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Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

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uso), ela postula portanto o mercado como um vácuo medido temporal e<br />

localmente, um vácuo no processo humano de metabolismo com a<br />

natureza. No meio desse vácuo a troca de mercadorias desenvolve a<br />

socialização como tal, puramente em si, in abstrato. Nossa questão (como<br />

é possível a socialização nas formas da troca de mercadorias?) poderia<br />

deixar-se formular também como questão sobre a possibilidade da<br />

socialização solta do processo humano de metabolismo com a natureza.<br />

Aquilo que capacita a troca de mercadorias para sua função socializadora<br />

(ou, conforme prefiro dizer, sua função socialmente sintética) é o fato de ser<br />

abstrata. Nossa questão inicial poderia portanto também soar assim: como<br />

é possível uma socialização pura? - segundo os mesmos critérios de<br />

"pureza", que estão na base da "ciência pura da natureza" em Kant. O<br />

ponto de partida de nossa pesquisa implica com isso a tese, que há uma<br />

questão a respeito do conteúdo: como é possível uma socialização pura?<br />

Ela contêm a chave para responder de forma espaço-temporal à questão<br />

kantiana sobre as condições de possibilidade de uma ciência pura da<br />

natureza. Esta questão, que Kant entendia em sentido idealista, pode-se<br />

traduzir em sentido marxiano: como é possível um conhecimento fidedigno<br />

da natureza de outras fontes que o trabalho <strong>manual</strong>? Colocada desta<br />

forma, a questão tem em vista o ponto de origem da separação entre<br />

trabalho intelectual e corporal como condição socialmente necessária do<br />

modo de produção capitalista. - Os corolários à colocação da questão<br />

devem elucidar a conexão sistemática, pela qual a análise ampliada das<br />

formas da abstração mercadoria (aqui empreendida) serve à crítica<br />

histórico-materialista da teoria do conhecimento - em complementado à<br />

crítica marxiana da economia política. Expliquemos isso mais em detalhe.<br />

Na troca de mercadorias, ação e consciência, fazer e pensar dos atores da<br />

troca separam-se e percorrem caminhos distintos. Só a ação da troca é<br />

abstrata do uso, enquanto a consciência do ator não o é. Sua própria<br />

abstração confere a todas as ações de troca (independentemente do<br />

conteúdo, do tempo, do lugar onde se executam) uma uniformidade formal<br />

rigorosa, em força da qual elas formam a partir de si mesmas uma<br />

concatenação, de maneira que cada transação exerce inumeráveis<br />

repercussões sobre a conclusão de outras transações por parte de<br />

possuidores desconhecidos de mercadorias. De tal maneira, resulta um<br />

entrelaçamento dos homens "por trás de suas costas" para uma conexão<br />

existencial que se regula segundo funções da unidade - conexão na qual<br />

também a produção e o consumo ocorrem de acordo com as normas das<br />

mercadorias. Mas não são os homens que realizam isso, não são eles que<br />

dão origem a esta conexão, e sim suas ações o fazem, enquanto eles vão<br />

selecionando uma mercadoria das outras como o portador e o "cristal" de<br />

sua abstração e se referem a esse como ao idêntico comum denominador<br />

de seus "valores". "É primeiramente dentro da troca que os produtos do<br />

trabalho recebem uma objetividade de uso separada, distinta fisicamente

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