundamentado na