Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual
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na forma de valor relativa a ela. "Uma mercadoria, o linho [respectivamente<br />
o ouro - S.-R.], encontra-se na forma de permutabilidade imediata com<br />
todas as outras mercadorias ou em forma imediatamente social, porque e<br />
enquanto todas as outras mercadorias não se encontram nela."43 No<br />
dinheiro aparece o caráter social da troca de mercadorias.<br />
Cereais podem servir para a alimentação de homens como de animais,<br />
ouro pode significar dinheiro só para homens. No dinheiro o carretar<br />
humano é distinto do natural dos seres vivos, a conexão social entre<br />
homens está caracterizada como oposto ao processo de metabolismo<br />
material com a natureza na produção e no consumo. O dinheiro vale só<br />
entre homem e homem, não entre homem e natureza, e a relação entre<br />
homem e homem tem assumido no dinheiro um carretar irredutivelmente<br />
contraditório à relação do homem com a natureza. Na entrega e recepção<br />
de dinheiro o homem não age mais como ser natural.44 Nossa afirmação<br />
chega a dizer que a formação e o nascimento do pensamento conceptual<br />
ou discursivo têm a ver com esta separação das relações sociais de<br />
equivalência das mercadorias perante o condicionamento prático material<br />
da vida.<br />
Mais adiante veremos que a formação da forma dinheiro do valor das<br />
mercadorias, portanto do dinheiro na forma de moeda, pressupõe a<br />
exploração, e até mesmo em uma forma avançada. Partindo de uma<br />
análise formal aprofundada da troca de mercadorias ganhamos o<br />
convencimento que a formação da forma dinheiro - algo assim como 680<br />
anos antes de Cristo na Iônia - pressupõe uma espécie de produção de<br />
mercadorias, na qual os possuidores de mercadorias que as trocam não<br />
têm mais nenhuma relação prática e pessoal com a produção de suas<br />
mercadorias, não põem mais mão em nenhum processo de produção.<br />
Sustentamos a hipótese, que a cunhagem da forma dinheiro deve ter estar<br />
ligada com s formação do trabalho profissional escravo. Com o dinheiro<br />
teriam sido portanto primeiro comprados escravos,x que teriam tido que<br />
produzir produtos para o mercado, ou seja mercadorias. O escravo é um<br />
objeto de uso, que tem a característica inata de estar lá para o trabalho.<br />
Onde se desenvolve a produção com trabalho escravo, a relação do<br />
possuidor de dinheiro-mercadorias à produção é mediada por puras<br />
relações de troca.<br />
Esta forma de mediação da produção condiciona uma reflexão teorética<br />
separadamente da praxis à qual ela se refere. O processo de produção<br />
deve ser reconstruído no pensamento como conexão em si concludente, a<br />
fim de que a sua praxis se possa organizar de forma correspondente à<br />
finalidade, ou seja como produção de um valor socialmente válido. A<br />
racionalidade da produção está fora dela, na esfera puramente social, na<br />
qual os produtos possuem valor e o ouro significa dinheiro; em sua praxis, a<br />
produção não tem racionalidade nenhuma, nem para o escravo que