Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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que o produtor aqui se torne proprietário, e mesmo proprietário na forma<br />
individual, autônoma, da propriedade privada, isso depende da identificação<br />
da produção com a geração de riqueza. O artesão medieval produz seu<br />
produto como valor, valor de venda, e enquanto for valor, ele é proprietário.<br />
Em sua produção o trabalho gera valor, porque a relação feudal de<br />
exploração nele está superada e dessa maneira tornou-se ela mesma<br />
ordem de produção. [O produtor medieval ganhou a liberdade de se<br />
explorar a si mesmo.] Ele forma sua força de trabalho como maestria,<br />
porque ela lhe serve como poder de gerar valor, e assim torna a exploração<br />
base de sua própria autonomia, como o luterano de acordo com Marx torna<br />
o clero romano seu "padreco interior". [De fato, a cidade possui sua<br />
liberdade também, no começo, só como privilégio principesco e como<br />
corporação de seus burgueses tem que pagar ao príncipe os tributos<br />
feudais, que antes os súditos individuais do feudo deviam pagar in natura.]<br />
A tendência à emancipação das cidades perante os príncipes começa<br />
primeiro com a passagem a formas protocapitalistas de exploração, formas<br />
de exploração portanto, nas quais o burguês autoexplorador se desenvolve<br />
ulteriormente em explorador de outros. [O caminho vai do explorado da<br />
economia natural feudal, através do autoexplorador na produção "simples"<br />
de mercadorias da economia urbana da primeira fase, até o explorador de<br />
força de trabalho alheia no capitalismo inicial.] Nessa transformação dos<br />
explorados em exploradores cumpre-se aquela inversão decisiva para o<br />
capitalismo - da relação condicionante entre troca de mercadoria e<br />
exploração. Enquanto em todas as formas anteriores de produção de<br />
mercadorias, a troca de mercadorias era troca sobre a base e segundo as<br />
leis da exploração, dessa inversão surge uma exploração baseada e de<br />
acordo com as leis da troca de mercadorias. A exploração que daqui surge,<br />
"economicamente" condicionada, não é mais encoberta só na determinação<br />
formal, ela ocorre também ainda só nas formas da troca de mercadorias [e<br />
é portanto o fenômeno único de uma exploração de acordo com as leis<br />
paritárias da não exploração]. A explicação desse fenômeno que Marx<br />
encontrou é que, segundo as leis da propriedade privada burguesa<br />
desenvolvida, a relação entre explorador e produtor transforma-se ela<br />
mesma em relação de troca, na compra e venda da mercadoria força de<br />
trabalho. [A conexão social da troca desenrola-se como separação plena de<br />
propriedade e trabalho.] A conexão da troca abarca a sociedade em<br />
conjunto e torna-a um único sistema de apropriação. Nele o trabalhador<br />
explorado, como vendedor de sua própria força de trabalho, torna-se ele<br />
mesmo homem segundo as normas da apropriação e o trabalho se torna<br />
trabalho humano abstrato, trabalho humano em geral.xxii 54 Com a plena<br />
realização da forma mercadoria e sua coisicidade, ao mesmo tempo o seu<br />
oposto, a praxis material, torna-se humanizada, com a completude da<br />
subjetividade teorética da parte do explorador, a classe explorada torna-se<br />
sujeito prático. [Ou seja o desenvolvimento da classe capitalista e o