Documento Sobre as Questos de VCM e Ligacao ... - UN Women

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14.04.2013 Views

Antecedentes DOCUMENTO SOBRE AS QUESTÕES de VCM E LIGAÇÃO COM O HIV Como parte de seu programa global sobre o Orçamentação na Optica de Género (OOG), desde 2000 o UNIFEM tem vindo a colaborar estreitamente com o Governo de Moçambique e organizações de mulheres para promover as metodologias de OOG na planificação nacional e em processos de alocação de recursos. A primeira fase centrou-se sobre o aumento da consciência quanto ao OOG (i.e. identificação de questões cruciais para a advocacia sobre o OOG e capacitação institucional). A segunda fase, que começou em 2005, dá enfoque à promoção das metodologias do OOG, bem como do desenvolvimento das ferramentas e modelos replicáveis. O programa envolve o Governo e as organizações da sociedade civil. Os intervenientes chave e líderes do processo do OOG são o Ministério de Planificação e Desenvolvimento (MPD), o Ministério das Finanças (MINF), o Ministério da Mulher e Acção Social (MMAS), o Conselho Nacional para o Avanço de Mulher (CNAM), o Ministério do Interior (MINT), o Ministério da Saúde (MISAU), a Fórum Mulher e o Grupo Moçambicano da Dívida. Em consulta com o Governo e a sociedade civil foi acordado seleccionar algumas prioridades nacionais como questões chave a volta das quais as experiências do GRB podem ser monitoradas. Foi alcançado consenso para focalizar na VBG ou melhor VG (Violência contra a Mulheres), mortalidade materna e HIV/SIDA. Por conseguinte, foram seleccionados o MINT e o MISAU como sectores pilotos. Durante a implementação do programa, o pessoal sénior do MISAU levantou uma preocupação de que enquanto a VCM é aceite como uma questão de saúde, na prática muitas vezes não são enfatizadas as dimensões de género. 1 (vale a pena inserir uma nota de rodapé explicando em poucas palavrasa diferença entre uma questão de saúde e uma questão de género). Há, portanto, um risco real de que a política oficial e as intervenções do MISAU abordam inadequadamente as dimensões de género subjacentes de VCM e suas consequências sobre a saúde pública. De igual modo, o Departamento da Mulher e Criança na polícia informa que a violência é muitas vezes compreendida como sendo consequência da pobreza e privação do que um resultado de valores patriarcais e desigualdade de género subjacentes. Por estas razões, foi comissionado um Documento sobre as questões que devem delinear as dimensões de género da VCM Violência Contra a Mulher em relação à saúde pública, mortalidade materna e HIV/SIDA, bem como as medidas para serviços sensíveis ao género oferecidos por agentes da polícia nos Gabinetes de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica localizados nas esquadras da polícia. Talves seria interessante apresentar uma pagina com conceitos. Em algum momento falamos da Violência contra a Mulher (linguagem feminista) e noutros momentos de Violência Baseada no Género. Temos de procurar trazer clareza de conceitos para as pessoas perceberem o resto. Os objectivos deste documento são: 1 Isto é, muitas vezes a questão da violência é considerado pelos trabalhadores de saúde como um simples fenomeno causado por actos violentes sem questionar a origem social e cultural deste comportamento; enfatizando as consequências físicas corre-se o risco de apenas tratar as lesões e as feridas, sem considerar os outros efeitos que a violência traz e que afectam a vítima. 1

Antece<strong>de</strong>ntes<br />

DOCUMENTO SOBRE AS QUESTÕES <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> E LIGAÇÃO COM O HIV<br />

Como parte <strong>de</strong> seu programa global sobre o Orçamentação na Optica <strong>de</strong> Género (OOG), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000<br />

o <strong>UN</strong>IFEM tem vindo a colaborar estreitamente com o Governo <strong>de</strong> Moçambique e organizações <strong>de</strong><br />

mulheres para promover <strong>as</strong> metodologi<strong>as</strong> <strong>de</strong> OOG na planificação nacional e em processos <strong>de</strong><br />

alocação <strong>de</strong> recursos. A primeira f<strong>as</strong>e centrou-se sobre o aumento da consciência quanto ao OOG<br />

(i.e. i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> questões cruciais para a advocacia sobre o OOG e capacitação institucional). A<br />

segunda f<strong>as</strong>e, que começou em 2005, dá enfoque à promoção d<strong>as</strong> metodologi<strong>as</strong> do OOG, bem como<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento d<strong>as</strong> ferrament<strong>as</strong> e mo<strong>de</strong>los replicáveis.<br />

O programa envolve o Governo e <strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil. Os intervenientes chave e<br />

lí<strong>de</strong>res do processo do OOG são o Ministério <strong>de</strong> Planificação e Desenvolvimento (MPD), o<br />

Ministério d<strong>as</strong> Finanç<strong>as</strong> (MINF), o Ministério da Mulher e Acção Social (MMAS), o Conselho<br />

Nacional para o Avanço <strong>de</strong> Mulher (CNAM), o Ministério do Interior (MINT), o Ministério da<br />

Saú<strong>de</strong> (MISAU), a Fórum Mulher e o Grupo Moçambicano da Dívida. Em consulta com o Governo<br />

e a socieda<strong>de</strong> civil foi acordado seleccionar algum<strong>as</strong> priorida<strong>de</strong>s nacionais como questões chave a<br />

volta d<strong>as</strong> quais <strong>as</strong> experiênci<strong>as</strong> do GRB po<strong>de</strong>m ser monitorad<strong>as</strong>. Foi alcançado consenso para<br />

focalizar na VBG ou melhor VG (Violência contra a Mulheres), mortalida<strong>de</strong> materna e HIV/SIDA.<br />

Por conseguinte, foram seleccionados o MINT e o MISAU como sectores pilotos.<br />

Durante a implementação do programa, o pessoal sénior do MISAU levantou uma preocupação <strong>de</strong><br />

que enquanto a <strong>VCM</strong> é aceite como uma questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na prática muit<strong>as</strong> vezes não são<br />

enfatizad<strong>as</strong> <strong>as</strong> dimensões <strong>de</strong> género. 1<br />

(vale a pena inserir uma nota <strong>de</strong> rodapé explicando em pouc<strong>as</strong><br />

palavr<strong>as</strong>a diferença entre uma questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e uma questão <strong>de</strong> género). Há, portanto, um risco<br />

real <strong>de</strong> que a política oficial e <strong>as</strong> intervenções do MISAU abordam ina<strong>de</strong>quadamente <strong>as</strong> dimensões<br />

<strong>de</strong> género subjacentes <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> e su<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> sobre a saú<strong>de</strong> pública. De igual modo, o<br />

Departamento da Mulher e Criança na polícia informa que a violência é muit<strong>as</strong> vezes compreendida<br />

como sendo consequência da pobreza e privação do que um resultado <strong>de</strong> valores patriarcais e<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género subjacentes.<br />

Por est<strong>as</strong> razões, foi comissionado um <strong>Documento</strong> sobre <strong>as</strong> questões que <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>linear <strong>as</strong><br />

dimensões <strong>de</strong> género da <strong>VCM</strong> Violência Contra a Mulher em relação à saú<strong>de</strong> pública, mortalida<strong>de</strong><br />

materna e HIV/SIDA, bem como <strong>as</strong> medid<strong>as</strong> para serviços sensíveis ao género oferecidos por<br />

agentes da polícia nos Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento às Vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> Violência Doméstica localizados<br />

n<strong>as</strong> esquadr<strong>as</strong> da polícia.<br />

Talves seria interessante apresentar uma pagina com conceitos. Em algum momento falamos da<br />

Violência contra a Mulher (linguagem feminista) e noutros momentos <strong>de</strong> Violência B<strong>as</strong>eada no<br />

Género. Temos <strong>de</strong> procurar trazer clareza <strong>de</strong> conceitos para <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> perceberem o resto.<br />

Os objectivos <strong>de</strong>ste documento são:<br />

1 Isto é, muit<strong>as</strong> vezes a questão da violência é consi<strong>de</strong>rado pelos trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> como um simples fenomeno<br />

causado por actos violentes sem questionar a origem social e cultural <strong>de</strong>ste comportamento; enfatizando <strong>as</strong><br />

consequênci<strong>as</strong> físic<strong>as</strong> corre-se o risco <strong>de</strong> apen<strong>as</strong> tratar <strong>as</strong> lesões e <strong>as</strong> ferid<strong>as</strong>, sem consi<strong>de</strong>rar os outros efeitos que a<br />

violência traz e que afectam a vítima.<br />

1


- Mostrar <strong>as</strong> ligações existentes entre a <strong>VCM</strong> e o sector <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública; <strong>de</strong>monstrando <strong>as</strong>sim<br />

claramente que a <strong>VCM</strong> é uma questão <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública e que respost<strong>as</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública<br />

a<strong>de</strong>quad<strong>as</strong> a <strong>VCM</strong> exigirão atenção às questões <strong>de</strong> género subjacentes;<br />

- I<strong>de</strong>ntificar algum<strong>as</strong> intervenções que o MISAU e os trabalhadores da saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m fazer,<br />

particularmente aquel<strong>as</strong> que po<strong>de</strong>m ser realizad<strong>as</strong> em colaboração com o MINT para<br />

fortalecer a estratégia tripla (criação <strong>de</strong> instrumentos legais para a prevenção e combate da<br />

<strong>VCM</strong>, fortalecimento e melhoramento <strong>de</strong> serviços para <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong>, <strong>de</strong>safio aos preconceitos<br />

sociais incluindo a reabilitação d<strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência);<br />

- Criar maior clareza e consciência sobre algum<strong>as</strong> dimensões <strong>de</strong> género fundamentais da <strong>VCM</strong><br />

em relação a intervenções pelo sector público (saú<strong>de</strong> e polícia) - e <strong>de</strong>sta forma po<strong>de</strong>rá ser um<br />

primeiro p<strong>as</strong>so para a advocacia da inclusão <strong>de</strong> medid<strong>as</strong> sensíveis ao género nos processos<br />

<strong>de</strong> planificação sectorial e na alocação <strong>de</strong> recursos.<br />

- Fortalecer os mecanismos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação intersectorial tais como os Memorandos <strong>de</strong><br />

Entendimento entre MMAS e outros intervenientes e provedores <strong>de</strong> serviços às vitim<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

violência.<br />

<strong>VCM</strong> no contexto Moçambicano<br />

A <strong>VCM</strong> é um problema universal. De acordo com a OMS, pelo menos uma em cada três mulheres<br />

no mundo já foram batid<strong>as</strong>, foram coagid<strong>as</strong> a praticar sexo, ou mesmo abusad<strong>as</strong> na sua vida. Um<br />

relatório do Banco Mundial estimou que a nível mundial a violência contra <strong>as</strong> mulheres era tanto<br />

uma causa séria <strong>de</strong> morte e incapacida<strong>de</strong> entre <strong>as</strong> mulheres <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> reprodutiva quanto era o cancro,<br />

e era também uma maior causa <strong>de</strong> doença que os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> viação e malária juntos. A violência<br />

sexual, uma forma específica <strong>de</strong> violência contra <strong>as</strong> mulheres, está a emergir como uma priorida<strong>de</strong><br />

global para a saú<strong>de</strong>. As estatístic<strong>as</strong> sugerem que também está difundido ao longo da região da<br />

SADC, incluindo Moçambique. 2<br />

Em Moçambique, um estudo recente mostrou que 54% d<strong>as</strong> mulheres inquirid<strong>as</strong> tinham<br />

3<br />

experimentado violência física ou sexual na sua vida. Estes números são consistentes com os<br />

números produzidos pelo MINT que mostram que a violência está a aumentar. 4<br />

Neste momento, o<br />

MINT possui 184 Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento às Vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> Violência Doméstica (daqui em diante<br />

<strong>de</strong>signados por: Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento) que registam um aumento fixo no número <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os <strong>de</strong><br />

violência contra mulheres ao longo dos últimos anos.<br />

2<br />

OMS, O primeiro P<strong>as</strong>so para uma Resposta <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública contra a Violência Sexual em Moçambique, (Maputo,<br />

2006, p15.<br />

3<br />

MMAS, Pesquisa sobre a Violência contra <strong>as</strong> Mulheres, 2004 (<strong>UN</strong>ICEF, PNUD, OMS & <strong>UN</strong>FPA). Um total <strong>de</strong> 1927<br />

mulheres foram inquirid<strong>as</strong> na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo, Provínci<strong>as</strong> <strong>de</strong> Nampula, Zambézia, Manica e Sofala. A pesquisa era<br />

parte do Projecto da Pesquisa Internacional <strong>de</strong> Violência contra <strong>as</strong> Mulheres.<br />

4<br />

Também regista-se um aumento no numéro <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violência reportados por homens, m<strong>as</strong> na prática muitos<br />

agentes dos Gabinetes indicam que embora existem poucos c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violência perpetrada pel<strong>as</strong> parceir<strong>as</strong>/mulheres<br />

contra homens, esta subida tem mais à ver com uma outra tendência ou seja o maior numéro <strong>de</strong> homens que vêm<br />

queixar-se na esquadra solicitando o apoio da policia para “trazer” a esposa que abandonou o lar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter levada<br />

porrada ou abuso. Comando Geral da Polícia, Departamento da Mulher e Criança.<br />

2


Numéro <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> registados nos Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento<br />

# <strong>de</strong> c<strong>as</strong>os registados 2004 2005 2006<br />

Homens 1131 2059 2416<br />

Mulheres 6440 6648 8268<br />

Crianç<strong>as</strong> 1512 1144 1673<br />

Total 9083 10684 12357<br />

Fonte: MINT, Comando Geral da Polícia, Departamento da Mulher e Criança (2007)<br />

Enquanto este aumento estatístico po<strong>de</strong>rá ser em parte <strong>de</strong>vido ao aumento da cobertura geográfica<br />

dos Gabinetes Atendimento, está claro que para a maioria d<strong>as</strong> mulheres em Moçambique a violência<br />

é uma parte da sua vida quotidiana e uma parte da realida<strong>de</strong> presente em que el<strong>as</strong> vivem. A pesquisa<br />

mostra que um quinto d<strong>as</strong> mulheres vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência tinha experimentado ataques <strong>de</strong> violência<br />

no ano transacto. 5<br />

A <strong>VCM</strong> afecta <strong>as</strong> mulheres em todos os lugares, sem se importar se el<strong>as</strong> vivem em áre<strong>as</strong> urban<strong>as</strong> ou<br />

rurais, sem olhar para os níveis <strong>de</strong> educação e situação <strong>de</strong> emprego. Existem alguns factores que<br />

parecem sugerir uma maior vulnerabilida<strong>de</strong> à violência: por exemplo, a violência é mais comum<br />

entre <strong>as</strong> mulheres c<strong>as</strong>ad<strong>as</strong>; está <strong>as</strong>sociada com o ciúme m<strong>as</strong>culino, suspeita <strong>de</strong> infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e<br />

comportamento <strong>de</strong> controlo; surpreen<strong>de</strong>ntemente, também aparece com frequência entre mulheres<br />

6<br />

com níveis baixos <strong>de</strong> renda m<strong>as</strong> que têm palavra sobre como g<strong>as</strong>tar a sua própria renda.<br />

A <strong>VCM</strong> é uma questão b<strong>as</strong>tante complexa que é amoldada por uma imensidão <strong>de</strong> factores. A<br />

pesquisa mostra que não há nenhum único factor responsável pela violência praticada contra <strong>as</strong><br />

mulheres, m<strong>as</strong> que há muitos elementos que po<strong>de</strong>m provocar, legitimar ou perpetuar a violência<br />

7<br />

contra <strong>as</strong> mulheres. Estudos sublinham que a causa <strong>de</strong> raiz na violência doméstica resi<strong>de</strong> n<strong>as</strong><br />

relações <strong>de</strong>siguais que existem entre os homens e <strong>as</strong> mulheres e a estrutura patriarcal da socieda<strong>de</strong>.<br />

Por outr<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>, a violência contra <strong>as</strong> mulheres é uma consequência directa d<strong>as</strong> relações <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>siguais entre os homens e <strong>as</strong> mulheres, legitimando a subordinação em todos os <strong>as</strong>pectos da<br />

vida. Por exemplo, comparativamente aos homens, <strong>as</strong> mulheres têm acesso e controlo limitado aos<br />

recursos económicos, tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão limitada, tanto <strong>de</strong>ntro da c<strong>as</strong>a como na vida pública,<br />

controlo limitado sobre o seu próprio corpo, menos acesso à educação, etc. Est<strong>as</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s<br />

resultam n<strong>as</strong> violações dos direitos humanos d<strong>as</strong> mulheres. Este ponto <strong>de</strong> vista foi também adoptado<br />

pel<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong>: “a violência contra <strong>as</strong> mulheres é uma manifestação <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

historicamente <strong>de</strong>siguais entre os homens e <strong>as</strong> mulheres <strong>as</strong> quais conduziram à dominação e<br />

discriminação contra <strong>as</strong> mulheres pelos homens e para impedir o avanço total d<strong>as</strong> mulheres [...]” 8<br />

5<br />

MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, tabela 5.<br />

6<br />

MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.<br />

7<br />

Innocenti Digest (<strong>UN</strong>ICEF), Violência Doméstica contr<strong>as</strong> <strong>as</strong> Mulheres e Raparig<strong>as</strong>, Número 6, Julho <strong>de</strong> 2000, p.7.<br />

Estes factores são muito variados e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> conjunto específicos <strong>de</strong> circunstanci<strong>as</strong> <strong>de</strong> cada socieda<strong>de</strong>, m<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m<br />

incluir a composição familiar, o medo da sexualida<strong>de</strong> feminina, religião, legislação, mudanç<strong>as</strong> no estado económico,<br />

prestígio, etc. A OMS também usa um quadro que analisa <strong>as</strong> causa da violência contra <strong>as</strong> mulheres em quatro níveis,<br />

nomeadamente individual, relacionamento, factor comunida<strong>de</strong> e influênci<strong>as</strong> sociais/culturais. Ver OMS, O Primeiro<br />

P<strong>as</strong>so, p25-26.<br />

8<br />

Declaração d<strong>as</strong> Nações Unid<strong>as</strong> sobre a Eliminação da Violência contra <strong>as</strong> Mulheres, Resolução da Assembleia Geral,<br />

Dezembro <strong>de</strong> 1993.<br />

3


Apesar <strong>de</strong>ste reconhecimento explícito da relação causal entre a <strong>VCM</strong> e os valores patriarcais que<br />

permeia a socieda<strong>de</strong>, a violência perpetrada contra <strong>as</strong> mulheres é predominantemente vista como um<br />

<strong>as</strong>sunto privado e isto impe<strong>de</strong> que muit<strong>as</strong> mulheres reportem actos <strong>de</strong> violência e <strong>as</strong> impe<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

procurar a ajuda externa. A pesquisa da <strong>VCM</strong> <strong>de</strong>scobriu que somente 10% <strong>de</strong> todos os c<strong>as</strong>os <strong>de</strong><br />

violência reportados no estudo foram reportados junto à polícia e entre aqueles que não foram<br />

reportados à polícia, mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> procuraram ajuda <strong>de</strong> parentes (57%). Apen<strong>as</strong> 36% procuraram<br />

ajuda <strong>de</strong> uma agência profissional (36%) 9<br />

.<br />

O facto <strong>de</strong> que a violência doméstica é ainda tratada principalmente como um <strong>as</strong>sunto privado que<br />

está, em parte, relacionado ao facto <strong>de</strong> que frequentemente o perpetrador é alguém que é conhecido<br />

10<br />

pela vítima, tal como um parente, amigo íntimo ou vizinho. Neste c<strong>as</strong>o, a violência ocorre no<br />

contexto <strong>de</strong> uma relação íntima que é normalmente resolvida pelos próprios cônjuges ou a família<br />

alargada. A Pesquisa da <strong>VCM</strong> <strong>de</strong>scobriu que <strong>as</strong> ofens<strong>as</strong> perpetrad<strong>as</strong> por não parceiros são mais que<br />

du<strong>as</strong> vezes prováveis <strong>de</strong> serem reportad<strong>as</strong> do que <strong>as</strong> ofens<strong>as</strong> cometid<strong>as</strong> pelo parceiro da vítima. 11<br />

As razões mais comuns por não informar são que “ela lidou com isto sozinha ou através da família<br />

alargada” (47%), ou consi<strong>de</strong>rando isto como “não sério” (15%) junto com um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> manter o<br />

12<br />

<strong>as</strong>sunto privado (9%), e medo <strong>de</strong> represáli<strong>as</strong> pelo perpetrador (11%). Est<strong>as</strong> constatações<br />

claramente sublinham a natureza privada percebida da violência contra <strong>as</strong> mulheres. Claro que<br />

muit<strong>as</strong> famíli<strong>as</strong> preferem solucionar os c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violência através <strong>de</strong> sistem<strong>as</strong> <strong>de</strong> justiça<br />

costumeiros, particularmente n<strong>as</strong> comunida<strong>de</strong>s rurais. Outra pesquisa constatou que no geral <strong>as</strong><br />

mulheres não contestam o direito m<strong>as</strong>culino <strong>de</strong> c<strong>as</strong>tigar a cônjuge ou parceira, respon<strong>de</strong>ndo <strong>as</strong>sim ao<br />

facto <strong>de</strong> que pouc<strong>as</strong> mulheres reportam c<strong>as</strong>os ou consi<strong>de</strong>ram a violência “séria”, m<strong>as</strong> que <strong>as</strong><br />

mulheres reportam a violência que consi<strong>de</strong>ram injusta ou infundada. 13<br />

A pesquisa <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> também <strong>de</strong>scobriu que a maioria dos parceiros íntimos (70%) que são violentos<br />

contra mulheres nunca estiveram a cont<strong>as</strong> com a polícia como consequência do seu violento<br />

comportamento fora da c<strong>as</strong>a que sugere que estes homens não são violentos excepto com os seus<br />

parceiros do sexo feminino: “parece, portanto, que a violência contra <strong>as</strong> mulheres é um tipo muito<br />

específico <strong>de</strong> violência, relacionado com o domínio m<strong>as</strong>culino e valores patriarcais, bem como a<br />

14<br />

funções <strong>de</strong> género e expectativ<strong>as</strong>.”<br />

O facto da violência contra <strong>as</strong> mulheres não estar relacionada com a violência fora da c<strong>as</strong>a também<br />

explica por que atitu<strong>de</strong>s sociais ten<strong>de</strong>m a culpar <strong>as</strong> mulheres e <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> jovens que são<br />

consi<strong>de</strong>rad<strong>as</strong> provocador<strong>as</strong> da agressão ou “serem mal comportad<strong>as</strong>.” Isto reforça a noção popular<br />

<strong>de</strong> que violência é o produto <strong>de</strong> indivíduos irresponsáveis que são vistos como c<strong>as</strong>os sociais. Esta<br />

percepção também é extensivamente radiodifundida pel<strong>as</strong> media que ten<strong>de</strong>m a informar <strong>de</strong> uma<br />

perspectiva sensacionalista, realçando os c<strong>as</strong>os mais horrendos que conduzem a resultados extremos<br />

como a morte <strong>de</strong> cônjuge. A violência sexual em particular é vista como resultado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo sexual<br />

9 MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.11<br />

10 Artur, Maria José & Mejia, Margarita, Coragem e Impunida<strong>de</strong>: Denúncia e tratamento da violência doméstica contra<br />

<strong>as</strong> mulheres em Moçambique (Maputo, 2006), p. 76, Tabela 10.<br />

11 MMAS, Pesquisa <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.11. O estudo afirma que 17% d<strong>as</strong> ofens<strong>as</strong> perpetrad<strong>as</strong> por não parceiros são<br />

reportad<strong>as</strong>, comparado com apen<strong>as</strong> 7% <strong>de</strong> ofens<strong>as</strong> perpetrad<strong>as</strong> por parceiros.<br />

12 MMAS, Pesquisa da <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.11<br />

13 Artur, Maria José & Mejia, Margarita, Coragem e Impunida<strong>de</strong>: Denúncia e tratamento da violência doméstica contra<br />

<strong>as</strong> mulheres em Moçambique (Maputo, 2006), p. 107-129.<br />

14 MMAS, Inquérito <strong>VCM</strong> 2004, 2.4.10<br />

4


m<strong>as</strong>culino. A violência é atribuída <strong>as</strong>sim ou a um <strong>de</strong>sejo natural ou a uma paixão incontrolável,<br />

frequentemente supostamente provocada pel<strong>as</strong> mulheres. 15<br />

Ao <strong>de</strong>sviar a atenção d<strong>as</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r subjacentes que estão na origem da violência contra <strong>as</strong><br />

mulheres, retratando violência como c<strong>as</strong>os sociais, ofusca a natureza estrutural <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> (i.e. o facto<br />

que a origina é legitimado e perpetuada por valores patriarcais que são presentes em todos os<br />

<strong>as</strong>pectos da vida pública e privada).<br />

Resposta nacional à <strong>VCM</strong><br />

O Governo <strong>de</strong> Moçambique reconhece a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género como um <strong>as</strong>pecto fundamental <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento social e económico. Por exemplo, vários processos fundamentais <strong>de</strong> planeamento e<br />

documentos <strong>de</strong> polític<strong>as</strong> reconhecem explicitamente a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género como um tema<br />

transversal que <strong>de</strong>veria ser abordado sistematicamente pelos sectores do governo. Os objectivos <strong>de</strong><br />

igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género estão incluídos no PARPA II, Programa Quinquenal 2005-2009, PES 2007, e<br />

Objectivos <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milénio (2000). A Política Nacional <strong>de</strong> Género e Estratégia <strong>de</strong><br />

Implementação e o Plano Nacional para o Avanço da Mulher foram aprovados pelo Conselho <strong>de</strong><br />

Ministros em Março <strong>de</strong> 2006 e Outubro <strong>de</strong> 2007, respectivamente. Ambos contêm medid<strong>as</strong> multisectoriais<br />

para prevenir e mitigar a violência contra <strong>as</strong> mulheres.<br />

O país é também signatário <strong>de</strong> vári<strong>as</strong> convenções e <strong>de</strong>clarações internacionais que proíbem actos <strong>de</strong><br />

violência contra mulheres, como a Declaração <strong>de</strong> Beijing e Plataforma para Acção (1995); a<br />

Convenção sobre a Eliminação <strong>de</strong> Tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> Form<strong>as</strong> <strong>de</strong> Discriminação Contra Mulheres (CEDAW)<br />

que entrou em vigor no contexto nacional em 1997; Declaração <strong>de</strong> Género dos Chefes do Estado da<br />

SADC (1998); Protocolo para a Carta Africana dos Direitos Humanos que realçam os Direitos<br />

Humanos da Mulher em África (adoptado na Cimeira da União Africana em 2003).<br />

O Governo <strong>de</strong> Moçambique reconhece que tem o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> proteger os direitos humanos d<strong>as</strong><br />

mulheres. Como a instituição do governo responsável pela promoção <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género e dos<br />

direitos da mulher, o Ministério para a Mulher e Acção Social (MMAS) tem um papel especial <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong>nar os diferentes parceiros, a socieda<strong>de</strong> governamental e civil, na luta para eliminar a<br />

violência contra <strong>as</strong> mulheres. Em 2002 o MMAS elaborou um Plano <strong>de</strong> Acção para Combater a<br />

Violência Contra <strong>as</strong> Mulheres e Crianç<strong>as</strong> (PACV) esboçando medid<strong>as</strong> fundamentais a serem<br />

implementad<strong>as</strong> pelo governo e pel<strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil. O MMAS está encabeçando<br />

uma parceria estratégica com outr<strong>as</strong> instituições do governo e a socieda<strong>de</strong> civil a fazer lobby para a<br />

adopção <strong>de</strong> uma nova lei que vai criminalizar a violência doméstica.<br />

O Ministério do Interior (MINT) está a implementar vári<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> para combater violência,<br />

incluindo a formação em direitos humanos e em direitos humanos da mulher, sensibilização para<br />

recrutar mais políci<strong>as</strong> <strong>de</strong> sexo feminino, e a criação <strong>de</strong> instalações para Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento<br />

situad<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro d<strong>as</strong> esquadr<strong>as</strong> da polícia on<strong>de</strong> <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência po<strong>de</strong>m apresentar queix<strong>as</strong><br />

contra os perpetradores. Estes Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento estão actualmente a funcionar em todos os<br />

distritos. Durante os anos <strong>de</strong> 2003-2005, o MINT juntamente com a socieda<strong>de</strong> civil, em particular a<br />

WLSA e a Oxfam-Bélgica, implementaram em 2003-2005 um programa <strong>de</strong> formação visando<br />

proporcionar aos políci<strong>as</strong> habilida<strong>de</strong>s especiais em lidar com <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência. Porem, é<br />

importante notar que o estabelecimento <strong>de</strong> Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento em si não é suficiente para<br />

15 OMS, O Primeiro P<strong>as</strong>so, p 12<br />

5


garantir bo<strong>as</strong> condições <strong>de</strong> atendimento; a prática já vem mostrando que em muitos c<strong>as</strong>os os<br />

gabinetes carecem <strong>de</strong> meios humanos, materiais e financieros, o que tem prejudicado a qualida<strong>de</strong><br />

dos serviços prestados.<br />

O MISAU i<strong>de</strong>ntificou du<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> específic<strong>as</strong> para respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência:<br />

tratamento <strong>de</strong> dano físico (sob a responsabilida<strong>de</strong> da Direcção Nacional <strong>de</strong> Assistência Médica) e<br />

serviços <strong>de</strong> medicina legal, sendo o Departamento <strong>de</strong> Doenç<strong>as</strong> Não Transmissíveis responsável pelo<br />

controlo epi<strong>de</strong>miológico. Em Fevereiro <strong>de</strong> 2002 um projecto <strong>de</strong> Violência b<strong>as</strong>eada no Género foi<br />

iniciado em Maputo pelo MISAU em colaboração com a Kulaya e <strong>UN</strong>FPA para formar o pessoal <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> em quatro hospitais da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo e em 2 centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que provi<strong>de</strong>nciam serviços<br />

<strong>de</strong> urgência 24 hor<strong>as</strong> por dia. Os primeiros resultados mostram que os provedores dos serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> são muito positivos e ganharam consciência acrescida sobre <strong>as</strong> caus<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência,<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género, direitos humanos etc. No Hospital Central <strong>de</strong> Maputo vários serviços foram<br />

integrados numa re<strong>de</strong> que inclui: serviços <strong>de</strong> urgência, medicina legal, serviços <strong>de</strong> ginecologia,<br />

serviços <strong>de</strong> pediatria, <strong>de</strong>rmatologia e <strong>de</strong> doenç<strong>as</strong> venére<strong>as</strong>, e a Kulaya e outros parceiros tais o<br />

CERPIJ para o aconselhamento <strong>de</strong> trauma psico-social. Porém, esta gama extensiva <strong>de</strong> serviços<br />

integrados só está disponível em Maputo.<br />

No momento, serviços <strong>de</strong> medicina legal estão disponíveis apen<strong>as</strong> em Maputo e Beira. Na ausência<br />

<strong>de</strong> especialist<strong>as</strong> <strong>de</strong> medicina legal formalmente treinados, a função <strong>de</strong> medicina legal é<br />

<strong>de</strong>sempenhada pelos serviços <strong>de</strong> urgência (ou por um ginecologista no c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> estupro ou violência<br />

sexual). É então importante proporcionar aos médicos e enfermeir<strong>as</strong> dos serviços <strong>de</strong> urgência <strong>as</strong><br />

habilida<strong>de</strong>s necessári<strong>as</strong> para prestar atenção a esta tarefa importante e sensível. Sendo <strong>as</strong>sim, o<br />

sector <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> enfrenta o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> <strong>as</strong>segurar que os serviços integrados e serviços <strong>de</strong> medicina<br />

legal apropriados estão disponíveis no âmbito nacional, particularmente como a lei estipula que sem<br />

“prova” legal, acusações contra perpetradores <strong>de</strong> violência não po<strong>de</strong>m ser sustentad<strong>as</strong> em tribunal.<br />

A violência contra <strong>as</strong> mulheres foi um tema central d<strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil que<br />

trabalham em prol da igualda<strong>de</strong> da mulher e do género <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos noventa. Em particular, a<br />

campanha nacional Todos Contra a Violência (TCV) foi criada juntando o governo e a socieda<strong>de</strong><br />

civil para encabeçar uma abordagem multi-sectorial, proporcionando às vítim<strong>as</strong> feminin<strong>as</strong> da<br />

violência o acesso aos serviços <strong>de</strong> aconselhamento legais, médicos e psico-sociais. Em 2000 a<br />

Fórum Mulher e su<strong>as</strong> organizações membros participaram em Março na Marcha Mundial e<br />

apresentaram ao governo uma lista <strong>de</strong> reivindicações <strong>de</strong> direitos incluindo o direito a liberda<strong>de</strong> da<br />

violência. Des<strong>de</strong> então, a violência <strong>de</strong> género continuou sendo uma questão <strong>de</strong> extrema preocupação<br />

para <strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m os direitos da mulher e a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género<br />

que implementaram medid<strong>as</strong> para proteger <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência, provi<strong>de</strong>nciam serviços<br />

a<strong>de</strong>quados para <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong>, e a revisão da legislação com o objectivo <strong>de</strong> criar instrumentos legais<br />

para penalizar a violência contra <strong>as</strong> mulheres. Além disso, a pesquisa abrangente e <strong>de</strong>talhada sobre a<br />

violência b<strong>as</strong>eada no género foi levada a cabo por parceiros locais como WLSA e CEA/UEM e<br />

muito trabalho esta sendo feito por gabinetes <strong>de</strong> atendimento da socieda<strong>de</strong> civil como Mulei<strong>de</strong>,<br />

AMMCJ, Assomu<strong>de</strong> em Marracuene, Amu<strong>de</strong>ia na Manhiça entre outros ao longo do país. Se<br />

tomarmos em conta estes serviços prestados por outr<strong>as</strong> organziações, os números apresentados pelo<br />

MINT po<strong>de</strong>rão aumentar significativamente.<br />

A <strong>VCM</strong> como <strong>as</strong>sunto <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública<br />

6


O sistema <strong>de</strong> cuidados médicos <strong>de</strong>para-se com <strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência contra <strong>as</strong> mulheres, e<br />

especialmente a violência sexual, na prática clínica quotidiana. Em particular, esta toma a forma <strong>de</strong>:<br />

dano físico, gravi<strong>de</strong>z, infecção com HIV, exposição a outr<strong>as</strong> infecções sexualmente transmitid<strong>as</strong>, e<br />

trauma psicológico.<br />

Dano físico<br />

Os danos sofridos por mulheres por causa <strong>de</strong> abuso físico e sexual po<strong>de</strong>m ser extremamente sérios.<br />

Muitos inci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>as</strong>salto resultam em danos, variando <strong>de</strong> contusões e fractur<strong>as</strong> a inaptidões<br />

crónic<strong>as</strong>. A <strong>VCM</strong> é um bom profeta para o uso <strong>de</strong> serviços médicos porque uma gran<strong>de</strong><br />

percentagem <strong>de</strong>st<strong>as</strong> requer tratamento médico. De Janeiro a Junho <strong>de</strong> 2006, o MISAU levou a cabo<br />

um estudo sobre violência contra <strong>as</strong> mulheres. O estudo entrevistou 899 mulheres que foram tratad<strong>as</strong><br />

nos serviços <strong>de</strong> urgência <strong>de</strong> quatro hospitais e três centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maputo<br />

estudo <strong>de</strong>scobriu que 48% <strong>de</strong>l<strong>as</strong> tinham chegado aos cuidados <strong>de</strong> urgência como consequência<br />

directa da violência.<br />

Um sistema abrangente <strong>de</strong> colecta <strong>de</strong> dados sobre violência ainda não foi instalado n<strong>as</strong> unida<strong>de</strong>s<br />

sanitári<strong>as</strong>. De momento, <strong>as</strong> sal<strong>as</strong> <strong>de</strong> urgência registam somente a natureza do dano (por exemplo<br />

choque) sem registar a causa (por exemplo queda durante o espancamento) e sem registar a<br />

progressão do dano (por exemplo morte <strong>de</strong>vido a hemorragi<strong>as</strong>).<br />

Consi<strong>de</strong>rando que frequentemente <strong>as</strong> mulheres não informam sobre a agressão física às autorida<strong>de</strong>s<br />

policiais, a unida<strong>de</strong> sanitária é frequentemente o primeiro contacto entre a vítima <strong>de</strong> violênci<strong>as</strong> e <strong>as</strong><br />

autorida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m oferecer serviços. As vítim<strong>as</strong> requerem um tratamento abrangente e uma<br />

gama <strong>de</strong> serviços, variando <strong>de</strong> diagnóstico médico correcta ao aconselhamento psicológico. Assim é<br />

muito importante que danos que resultam <strong>de</strong> violência sejam reconhecidos e que sejam tratados<br />

como tal em vez <strong>de</strong> tratá-los como meros ossos fracturados, fractur<strong>as</strong>, hemorragi<strong>as</strong> etc. e que uma<br />

gama abrangente <strong>de</strong> serviços esteja disponível numa unida<strong>de</strong> sanitária separada. Enquanto que a<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>veria estar separada no sentido do seu pessoal ser formado especialmente para lidar com<br />

a violência, é importante que seja integrado no recinto da unida<strong>de</strong> sanitária para atrair os usuários e<br />

evitar a marginalização dos serviços.<br />

Também é perpetrada a violência contra <strong>as</strong> mulheres grávid<strong>as</strong>, frequentemente pelo pai da criança.<br />

A Pesquisa <strong>de</strong> <strong>VCM</strong> <strong>de</strong>scobriu que 13% d<strong>as</strong> mulheres entrevistad<strong>as</strong> tinham vivido alguma forma <strong>de</strong><br />

17<br />

abuso físico durante a gravi<strong>de</strong>z . A pesquisa da OMS i<strong>de</strong>ntificou violência durante a gravi<strong>de</strong>z como<br />

um risco para a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> mães e do seu bebé por n<strong>as</strong>cer. Pesquis<strong>as</strong> nesta área mostram gran<strong>de</strong>s<br />

níveis <strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições: abuso durante a gravi<strong>de</strong>z era um factor <strong>de</strong> risco significante<br />

para o baixo peso ao n<strong>as</strong>cimento, baixo ganho <strong>de</strong> peso materno, infecções e anemia.<br />

Gravi<strong>de</strong>z<br />

Violênci<strong>as</strong> contra <strong>as</strong> mulheres po<strong>de</strong>m resultar em gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada, seja por estupro ou<br />

afectando a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mulher para negociar uso <strong>de</strong> anticonceptivos. Por exemplo, algum<strong>as</strong><br />

mulheres po<strong>de</strong>m ter medo <strong>de</strong> levantar o <strong>as</strong>sunto <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> anticonceptivo com os seus parceiros<br />

sexuais por medo <strong>de</strong> serem batid<strong>as</strong> ou abandonad<strong>as</strong>. Em Moçambique a maioria <strong>de</strong> mulheres sujeit<strong>as</strong><br />

16 OMS, O Primeiro P<strong>as</strong>so, p 21.<br />

17 MMAS, Inquérito <strong>VCM</strong> 2004, 2.5.4.<br />

16<br />

. O<br />

7


à violência não usam nenhum método anticonceptivo para prevenir a gravi<strong>de</strong>z: na altura da Pesquisa<br />

<strong>de</strong> <strong>VCM</strong>, apen<strong>as</strong> 20% estavam usando alguma forma <strong>de</strong> preservativo 18<br />

.<br />

Quando uma gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada acontece, muit<strong>as</strong> mulheres tentam solucionar o seu dilema<br />

através do aborto. Em países como Moçambique on<strong>de</strong> o aborto é ilegal, caro ou difícil <strong>de</strong> obter, <strong>as</strong><br />

mulheres po<strong>de</strong>m recorrer a abortos ilegais, às vezes com consequênci<strong>as</strong> fatais. Em Moçambique, <strong>de</strong><br />

acordo com <strong>as</strong> estatístic<strong>as</strong> hospitalares, o aborto insegurocontribui com cerca <strong>de</strong> 11% a mortalida<strong>de</strong><br />

19<br />

institucional.<br />

Porém, a gravi<strong>de</strong>z po<strong>de</strong> ser evitada até 72 hor<strong>as</strong> <strong>de</strong>pois da relação sexual. Por est<strong>as</strong> razões, é<br />

imperioso que <strong>as</strong> unida<strong>de</strong>s sanitári<strong>as</strong> provi<strong>de</strong>nciem tratamento para prevenir a gravi<strong>de</strong>z, como parte<br />

do pacote total <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> cuidados médicos provi<strong>de</strong>nciados às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência sexual.<br />

Infecções sexualmente transmitid<strong>as</strong>, incluindo HIV<br />

A ameaça <strong>de</strong> violência também intensifica a vulnerabilida<strong>de</strong> d<strong>as</strong> mulheres, <strong>de</strong> contrair infecções<br />

sexualmente transmitid<strong>as</strong> (ITS) porque el<strong>as</strong> não são capazes <strong>de</strong> negociar a protecção. As mulheres<br />

com ISTs têm um risco <strong>de</strong> complicações mais elevado durante a gravi<strong>de</strong>z, incluindo sepsia, aborto<br />

espontâneo e n<strong>as</strong>cimento prematuro; bem como o risco <strong>de</strong> infecção pélvica crónica mais elevado<br />

que po<strong>de</strong> prejudicar a fertilida<strong>de</strong>.<br />

Algum<strong>as</strong> ITSs aumentam também a vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mulher ao vírus <strong>de</strong> HIV. A violência<br />

sexual agressiva também po<strong>de</strong> aumentar os riscos d<strong>as</strong> mulheres porque a rotura resultante do tecido<br />

vaginal <strong>de</strong>licado, permite a entrada fácil do vírus na circulação sanguínea. A violência sexual é<br />

muito predominante entre mulheres jovens que representam o grupo com a maior taxa <strong>de</strong> infecção<br />

com HIV (mulheres com ida<strong>de</strong> compreendida entre 18-24 anos) são quatro vezes mais propens<strong>as</strong> <strong>de</strong><br />

serem seropositiv<strong>as</strong> do que os homens da mesma ida<strong>de</strong>. Portanto, em c<strong>as</strong>o <strong>de</strong> violência sexual, o<br />

pessoal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria levar a cabo uma avaliação rotineira do risco <strong>de</strong> IST e infecção <strong>de</strong> HIV e<br />

prosseguir a administração <strong>de</strong> prophylaxia. De acordo com vários estudos, o risco <strong>de</strong> violência<br />

20<br />

sexual e violação d<strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> jovens está a aumentar .<br />

As ligações entre a violência, igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género e HIV estão se tornando mais visíveis, dado que a<br />

epi<strong>de</strong>mia continua a afectar cada vez mais <strong>as</strong> famíli<strong>as</strong>. A preocupação particular é o facto <strong>de</strong> que o<br />

medo da violência constitui uma barreira principal para a testagem e para a revelação <strong>de</strong> estado <strong>de</strong><br />

HIV aos parceiros sexuais para <strong>as</strong> mulheres seropositiv<strong>as</strong>. Realmente, a pesquisa internacional e<br />

evidência anedótica <strong>de</strong> Moçambique sugere que a violência é também um resultado <strong>de</strong> revelação<br />

entre algum<strong>as</strong> mulheres.<br />

21<br />

Como <strong>as</strong> mulheres rotineiramente são provi<strong>de</strong>nciad<strong>as</strong> testagem como<br />

parte <strong>de</strong> cuidados pré-natais, est<strong>as</strong> são frequentemente os primeiros membros da família a serem<br />

diagnosticad<strong>as</strong> com HIV e <strong>as</strong>sim po<strong>de</strong>m ser percebid<strong>as</strong> como “tendo sido el<strong>as</strong> a trazer o HIV na<br />

família.” Isto sublinha a importância crítica <strong>de</strong> formar o pessoal da saú<strong>de</strong> para rigorosamente<br />

respeitar o princípio <strong>de</strong> confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> e apoiar <strong>as</strong> mulheres seropositiv<strong>as</strong> perante relações<br />

abusiv<strong>as</strong> e violent<strong>as</strong>. Isto po<strong>de</strong> ser feito realizando através <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> encaminhamento à<br />

18<br />

MMAS, Inquérito <strong>VCM</strong> 2004, 2.5.3.<br />

19<br />

MISAU, Encontro com Li<strong>de</strong>ranç<strong>as</strong> d<strong>as</strong> ONGs filiados ao Forum Mulher sobre o Tema: Projecto <strong>de</strong> Lei sobre<br />

Interrupção <strong>de</strong> Gravi<strong>de</strong>z (16/08/2007).<br />

20<br />

MISAU, PES 2006: Balanço Anual d<strong>as</strong> Activida<strong>de</strong>s Realizad<strong>as</strong> (Abril 2007) Relatório da Criança.<br />

21<br />

O número <strong>de</strong> crianç<strong>as</strong> tratad<strong>as</strong> no Hospital Central (Maputo) por violência sexual aumentou <strong>de</strong> 55 em 2005 para 57<br />

em 2006. A Save the Children UK e WLSA também constataram que <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> são mais vulneráveis à violência<br />

sexual ainda na sua infância.<br />

8


organizações que oferecem serviços para <strong>as</strong> mulheres vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência, incluindo re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />

ao parceiro 22 .<br />

Trauma psicológica<br />

A experiência da violência tem algum<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> psicológic<strong>as</strong> sever<strong>as</strong>, tais como <strong>de</strong>pressão,<br />

ansieda<strong>de</strong>, isolamento, e po<strong>de</strong> conduzir até mesmo em c<strong>as</strong>os extremos ao suicídio como último<br />

recurso para escapar <strong>as</strong> relações violent<strong>as</strong>. As crianç<strong>as</strong> em particular sofrem trauma quando el<strong>as</strong><br />

testemunham ou vivem situações <strong>de</strong> violência e são mais prováveis <strong>de</strong> reproduzir este<br />

comportamento mais tar<strong>de</strong> na vida adulta.<br />

Com algum<strong>as</strong> excepções, o apoio psicológico a<strong>de</strong>quado não está disponível, em parte <strong>de</strong>vido à falta<br />

<strong>de</strong> instalações e <strong>de</strong> profissionais e, em outros c<strong>as</strong>os, por falta <strong>de</strong> recursos para remunerar estes<br />

profissionais e por outro lado, <strong>de</strong>vido ao facto <strong>de</strong> que efeitos psicológicos, são frequentemente<br />

invisíveis.<br />

Os custos sociais da <strong>VCM</strong><br />

A violência contra <strong>as</strong> mulheres e <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> aumenta o risco da sua pobre saú<strong>de</strong>. Há uma maior<br />

consciência que a violência tem um impacto negativo na saú<strong>de</strong> física e mental da vítima. O custo<br />

para socieda<strong>de</strong> é enorme e inclui cuidados médicos <strong>de</strong> tratar <strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> médic<strong>as</strong> direct<strong>as</strong> <strong>de</strong> abuso<br />

sexual e físico; custos <strong>de</strong> serviços sociais, incluindo os serviços da protecção da criança e custos<br />

contraídos pela polícia, pelos tribunais e serviços legais para processar os perpetradores do abuso.<br />

Existem também custos económicos, pois a violência tem efeitos negativos na produtivida<strong>de</strong> e no<br />

emprego.<br />

A violência contra <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> jovens também tem efeitos negativos severos para uma geração<br />

futura <strong>de</strong> mulheres jovens. Por exemplo, em áre<strong>as</strong> on<strong>de</strong> o abuso sexual <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> sexo<br />

feminino por professores <strong>de</strong> sexo m<strong>as</strong>culino é prevalecente, <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> po<strong>de</strong>m evitar ir à escola<br />

para escapar da atenção não <strong>de</strong>sejada. Em outros lugares, os pais que temem que <strong>as</strong> su<strong>as</strong> filh<strong>as</strong> sejam<br />

agredid<strong>as</strong> sexualmente, po<strong>de</strong>m mantê-l<strong>as</strong> em c<strong>as</strong>a, até que estejam “seguramente c<strong>as</strong>ad<strong>as</strong>.” Em<br />

muitos países, uma rapariga que fica grávida é tirada da escola, seja ou não a gravi<strong>de</strong>z resultado <strong>de</strong><br />

uma violação sexual. A consequência em todos os c<strong>as</strong>o, é uma educação reduzida, uma<br />

oportunida<strong>de</strong> diminuída <strong>de</strong> ganhar emprego seguro, e uma contribuição reduzida para a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vida para a comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta rapariga.<br />

As adolescentes que são abusad<strong>as</strong>, ou que foram abusad<strong>as</strong> na infância, são muito menos prováveis<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um senso <strong>de</strong> auto-estima e <strong>de</strong> pertença que aquel<strong>as</strong> que não sofreram o abuso. Isto<br />

po<strong>de</strong> conduzir a preocupação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> específica, como el<strong>as</strong> são mais provável <strong>de</strong> se negligenciarem<br />

e se ocuparem em comportamentos arriscados, tais como relações sexuais prematur<strong>as</strong> ou<br />

<strong>de</strong>sprotegid<strong>as</strong>. Acredita-se que <strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> que são abusad<strong>as</strong> sexualmente durante a infância estão<br />

em maior risco <strong>de</strong> contrair a gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada durante a adolescência.É <strong>de</strong> salientar que a VBG<br />

também afecta negativamente os rapazes, no sentido <strong>de</strong> incrustar valores tradicionais <strong>de</strong><br />

m<strong>as</strong>culinida<strong>de</strong> principalmente <strong>as</strong>sociados à força física.<br />

22 OMS/Departamento <strong>de</strong> Género, Mulher e Saú<strong>de</strong>, Estratégi<strong>as</strong> e Recomendações para abordar a violência contra<br />

mulheres no Contexto <strong>de</strong> Testagem <strong>de</strong> HIV e Aconselhamento (Genebra, 2006)<br />

9


Porém, neste momento a dimensão verda<strong>de</strong>ira d<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência contra <strong>as</strong> mulheres e<br />

<strong>as</strong> raparig<strong>as</strong> em Moçambique é difícil <strong>de</strong> medir, pois os registos médicos ainda não têm <strong>de</strong>talhes<br />

vitais relativamente a quais quer c<strong>as</strong>os violentos contra a saú<strong>de</strong>. Enquanto a violência for<br />

fundamentalmente uma violação <strong>de</strong> direitos humanos d<strong>as</strong> mulheres, os enormes custos sociais da<br />

violência, também justificam o investimento público em medid<strong>as</strong> chave para melhorar a resposta à<br />

violência.<br />

As funções complementares dos trabalhadores da saú<strong>de</strong> e dos Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento<br />

Os profissionais da saú<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> emergência do hospital, têm um papel crucial para<br />

ajudar <strong>as</strong> mulheres e <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> que vivem em situações <strong>de</strong> violência. Estes po<strong>de</strong>m ser os primeiros<br />

a examinar <strong>as</strong> mulheres prejudicad<strong>as</strong> pela violação sexual ou violência doméstica. Po<strong>de</strong>m também<br />

ser os primeiros a notar evidência <strong>de</strong> violência em mulheres ou abuso em crianç<strong>as</strong>. A violência po<strong>de</strong><br />

escalar em femicídio 23<br />

e frequentemente <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> ficam magoad<strong>as</strong> quando tentam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>as</strong><br />

su<strong>as</strong> mães.<br />

A primeira preocupação é <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar cuidado e tratamento médicos correctos, incluindo a<br />

avaliação do risco <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> ITS e <strong>de</strong> HIV e administração da profilaxia pos exposição para<br />

prevenir a infecção por HIV. É importante <strong>as</strong>segurar que <strong>as</strong> instalações especiais estejam<br />

disponíveis para <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência <strong>de</strong> modo que est<strong>as</strong> possam ser tratad<strong>as</strong> com a sensibilida<strong>de</strong><br />

e varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidados que a sua situação exige. Est<strong>as</strong> instalações <strong>de</strong>vem estar no recinto da<br />

unida<strong>de</strong> sanitária <strong>de</strong> modo a evitar a marginalização.<br />

Os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm uma responsabilida<strong>de</strong> especial para <strong>as</strong>segurar que a vítima é<br />

encaminhada para os provedores <strong>de</strong> serviços a<strong>de</strong>quados (por exemplo, aconselhamento legal, social<br />

e psicológico). Isto é especialmente aplicável quando a violência resulta em ferimentos severos<br />

qualificada pela lei, como sendo um crime (por exemplo: lesão corporal grave, violação sexual,<br />

incesto, relações sexuais com menores, etc.). Em tais c<strong>as</strong>os, os trabalhadores da saú<strong>de</strong> têm uma<br />

obrigação especial <strong>de</strong> administrar todos os cuidados médicos necessários e <strong>de</strong> aconselhar a vítima a<br />

procurar a intervenção através do Gabinete <strong>de</strong> Atendimento. Enquanto os crimes são “ públicos”, o<br />

pessoal médico <strong>de</strong>ve estar ciente do facto <strong>de</strong> que a violência é principalmente consi<strong>de</strong>rada uma<br />

questão “privada” e po<strong>de</strong> conduzir a estigmatização e mais violência. Isto clama pela importância <strong>de</strong><br />

confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> entre o profissional da saú<strong>de</strong> e a vítima, particularmente no c<strong>as</strong>o da testagem e<br />

aconselhamento para seropositivida<strong>de</strong>. Deve ficar claro que que <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violação sexual<br />

<strong>de</strong>vem ter acesso automático a profilaxia contra o HIV.<br />

Os oficiais da polícia no Gabinete <strong>de</strong> Atendimento po<strong>de</strong>m ajudar a vítima <strong>de</strong> vários modos,<br />

oferecendo uma solução que po<strong>de</strong>rá põr termo a violência (por exemplo, através da apresentação <strong>de</strong><br />

queix<strong>as</strong> contra o perpetrador) ou encaminhando a vítima a outros serviços <strong>de</strong> apoio e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio<br />

disponíveis (por exemplo: aconselhamento psico-social, representação legal grátis, etc.) A colecta da<br />

prova po<strong>de</strong> ser muito importante para abrir um c<strong>as</strong>o; <strong>as</strong>sim o registo seguindo-se <strong>de</strong><br />

encaminhamento do c<strong>as</strong>o à saú<strong>de</strong> parece ser fundamental. Na prática, alguns Gabinetes <strong>de</strong><br />

Atendimento ampliaram a sua função <strong>de</strong> aconselhamento para uma função <strong>de</strong> mediação. Isto po<strong>de</strong><br />

presumivelmente ser entendido como uma tentativa pragmática para solucionar o conflito, através da<br />

mediação entre a vítima e o perpetrador enquanto os Gabinetes não têm a função <strong>de</strong> mediação e<br />

23 WLSA, Homicídio e Femicídio, Violência <strong>de</strong> Género: Resultados Fatais da Violência Contra a Mulher (Maputo).<br />

10


<strong>de</strong>veriam limitar-se à referir a vítima aos diversos serviços a<strong>de</strong>quados. Esta tentativa <strong>de</strong> mediação<br />

traz o risco <strong>de</strong> <strong>as</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> género e <strong>as</strong> violênci<strong>as</strong> resultantes serem perpetuad<strong>as</strong> (a menos<br />

que os oficiais da polícia sejam sensíveis às <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> género subjacentes que condicionam a<br />

violência). Isto requer um investimento sistemático na formação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> manuais e<br />

procedimentos <strong>de</strong> aconselhamento a serem usados por todos os Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento.<br />

É importante que tanto os profissionais da saú<strong>de</strong> como os da polícia possam lidar a<strong>de</strong>quadamente<br />

com os <strong>as</strong>pectos psico-sociais da violência (por exemplo; provi<strong>de</strong>nciar aconselhando, conselho e<br />

tratamento aos problem<strong>as</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental a<strong>de</strong>quados) e a violência psicológica A violência<br />

psicológica não é apen<strong>as</strong> difícil <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, como também não é legalmente qualificado. Este<br />

<strong>as</strong>pecto está sendo realçado no manual <strong>de</strong> formação para o pessoal do centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; a monitoria<br />

será importante bem como a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>as</strong>segurar a relação com a acção social e com <strong>as</strong><br />

organizações da socieda<strong>de</strong> civil.<br />

Pela lei, os tribunais não po<strong>de</strong>m julgar c<strong>as</strong>os <strong>de</strong> violência sem prova a<strong>de</strong>quada. Esta prova está<br />

frequentemente em falta por causa <strong>de</strong> insuficiência <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> exames médicos legais e porque<br />

não há nenhum sistema <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> registo específico para danos relacionados com a<br />

violência. Esta é uma ligação vital para a integração <strong>de</strong> serviços. Também é importante reconhecer<br />

que em muitos c<strong>as</strong>os <strong>as</strong> organizações da socieda<strong>de</strong> civil <strong>de</strong>sempenham um papel importante através<br />

da prestação <strong>de</strong> serviços, o que coloca à questão da integração <strong>de</strong> serviços e parceria entre o governo<br />

e a socieda<strong>de</strong> civil bem como a importância dos mécanismos <strong>de</strong> coordinação entre <strong>as</strong> diferentes<br />

entida<strong>de</strong>s governamentais (p.e. a importância <strong>de</strong> implantar Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento nos distritos<br />

on<strong>de</strong> existe alguma infraestrutura a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>).<br />

Priorida<strong>de</strong>s para planificação e investimento público<br />

Expandir o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> serviço integrado pilotado em Maputo -instalação em lugar separado<br />

m<strong>as</strong> <strong>de</strong>ntro do mesmo recinto.<br />

Provi<strong>de</strong>nciar formação para profissionais da saú<strong>de</strong> a investigarem a violência e aconselhar <strong>as</strong><br />

vítim<strong>as</strong> a apresentar queix<strong>as</strong> (por exemplo, <strong>de</strong>senvolver um protocolo para obrigar os<br />

trabalhadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento a aconselhar a vítima sobre diferentes<br />

serviços disponíveis, incluindo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong> uma queixa e provi<strong>de</strong>nciar<br />

acesso imediato a profilaxia anti-HIV <strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência sexual).<br />

Estabelecer um sistema <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> registos e fortalecer os serviços <strong>de</strong> medicina legal<br />

(afectando mais médicos legist<strong>as</strong> e/ou através <strong>de</strong> provisão <strong>de</strong> formação a<strong>de</strong>quada a pessoal<br />

<strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> urgência/ginecologia) - beneficiando <strong>de</strong> processo <strong>de</strong> reforma <strong>de</strong> informação<br />

da saú<strong>de</strong> para incorporar dados sobre a violência.<br />

Formar a Polícia para reconhecer a violência psicológica e como dar apoio a<strong>de</strong>quado ou<br />

encaminhar c<strong>as</strong>os com outros preovedores <strong>de</strong> serviços, uma vez que não existe um quadro<br />

legal sobre a violência psicológica.<br />

Abordar a questão <strong>de</strong> ligações entre a violência e HIV/SIDA, em particular a violência,<br />

especialmente na forma <strong>de</strong> abuso sexual como um risco <strong>de</strong> infecção d<strong>as</strong> vítim<strong>as</strong> por HIV;<br />

11


- Violência como uma barreira ao acesso d<strong>as</strong> mulheres aos serviços <strong>de</strong> testagem <strong>de</strong> HIV.<br />

Despertar a consciência sobre a ligação entre HIV e a violência entre os gestores<br />

<strong>de</strong> programa, conselheiros e pacientes.<br />

- Violência como uma barreira a revelação e como um resultado <strong>de</strong> revelação.<br />

Implementar ferrament<strong>as</strong> que os conselheiros po<strong>de</strong>m usar para i<strong>de</strong>ntificar e<br />

aconselhar <strong>as</strong> mulheres que temem violência e outros resultados negativos<br />

<strong>de</strong>correntes da revelação.<br />

Oferecer mo<strong>de</strong>los alternativos para a revelação que inclui a revelação mediada<br />

pelos conselheiros<br />

- Violência como uma barreira para <strong>as</strong> mulheres que implementam <strong>as</strong> estratégi<strong>as</strong> <strong>de</strong> redução <strong>de</strong><br />

risco<br />

Ajudar <strong>as</strong> mulheres para <strong>de</strong>senvolver estratégi<strong>as</strong> para se protegerem ao negociar<br />

<strong>as</strong> relações sexuais segur<strong>as</strong>.<br />

- Necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio pós testagem para mulheres em relações <strong>de</strong><br />

violência.<br />

Estabelecer mecanismos <strong>de</strong> monitoria para aferir os progressos alcançados com a<br />

implementação dos program<strong>as</strong> em curso.<br />

Mapeamento dos serviços existentes e fortalecimento dos mecanismos <strong>de</strong> intervenção entre<br />

diferentes actores<br />

Conclusão<br />

A violência em Moçambique é um problema real e sério, que afecta a vida <strong>de</strong> mais do que meta<strong>de</strong><br />

d<strong>as</strong> mulheres neste país. Tem <strong>as</strong> su<strong>as</strong> raízes no <strong>de</strong>sequilibrio entre homens e mulheres, ou seja, nos<br />

valores culturais que atribuiem um estatuto socio-economico inferior às mulheres em relação aos<br />

homens.<br />

As consequênci<strong>as</strong> da violência não <strong>de</strong>vem ser abordad<strong>as</strong> apen<strong>as</strong> em termos <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong><br />

conflitos, nem apen<strong>as</strong> em termos <strong>de</strong> cuidados médicos, mais sim como manifestações <strong>de</strong> um<br />

problema multidimensional.<br />

Face à esta complexida<strong>de</strong>, o Governo <strong>de</strong> Moçambique estabeleceu um quadro <strong>de</strong> polític<strong>as</strong>,<br />

estratégi<strong>as</strong> e orientações que propoem uma abordagem multisectorial com intervenções a serem<br />

realizad<strong>as</strong> por diferentes entida<strong>de</strong>, o que requer mécanismos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação quer entre entida<strong>de</strong>s<br />

governamentais (p.e. MISAU, MINT e MMAS) bem como entre governo e entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong><br />

civil provedores <strong>de</strong> serviços às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência.<br />

Em particular, o MINT estabeleceu como meta a instalação <strong>de</strong> pelo menos um Gabinete <strong>de</strong><br />

Atendimento em cada distrito do território nacional até 2009 e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um protocolo<br />

que redige a <strong>as</strong>sistência policial às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência; isto implique vári<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> com o<br />

apetrechamento e formaçao <strong>de</strong> agentes da policia. Outr<strong>as</strong> áre<strong>as</strong> <strong>de</strong> intervenção contemplad<strong>as</strong> pelo<br />

MINT são a implantação <strong>de</strong> “Gabinetes mo<strong>de</strong>los” que reunem/integram todos os diferentes serviços<br />

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<strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> (serviços policiais, médicos, psicológicos, jurídicos) e que também funcionam<br />

como c<strong>as</strong><strong>as</strong> <strong>de</strong> refúgio. Por seu lado, no que diz respeito à <strong>VCM</strong>, o MISAU i<strong>de</strong>ntificou vári<strong>as</strong> áre<strong>as</strong><br />

prioritári<strong>as</strong> <strong>de</strong> intervenção, tais como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um protocolo <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> apoio às<br />

vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência, a administração <strong>de</strong> profilaxia contra HIV nos centros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, formação <strong>de</strong><br />

profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sobre <strong>VCM</strong>, ampliação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> medicina legal e constituição <strong>de</strong> prova<br />

legal <strong>de</strong> violência, entre outros. Ambos os ministérios consi<strong>de</strong>ram que po<strong>de</strong>rão melhorar a<br />

qualida<strong>de</strong> e impacto dos serviços através <strong>de</strong> uma melhor concertação.<br />

È claro que est<strong>as</strong> intervenções só serão efectiv<strong>as</strong> se existirem recursos financeiros suficientes para<br />

suportar <strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> <strong>de</strong> implementação. E mais, embora que algum<strong>as</strong> initiativ<strong>as</strong> já estão a ser<br />

implementad<strong>as</strong> á b<strong>as</strong>e <strong>de</strong> financiamentos concedidos no âmbito <strong>de</strong> “projectos pilotos” como por<br />

exemplo a criação <strong>de</strong> alguns Gabinetes mo<strong>de</strong>los em alguns distritos, a sustentabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes<br />

iniciativ<strong>as</strong> só será garantido pela inclusão d<strong>as</strong> iniciativ<strong>as</strong> nos planos e orçamentos sectorais. Por isso,<br />

este documento <strong>de</strong>ve ser contemplado em conjunto com os instrumentos da Orçamentação na Optica<br />

<strong>de</strong> Género, a qual <strong>de</strong>veria permitir uma análise do valor que custaria a realização <strong>de</strong>stes iniciativ<strong>as</strong><br />

bem como uma avaliação do nível <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fundos através dos planos e orçamentos<br />

sectoriais do MINT e MISAU.<br />

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SIGLAS (em or<strong>de</strong>m alfabético)<br />

AMMCJ – Associação Moçambicana <strong>de</strong> Mulheres <strong>de</strong> Carreira Jurídica (ONG <strong>de</strong>dicada a prestação<br />

<strong>de</strong> serviços legais/<strong>as</strong>sistência jurídica)<br />

Amu<strong>de</strong>ia - ONG/<strong>as</strong>sociação que presta serviços <strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência<br />

Assomu<strong>de</strong> – ONG/<strong>as</strong>sociação que presta serviços <strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência<br />

CEA/UEM – Centro <strong>de</strong> Estudos Africanos/Universida<strong>de</strong> Eduardo Mondlane<br />

CEDAW – Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination Against <strong>Women</strong><br />

CNAM – Conselho Nacional para o Avanço da Mulher, plataforme multisectorial para a promoção<br />

da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> género e integração da dimensão género nos planos e orçamentos sectoriais<br />

conforme requer a implementação do PNAM; existe também a nível provincial e distrital on<strong>de</strong><br />

actuam os Conselhos Provinciais para o Avanço da Mulher e os Conselhos Distritais para o Avanço<br />

da Mulher respectivamente<br />

FM - Forum Mulher: forum <strong>de</strong> ONGs <strong>de</strong>dicados à promoção da igualda<strong>de</strong> entre homens e mulheres<br />

e <strong>de</strong>fesa dos direitos humanos da mulher<br />

Gabinetes <strong>de</strong> Atendimento – serviçõs <strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência, fonciona n<strong>as</strong> esquadr<strong>as</strong><br />

HIV – Human Immuno<strong>de</strong>ficiency Virus<br />

ITS – Infecção <strong>de</strong> Transmissão Sexual<br />

Kulaya - ONG/<strong>as</strong>sociação que presta serviços <strong>de</strong> apoio às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> violência<br />

MINF – Ministério d<strong>as</strong> Finanç<strong>as</strong><br />

MINT – Ministério do Interior<br />

MISAU _ Ministério da Saú<strong>de</strong><br />

MMAS – Ministério da Mulher e Acção Social<br />

MPD – Ministério do Plano e Desenvolvimento<br />

ODM – Objectivo <strong>de</strong> Desenvolvimento do Milenio<br />

PACV – Plano <strong>de</strong> Acção para Combate à Violência contra mulheres e crianç<strong>as</strong><br />

PARPA – Plano <strong>de</strong> Acção para Redução da Pobreza Absoluta, instrumento chave da planificação<br />

governamental<br />

PES – Programa Economico e Social (do Governo) / Plano Economico e Social (sectorial)<br />

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PNAM – Plano Nacional para o Avanço da Mulher<br />

PNGEI – Política Nacional <strong>de</strong> Género e Estratégia <strong>de</strong> Implementação<br />

SADC – Southern African Development Community<br />

TCV – Todos Contra Violência; campanha nacional para melhorar e coor<strong>de</strong>nar os serviços <strong>de</strong> apoio<br />

às vítim<strong>as</strong> <strong>de</strong> viol~encia<br />

UA – União Africana<br />

<strong>UN</strong>FPA – United Nations Population Fund<br />

<strong>UN</strong>IFEM – United Nations Development Fund for <strong>Women</strong><br />

WLSA – <strong>Women</strong> and Law in Southern Africa, ONG especializada em pesquisa, análise e<br />

divulgação <strong>de</strong> dados em relação ao estatuto da mulher; estes dados alimentam e reforçam advocacia<br />

para a <strong>de</strong>fesa e promoção dos direitos da mulher e a não discriminação<br />

GLOSSÀRIO (em or<strong>de</strong>m alfabético)<br />

OOG- Orçamento da Optica <strong>de</strong> Género - A Orçamentação da Optica <strong>de</strong> Género não se refere à um<br />

orçamento ou valor reservado para suportar algum<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> à favor <strong>de</strong> mulheres ou da promoção<br />

dos direitos da mulher, m<strong>as</strong> sim à uma metodologia que permite analisar a medida em que este tipo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> é incorporado nos planos e orçamentos sectorais/estatal. Isto permite analisar o impacto<br />

d<strong>as</strong> <strong>de</strong>spes<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> na vida d<strong>as</strong> mulheres e homens respectivamente.<br />

VBG – Violência B<strong>as</strong>eada no Género - A VBG refere-se aos tipos <strong>de</strong> violência que resultam do<br />

facto que <strong>as</strong> mulheres ocupam estatutos inferiores aos homens na vida social, economica e politica,<br />

ou seja, refere-se <strong>as</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre homens e mulheres que <strong>de</strong>ixam <strong>as</strong> mulheres mais<br />

vulneraveis. Assim, a VBG perpetua <strong>as</strong> relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sequilibrad<strong>as</strong>. A VGB é sustentada pela<br />

cultura <strong>de</strong> silêncio e ten<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> não levar em consi<strong>de</strong>ração a serieda<strong>de</strong> d<strong>as</strong> consequênci<strong>as</strong><br />

negativ<strong>as</strong> para a saú<strong>de</strong>. Para além do prejuizo que isto implica para a vítima, a VBG implica<br />

consi<strong>de</strong>raveis custos sociais bem como um <strong>de</strong>snecessario fardo para os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

<strong>VCM</strong>- Violência Contra Mulher – A <strong>VCM</strong> refere-se aos actos <strong>de</strong> violência perpetrados contra a<br />

mulher. È importante salientar que esta violência tem <strong>as</strong> su<strong>as</strong> raízes na vulnerabilida<strong>de</strong> da vítima, a<br />

qual tem a ver com <strong>as</strong> relações <strong>de</strong>siguais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre homens e mulheres.<br />

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