Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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conforme a ordem dos produtos, tão logo estes estejam à disposição em<br />
forma de mercadorias. A forma mercadoria é a abstração real, que não tem<br />
seu lugar e sua origem senão na troca mesma, de onde ela se estende<br />
através de toda a amplidão e profundidade da produção mercantil<br />
desenvolvida, alcançando assim também o trabalho e até o pensamento.<br />
O pensamento não é atingido diretamente pela abstração da troca, e sim<br />
primeiro quando seus resultados se defrontam com ele em forma acabada,<br />
portanto primeiro post festum da evolução das coisas. Depois sem dúvida<br />
as diferentes feições da abstração se facilitam ao pensamento sem<br />
qualquer sinal de sua origem. "O movimento de mediação desaparece em<br />
seu próprio resultado e não deixa atrás de si nenhum rastro."(O Capital.,<br />
cit., p.107) Como isso acontece, será assunto que nos ocupará mais de<br />
perto em seu lugar. Aqui devia-se somente assinalar de forma mais geral a<br />
conexão funcional bem como a essencial separação do mundo do agir<br />
humano e do mundo do pensar humano em sociedades de produção<br />
mercantil desenvolvida. Isso tinha sido omitido na primeira edição deste<br />
livro.<br />
Acrescentem-se um ou dois pontos adicionais de significação essencial<br />
para a compreensão do conjunto. O efeito fundamental da conexão da<br />
abstração da troca sobre a sociedade burguesa consiste em que nela se<br />
chega a operar uma comensuração do trabalho "morto" usado nas<br />
mercadorias e nelas objetivado. Como base de determinação da grandeza<br />
do valor (ou como "substância do valor"), o próprio trabalho é abstrato, é<br />
"trabalho humano abstrato" ou trabalho de caráter formal imediatamente<br />
social. Esta comensuração do trabalho possibilita de forma geral a coesão<br />
das "membra disiecta" da sociedade burguesa em uma economia. Esta é a<br />
significação vital da abstração real efectuada na troca para o processo de<br />
produção e reprodução da sociedade burguesa, portanto deveras "o ponto<br />
de partida ao redor do qual gira o entendimento da economia política" (O<br />
Capital, cit., p.56). "Enquanto os homens nivelam seus distintos produtos<br />
uns aos outros na troca como valores, eles igualam seus distintos<br />
trabalhos, como trabalho humano. Eles não o sabem, mas eles o<br />
fazem."(Ibid., p.88). O efeito desse nivelamento ou a comensuração dos<br />
trabalhos é a determinação do tamanho das relações de troca. "É preciso<br />
ter uma produção desenvolvida de mercadorias, antes que da própria<br />
experiência brote a seguinte intuição científica: os trabalhos privados<br />
realizados independentemente (em todos os sentidos) uns dos outros, mas<br />
como membros naturais da divisão social do trabalho são continuamente<br />
reduzidos a sua medida social proporcional, porque nas relações de troca,<br />
casuais e continuamente oscilantes, de seus produtos o tempo de trabalho<br />
socialmente necessário à sua produção impõe-se como uma norma da<br />
natureza, quase como a lei da gravidade, quando a casa desmorona. A<br />
determinação da grandeza do valor pelo tempo de trabalho é portanto um