Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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meçam quantitativamente, e sim porque sua relação concreta de medida<br />
está rasgada. Tampouco subsiste a equação entre produção e consumo<br />
diretamente, mas sim como relação de troca pelo valor, no qual elas têm<br />
determinação quantitativa, mas como qualidade abstrata, não relacionada.<br />
Contra os consumidores exploradores atua a equação de modo que todo<br />
valor apropriável deve ser gerado pelo trabalho, é valor de trabalho<br />
quantitativamente igual; contra os produtores explorados opera a equação<br />
de modo que seu produto só tem valor na medida em que ele lhes facilita o<br />
consumo. Ambas as equações são desligadas entre si, embora a vida da<br />
sociedade depende de que elas no fim sejam reciprocamente congruentes.<br />
Mas sobre isso decide só o fato, cego perante o resultado. Na troca dos<br />
valores como mercadorias, entendida em nosso sentido, portanto entre<br />
exploradores, a relação de igualamento do valor da produção e do consumo<br />
alcança a forma reflexa da equivalência. A equivalência pressupõe,<br />
segundo o enfoque aqui defendido, que cada um dos que trocam obtém<br />
suas mercadorias de uma relação de exploração. A equivalência é um<br />
postulado, o postulado da congruência cruzada da equação de produção e<br />
consumo de ambas as mercadorias. Na relação de equivalência de duas<br />
mercadorias tomam parte quatro instâncias humanas, os dois exploradores<br />
que trocam e os produtores explorados de cada uma, e as relações das<br />
quatro instâncias encontram-se em ambas as mercadorias em relação<br />
cruzada de forma relativa e de forma equivalente de valor reciprocamente.<br />
Isso quer dizer que a equivalência das mercadorias na troca está baseada<br />
na exploração e a inclui em si como pressuposto. Ela é a expressão de sua<br />
reflexão.<br />
A praxis da apropriação (unilateral ou recíproca) não é a praxis da<br />
produção, ela é seu oposto. Na socialização conforme leis da apropriação a<br />
equação nelas postulada de produção e consumo não chega nunca à<br />
realização. A contradição no terreno da exploração não se pode anular,<br />
porque a própria exploração a gera primeiro, e renova isso em cada<br />
instante e através de cada método de apropriação. É essa dialética do<br />
fracasso constitutivo da socialização da exploração, que a empurra de um<br />
sistema de apropriação a outro, porque estes sistemas geram para si<br />
mesmos os problemas, a cuja solução eles se voltam, para assim ter que<br />
concretizar a exploração, em reflexões sempre renovadas sobre seus<br />
pressupostos, enfim até a plena identificação com a própria produção, ou<br />
seja até o capitalismo. Neste, porém, a dialética de lei do valor, a<br />
contradição de apropriação e trabalho (a qual se consumiu nas ordens<br />
anteriores de facticidade da apropriação como lei da fatalidade operando<br />
lentamente seu ocaso), assume a forma imediatamente contraditória, de<br />
que o trabalho, até mesmo ele como tal, como trabalho humano abstrato,<br />
produz a disparidade da mais valia, e a produção de mercadorias através<br />
de seu acontecer gera seu não-acontecer, a crise, a conjuntura. A forma<br />
cíclica de existência do capitalismo é de fato a existência entre ser e nada,