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Sohn-Rethel - Trabalho manual e espiritual

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abstração é a atividade própria e o privilégio exclusivo do pensamento.<br />

Falar em abstração em um sentido distinto da abstração do pensamento<br />

passa por inadmissível, mesmo em se empregando a palavra só em sentido<br />

metafórico. Mas com base em tal concepção, o postulado do materialismo<br />

histórico não pode ser levado adiante. Se o processo de formação da<br />

consciência, ou seja a abstração, for assunto exclusivo da própria<br />

consciência, então permanece um abismo entre a forma da consciência por<br />

um lado, e sua suposta determinação pelo ser, por outro lado, abismo que o<br />

materialista histórico desmente em princípio, mas de cuja ultrapassagem<br />

ele concretamente não pode dar conta satisfatoriamente.<br />

Com certeza deve-se pensar que a própria tradição teorética é um produto<br />

da separação entre trabalho da cabeça e das mãos e foi desde seu começo<br />

com Pitágoras, Heráclito e Parmênides uma tradição de trabalhadores<br />

intelectuais para trabalhadores intelectuais, e nisso pouco mudou até hoje.<br />

O testemunho desta tradição, mesmo se representado em unanimidade<br />

ininterrupta, não tem portanto nenhum valor incontestável para um ponto de<br />

vista intelectual, que se situa na outra margem. E nós atribuímos à análise<br />

marxiana da mercadoria no começo de O capital e já no texto Para a crítica<br />

da economia política de 1859 uma significação sem par para o pensamento<br />

materialista, baseados em que o discurso é sobre uma abstração em um<br />

sentido distinto daquele de abstração do pensamento.<br />

3. A abstração mercadoria (p.11-16)<br />

No contexto de sua análise da forma mercadoria, Marx fala em "abstração<br />

mercadoria" e em "abstração valor". A forma mercadoria (Warenform) é<br />

abstrata, e a abstração domina em todo o seu circuito. Em primeiro lugar, o<br />

próprio valor de troca é ele mesmo valor abstrato, em contraposição ao<br />

valor de uso das mercadorias. Somente o valor de troca é passível de<br />

diferenciação quantitativa, e a quantificação que aqui se apresenta é, por<br />

sua vez, de natureza abstrata em comparação com a determinação<br />

quantitativa de valores de uso. O próprio trabalho, como Marx sublinha com<br />

particular ênfase, torna-se fundamento da determinação da grandeza do<br />

valor e substância do valor somente enquanto "trabalho humano abstrato",<br />

trabalho humano como tal tout court. A forma em que aparece<br />

sensivelmente o valor da mercadoria, ou seja o dinheiro (quer como moeda,<br />

quer como bilhete) é riqueza abstrata, à qual já não se colocam mais<br />

limites. Como possuidor de tal riqueza o próprio homem torna-se homem<br />

abstrato, sua individualidade torna-se a essência abstrata do proprietário<br />

privado. Enfim, uma sociedade, na qual a circulação de mercadorias forma<br />

o nexo das coisas, é uma conexão puramente abstrata, na qual todo<br />

concreto se encontra em mãos privadas.

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