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ARTiSTAS CATARinEnSES diLuEM fROnTEiRAS, TRAnSfORMAM ...

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Um projeto de Tamara Willerding, Espaço Contramão<br />

transforma casas em espaços de arte. “Curadoresresidentes”<br />

foram convidados a ceder o lar, em<br />

substituição às galerias. Realizaram, então, uma seleção<br />

de trabalhos que a artista Adriana Barreto, uma das<br />

participantes, chama de “curadoria afetiva”. A primeira<br />

curadora-residente foi Tamara, que hospedou em sua<br />

casa obras das colegas Adriana Barreto, Bruna Mansani<br />

e Sandra Checluski. As primeiras exposições foram<br />

combinadas e divulgadas boca a boca, em um clima de<br />

absoluta informalidade, tal qual um cafezinho na cozinha,<br />

aproximando assim a arte da vida.<br />

Na sexta edição do Contramão, denominada Fogos<br />

de Artifício e realizada no ano de 2006 na casa<br />

de Julia Amaral, amiga de Aline, a proposta era<br />

convidar amigos para expor trabalhos tão sutis que<br />

se misturassem aos objetos da casa e simplesmente<br />

desaparecessem como obras de arte. Eles criam o que<br />

chamam de uma “arte invisível”. Arte tão sutil a ponto<br />

de a faxina que Aline fez na residência da amiga<br />

horas antes da abertura da exposição se tornar, ela<br />

também, uma performance artística, simplesmente<br />

porque deixou suas marcas no ambiente.<br />

Conta Julia que foi uma “puta festa”, com a presença de<br />

cerca de 120 convidados, que circularam entre uma arte<br />

que, à primeira vista, não se deixa ver. De tempos em<br />

tempos, a dona da casa dava “blecautes”: apagava todas<br />

as luzes para que pudessem ver as moscas pintadas nas<br />

paredes com tinta fosforescente pela artista Adriana<br />

Barreto. No fim da festa, Julia descobriu que o símbolo<br />

do projeto, uma placa de trânsito fincada na entrada da<br />

casa, havia sumido. Doada por um amigo de Tamara que<br />

trabalha no Detran, ela foi simplesmente retirada por<br />

um vizinho desavisado, que a confundiu com uma placa<br />

comum – que, de fato, era.<br />

Aline ajuda a amiga Julia caçando os insetos que ela usa<br />

em seus trabalhos de fundição. Os três cães de Julia e seus<br />

próprios gatos a auxiliam nessa empreitada. A insólita<br />

cena aparece em um tríptico de fotografias sem título<br />

já exibido por Julia na Galeria Pedro Paulo Vecchietti e<br />

na exposição Impremeditações, realizada no Memorial<br />

Meyer Filho, ambos em Florianópolis. Um vídeo que nos<br />

ajuda a ver a arte invisível.<br />

Raquel Stolf também participou de edições do<br />

Contramão. Mantém caderninhos que, a qualquer<br />

momento, podem ser expostos: seu processo de criação<br />

é a própria obra. Guia-se pelo acaso, como quando<br />

um grilo entrou em seu quarto e, ato contínuo, foi<br />

incorporado a seu trabalho. Raquel gravou o cricrilar<br />

do inseto e depois reproduziu a gravação em carros de<br />

som, que circulavam pela cidade nos fins de tarde e à<br />

noite, confundindo os moradores. A fita chegou a Belém,<br />

onde a performance foi registrada em um vídeo. Nele,<br />

conhecemos Bacalhau, o responsável pela execução do<br />

som dos insetos na capital paraense.<br />

Em vez de carro de som, porém, Bacalhau usa uma<br />

bicicleta sonorizada. Uma coisa leva a outra. O vídeo, que<br />

a princípio era um simples registro de sua performance,<br />

foi parar na Fiat Mostra Brasil 2006, na qual Raquel<br />

expôs três bicicletas sonorizadas, disponíveis para quem<br />

desejasse pedalá-las. Os trabalhos da artista não são<br />

objetos fechados, mas objetos soltos no mundo, que<br />

estão sempre a gerar novos trabalhos.<br />

Com o abandono das técnicas clássicas das artes plásticas,<br />

os artistas não precisam mais de um lugar específico para<br />

trabalhar. Diego Rayck desenha não só em seus cadernos,<br />

mas nas paredes das galerias, como na série de desenhos<br />

Buracos, na qual retrata esburacamentos e escavações<br />

ficcionais. Sempre com o mesmo entusiasmo pelo<br />

desconforto provocado pelos falsos buracos, repetiu a<br />

experiência em outros ambientes. Ele é autor ainda de<br />

estranhos “homens paredes” – homens de gesso que<br />

emergem das paredes, como se estivessem presos a elas.<br />

Estudante de artes visuais, Priscilla Menezes tem<br />

um “ateliê” que não usa. Antigo laboratório da mãe,<br />

patologista, nele guarda seus trabalhos, além de materiais<br />

diversos, como conchas de praias da Grécia, penas, folhas<br />

Casa-movente, montada sobre rodas:<br />

combinação impossível de nomadismo e sedentarismo.<br />

Foto: Fernanda Kock<br />

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