Módulo 4 – Microrganismos patogênicos e qualidade do leite - IFTO
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MÓDULO 4<br />
Curso Online: Monitoramento da<br />
Qualidade <strong>do</strong> Leite<br />
<strong>Módulo</strong> 4 <strong>–</strong> <strong>Microrganismos</strong> <strong>patogênicos</strong> e<br />
<strong>qualidade</strong> <strong>do</strong> <strong>leite</strong><br />
Prof. Dr. Marcos Veiga <strong>do</strong>s Santos<br />
Prof. Dr. Luis Fernan<strong>do</strong> Laranja da Fonseca<br />
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia<br />
Universidade de São Paulo (FMVZ/USP)<br />
Introdução<br />
O <strong>leite</strong>, assim como outros alimentos de origem animal, durante o seu processo<br />
de produção primária, processamento, transporte e comercialização pode se tornar<br />
contamina<strong>do</strong> por microrganismos <strong>patogênicos</strong> ou mesmo por outras substâncias<br />
tóxicas que impliquem em riscos à saúde <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. De forma geral, as<br />
<strong>do</strong>enças transmitidas por alimentos podem se manifestar em três diferentes<br />
formas (1) :<br />
a) intoxicações devi<strong>do</strong> à ingestão de substâncias tóxicas ou toxinas produzidas<br />
por microrganismos presentes nos alimentos;<br />
b) infecções causadas por microrganismos que sintetizam enterotoxinas<br />
durante a colonização <strong>do</strong> trato gastrintestinal;<br />
c) infecções causadas por microrganismos que invadem a mucosa intestinal e<br />
se multiplicam em outros teci<strong>do</strong>s.<br />
As <strong>do</strong>enças de origem alimentar têm se destaca<strong>do</strong> nos últimos anos pelo<br />
aumento da sua importância e principalmente, devi<strong>do</strong> a alterações na percepção<br />
<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s riscos associa<strong>do</strong>s ao consumo de alimentos. Pode-se observar<br />
que há uma tendência de aumento da incidência de <strong>do</strong>enças transmitidas pelos<br />
alimentos que são notificadas em praticamente to<strong>do</strong>s os países. Agravan<strong>do</strong> ainda<br />
mais esta situação está o fato de que apenas uma pequena proporção <strong>do</strong>s casos<br />
(menos de 10% na maioria <strong>do</strong>s países) são realmente notifica<strong>do</strong>s, o que permite<br />
concluir que a incidência verdadeira seja muito maior (2) .<br />
Paralelamente ao aumento da incidência <strong>do</strong>s casos de <strong>do</strong>enças causadas<br />
pelo consumo de alimentos é observa<strong>do</strong> o aparecimento de patógenos<br />
emergentes, os quais anteriormente não eram considera<strong>do</strong>s como causas<br />
importantes destas <strong>do</strong>enças. Exemplifican<strong>do</strong>, a Escherichia coli não era<br />
considerada patogênica até 1982, quan<strong>do</strong> foi isola<strong>do</strong> um novo sorotipo (E. coli<br />
O157:H7), que foi identifica<strong>do</strong> como causa de colite hemorrágica, diarréia e<br />
síndrome urêmica hemolítica. Posteriormente, a E. coli O157:H7 foi isolada de
ovinos <strong>leite</strong>iros e de corte, sen<strong>do</strong> que o consumo de <strong>leite</strong> e carne sem prévio<br />
tratamento térmico foi a causa de vários surtos em diversos países (2) .<br />
Nos últimos anos, foram observadas alterações no mecanismo de<br />
transmissão <strong>do</strong>s microrganismos de origem alimentar. Como exemplo, o botulismo<br />
de origem alimentar era ti<strong>do</strong> como resultante da ingestão de alimentos<br />
contamina<strong>do</strong>s com a toxina botulínica pré-formada. No entanto, algumas cepas de<br />
Clostridium botulinum podem colonizar o trato gastrintestinal e produzir a toxina<br />
botulínica causan<strong>do</strong> uma infecção ao invés de uma intoxicação (3) . No caso da<br />
salmonelose de origem alimentar, assumia-se que a <strong>do</strong>se infectante é alta, sen<strong>do</strong><br />
estimada da ordem de milhões de UFC. Entretanto, uma <strong>do</strong>se de cerca de 10 UFC<br />
em alimentos deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>leite</strong> é capaz de causar <strong>do</strong>ença (4) .<br />
Mudanças ocorridas na susceptibilidade das populações também<br />
influenciaram de forma significativa a incidência de <strong>do</strong>enças de origem alimentar.<br />
Os diferentes grupos populacionais apresentam diferenças significativas na sua<br />
susceptibilidade aos patógenos, dependen<strong>do</strong> da idade, esta<strong>do</strong> de saúde e outras<br />
características que podem afetar o seu esta<strong>do</strong> imunológico. Indivíduos mais<br />
susceptíveis apresentam maior probabilidade de adquirir <strong>do</strong>enças de origem<br />
alimentar em comparação com indivíduos normais. Pessoas porta<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> vírus da<br />
AIDS são mais susceptíveis a infecções causadas por Salmonella e com sintomas<br />
mais severos que indivíduos sadios (5e6) . Crianças e pessoas i<strong>do</strong>sas são mais<br />
susceptíveis a <strong>do</strong>enças causadas por E. coli O157:H7 e por Listeria<br />
monocytogenes, ou mesmo outras pessoas com depressão <strong>do</strong> sistema imune.<br />
Desta forma, seja pela emergência de novos microrganismos patógenos,<br />
como através da maior susceptibilidade de grupos populacionais, um completo<br />
entendimento <strong>do</strong>s principais agentes causa<strong>do</strong>res de <strong>do</strong>enças de origem alimentar,<br />
em especial <strong>do</strong> <strong>leite</strong> e deriva<strong>do</strong>s, é de fundamental importância para assegurar a<br />
produção de alimentos de elevada segurança para a saúde <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r.<br />
Historicamente, os programas de monitoramento da <strong>qualidade</strong> <strong>do</strong> <strong>leite</strong> foram<br />
estabeleci<strong>do</strong>s com a finalidade de proteger a saúde pública. Doenças tais como a<br />
brucelose, a tuberculose e outras transmissíveis pelo <strong>leite</strong> eram amplamente<br />
disseminadas (e ainda o são em algumas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>), e causavam sérios<br />
riscos à saúde da população. Com o advento da pasteurização, passaram a ser<br />
poucos os relatos de transmissão desse tipo de <strong>do</strong>ença pelo consumo de <strong>leite</strong>. Isto<br />
fez com que, nos últimos trinta anos, o <strong>leite</strong> tenha adquiri<strong>do</strong> o status de produto<br />
natural e seguro. Deste mo<strong>do</strong>, os esforços feitos no senti<strong>do</strong> de garantir a<br />
segurança da saúde da população fizeram com que os produtos lácteos tivessem<br />
uma grande aceitação, provocan<strong>do</strong> a expansão deste merca<strong>do</strong> e geran<strong>do</strong> retorno<br />
econômico nesta atividade.<br />
De acor<strong>do</strong> com a IDF (International Dairy Federation), o <strong>leite</strong> pasteuriza<strong>do</strong><br />
pode ser considera<strong>do</strong> um alimento seguro desde que (7) :<br />
a) o <strong>leite</strong> seja adequadamente resfria<strong>do</strong> após a pasteurização para evitar o<br />
desenvolvimento de toxinas microbianas termorresistentes;<br />
b) os equipamentos usa<strong>do</strong>s na pasteurização estejam funcionan<strong>do</strong><br />
adequadamente;<br />
c) não ocorra contaminação pós-pasteurização.<br />
2
Principais microrganismos <strong>patogênicos</strong> <strong>do</strong> <strong>leite</strong><br />
Tradicionalmente, o <strong>leite</strong> cru pode transmitir <strong>do</strong>enças como a tuberculose,<br />
brucelose, difteria, febre Q e uma série de gastrenterites. No entanto, nos últimos<br />
anos alguns surtos de salmoneloses, colibaciloses, listerioses, campilobacterioses,<br />
mycobacterioses e iersinioses têm desperta<strong>do</strong> a atenção <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res, o que<br />
levou a classificação destes como <strong>do</strong>enças emergentes. Os principais agentes<br />
emergentes são Listeria monocytogenes, Yersinia enterocolitica, Campylobacter<br />
jejuni, Escherichia coli enteropatogênica, Escherichia coli O157:H7, Escherichia coli<br />
O27:H20 enterotoxigênica e Streptococcus zooepidemicus. A Tabela 1 sumariza as<br />
principais <strong>do</strong>enças transmitidas pelo <strong>leite</strong> ao homem.<br />
Tabela 1 - Principais <strong>do</strong>enças transmissíveis ao homem através <strong>do</strong> <strong>leite</strong>.<br />
Principal fonte de<br />
infecção<br />
Agente Doença Leite Homem Ambiente<br />
Bactéria Botulismo (toxina) X<br />
Brucelose X<br />
Cólera X<br />
Infecções por E. coli X X<br />
Infecções por Clostridium perfringens X<br />
Listeriose X<br />
Febre paratifóide X<br />
Salmonelose X X<br />
Shigelose X<br />
Gastrenterite causada por S. aureus X X<br />
Tuberculose X X<br />
Rickétsia Febre Q X<br />
Protozoário Toxoplasmose X<br />
Fonte: Heeschen, et al., (1997).<br />
Escherichia coli O157:H7<br />
A Escherichia coli é um microrganismo da microbiota normal <strong>do</strong> trato<br />
gastrintestinal <strong>do</strong> homem e <strong>do</strong>s animais, no entanto, algumas cepas podem ser<br />
patogênicas, causan<strong>do</strong> diarréia e outros sintomas relaciona<strong>do</strong>s com a ação de<br />
toxinas. As cepas patogênicas da E. coli podem ser agrupadas em quatro<br />
categorias quanto a sua patogenicidade: E. coli enteropatogênica (EPEC), E. coli<br />
enteroinvasiva (EIEC), E. coli enterotoxigênica (ETEC) e E. coli enterohemorrágica<br />
(EHEC).<br />
Desde 1982, o sorotipo E. coli O157:H7 tem si<strong>do</strong> identifica<strong>do</strong> como<br />
importante causa de colite hemorrágica e da síndrome urêmica hemolítica em<br />
humanos (8) .Os sintomas iniciais são forte <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal e diarréia inicialmente<br />
aquosa, que posteriormente torna-se sanguinolenta. A síndrome urêmica<br />
hemolítica causa insuficiência renal aguda e pode levar a morte. A E. coli O157:H7<br />
não é considerada um agente patogênico importante para bovinos e, portanto, este<br />
microrganismo pode ficar abriga<strong>do</strong> em muitos animais sadios sem qualquer<br />
manifestação, constituin<strong>do</strong>-se um importante reservatório da E. coli O157:H7. A<br />
prevalência deste agente nos rebanho é baixa, poden<strong>do</strong> atingir até 5% em<br />
bezerros desmama<strong>do</strong>s (9) e de 1% em animais adultos (10) .<br />
3
A fonte principal desta bactéria é ingestão de carne bovina crua mal<br />
passada, ainda que outras fontes menos comuns são o <strong>leite</strong> cru, água, iogurte, e<br />
suco de maçã. Vários surtos de infecções por E. coli O157:H7 foram associa<strong>do</strong>s<br />
com o consumo de <strong>leite</strong> cru ou de <strong>leite</strong> pasteuriza<strong>do</strong> que sofreu contaminação póspasteurização<br />
(2) . Um grande surto de E. coli O157:H7 ocorreu no Canadá num<br />
grupo de crianças que visitou uma fazenda <strong>leite</strong>ira e consumiram <strong>leite</strong> cru. Das 60<br />
crianças e 15 adultos que visitaram a fazenda, 48 desenvolveram sintomas de<br />
colite hemorrágica e três apresentaram a síndrome urêmica hemolítica. Foram<br />
examinadas amostras de fezes das vacas sen<strong>do</strong> então isola<strong>do</strong> a E. coli O157:H7<br />
em 1,5% das vacas sadias (12) .<br />
Na Inglaterra, o consumo de iogurte de uma marca em particular foi a causa<br />
de um surto de E. coli O157:H7 em 16 pessoas, sen<strong>do</strong> a causa provável, uma<br />
contaminação pós-pasteurização <strong>do</strong> <strong>leite</strong>, uma vez que não foi isola<strong>do</strong> o agente no<br />
<strong>leite</strong> cru e a pasteurização elimina completamente o agente (11) .<br />
Uma vez que os animais podem não apresentar nenhum sintoma e ser um<br />
possível reservatório da E. coli O157:H7, a única medida de controle eficaz é a<br />
pasteurização <strong>do</strong> <strong>leite</strong> e deriva<strong>do</strong>s antes <strong>do</strong> consumo, assim como medidas para<br />
evitar a sua contaminação após a pasteurização.<br />
Salmonella<br />
As infecções causadas por salmonelas em humanos e nos animais podem<br />
apresentar-se com uma grande variedade de sintomas, tais como febre tifóide<br />
causada pela S. Typhi, febre entérica causada pela S. paratyphi, septicemia,<br />
formação de abscessos e como porta<strong>do</strong>r assintomático (1) .<br />
O tipo mais comum de salmonelose é aquela causada por outras espécies,<br />
na qual os principais sintomas são diarréia, <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, febre, desidratação,<br />
vômitos e <strong>do</strong>r de cabeça. A severidade <strong>do</strong>s sintomas depende principalmente da<br />
susceptibilidade <strong>do</strong> indivíduo e da <strong>do</strong>se infectante.<br />
As duas espécies de salmonela mais freqüentemente isoladas em vacas<br />
são S. typhimurium e S. dublin. Em bezerros, a S. dublin é um patógeno invasivo<br />
que causa septicemia e alta mortalidade, enquanto em vacas adultas, este<br />
patógeno causa aborto e diarréia severa. Aqueles animais que se recuperam <strong>do</strong>s<br />
sintomas clínicos podem se tornar porta<strong>do</strong>res assintomáticos e eliminam os<br />
microrganismos nas fezes, e menos freqüentemente no <strong>leite</strong>, durante anos.<br />
Desta forma, a erradicação da salmonelose <strong>do</strong>s rebanhos é uma tarefa de<br />
difícil implementação , pois envolve a identificação de animais através de testes<br />
sorológicos periódicos e o descarte <strong>do</strong> animal. No entanto, a presença deste<br />
microrganismo no ambiente em outros reservatórios dificulta ainda mais o seu<br />
controle. Sen<strong>do</strong> assim, a pasteurização <strong>do</strong> <strong>leite</strong> é a única medida de controle que<br />
elimina completamente a salmonela <strong>do</strong> <strong>leite</strong> e deriva<strong>do</strong>s.<br />
Listeria monocytogenes<br />
A L. monocytogenes é uma bactéria Gram (+), psicrotrófica, capaz de<br />
crescer em temperaturas de 2,5 a 42 o .C (temperatura ótima de crescimento: 30-37 o<br />
C), sen<strong>do</strong> considerada uma importante causa de aborto, septicemia e<br />
meningoencefalite em ovelhas, além de ser agente causa<strong>do</strong>r de mastite em vacas.<br />
Devi<strong>do</strong> a sua grande capacidade de sobrevivência no ambiente e de crescimento<br />
4
em ampla faixa de temperatura, a L. monocytogenes é atualmente, considerada um<br />
importante agente patogênico transmiti<strong>do</strong> pelos alimentos (1) .<br />
Em vacas com mastite causada por L. monocytogenes, esta bactéria pode<br />
ser encontrada em to<strong>do</strong>s os quartos e ser eliminada pelo <strong>leite</strong> por até 7 meses,<br />
além da sua eliminação através das fezes, urina e secreções <strong>do</strong> trato respiratório e<br />
reprodutivo de ovelhas sem sintomas aparentes (13) .<br />
A principal via de entrada da L. monocytogenes nos animais e no homem é<br />
a via oral, ainda que vias respiratórias e urogenitais possam, também, configurar<br />
vias de entrada <strong>do</strong> microrganismo. Em ruminantes, surtos de listeriose podem estar<br />
associa<strong>do</strong>s à ingestão de silagem contaminada, pois este microrganismo possui<br />
capacidade de crescimento em silagens de média e baixa <strong>qualidade</strong>, nas quais o<br />
pH é mais alcalino (ph ~ 5,5), o que favorece o seu crescimento.<br />
Em humanos, após a ingestão de alimentos contamina<strong>do</strong>s, a L.<br />
monocytogenes penetra através da parede intestinal e multiplica-se em hemácias<br />
ou nas Placas de Peyer e posteriormente, podem atingir outros teci<strong>do</strong>s. Ocorre,<br />
então, septicemia com as bactérias poden<strong>do</strong> atingir o sistema nervoso central,<br />
coração, olhos e útero, incluin<strong>do</strong> o feto, o que resulta em aborto. Em indivíduos<br />
imunossuprimi<strong>do</strong>s (AIDS, câncer), recém-nasci<strong>do</strong>s e jovens, a mortalidade pode<br />
chegar a 33% <strong>do</strong>s casos.<br />
Diversos alimentos podem ser fontes de transmissão da L. monocytogenes<br />
para humanos, sen<strong>do</strong> que o <strong>leite</strong> e deriva<strong>do</strong>s, carne bovina, suína e de peixes são<br />
considera<strong>do</strong>s como a principal fonte, em especial alimentos refrigera<strong>do</strong>s. No Brasil,<br />
alguns estu<strong>do</strong>s confirmam a presença de L. monocytogenes em <strong>leite</strong> cru e<br />
pasteuriza<strong>do</strong>, queijos e carnes (14) .<br />
O controle da L. monocytogenes nos alimentos, e em particular no <strong>leite</strong>, é<br />
um grande desafio para a indústria e produtores, devi<strong>do</strong> às características de<br />
resistência deste microrganismo aos diversos tratamentos térmicos. Ainda que a L.<br />
monocytogenes seja sensível a temperatura de pasteurização, o microrganismo<br />
tem si<strong>do</strong> isola<strong>do</strong> em alimentos pasteuriza<strong>do</strong>s, o que indica que a recontaminação é<br />
um fator importante após a pasteurização. A legislação brasileira e européia<br />
admite a presença de até 100 UFC/g ou ml de alimento, por considerar que apenas<br />
concentrações maiores (> 10 6 UFC/g) apresentam riscos em animais de<br />
laboratório (14) .<br />
Staphylococcus aureus<br />
As toxinfecções causadas por S. aureus são os tipos mais comuns de<br />
<strong>do</strong>enças de origem alimentar. Os sintomas geralmente se desenvolvem<br />
rapidamente, sen<strong>do</strong> de curta duração, com rápida recuperação e sem deixar<br />
seqüelas no indivíduo (1).<br />
Os sintomas mais comuns da intoxicação estafilocócica são náuseas,<br />
vômitos, diarréia, <strong>do</strong>r de cabeça e <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal, cujo desenvolvimento ocorre<br />
dentro de 1 a 6 horas, sen<strong>do</strong> muito rara a mortalidade (1) .<br />
O S. aureus é a espécie mais importante dentro <strong>do</strong> gênero Staphylococcus.<br />
Algumas cepas de S. aureus são produtoras de uma série de enterotoxinas de<br />
natureza protéica, cujo mecanismo de ação ainda não está totalmente conheci<strong>do</strong>,<br />
no entanto atuam de mo<strong>do</strong> diferente das toxinas produzidas por Salmonella e<br />
Clostridium perfringens, pois não causam diarréia pro acúmulo de flui<strong>do</strong>s (15) . A<br />
5
<strong>do</strong>se mínina de enterotoxinas estafilocócicas capazes de causar <strong>do</strong>ença é muito<br />
baixa, da ordem de 100-200 ng (nanogramas).<br />
Dos diversos alimentos aponta<strong>do</strong>s como fontes de enterotoxinas<br />
estafilocócicas para humanos, o <strong>leite</strong> e deriva<strong>do</strong>s tem si<strong>do</strong> identifica<strong>do</strong>s como<br />
causas importantes de surtos. Mesmo consideran<strong>do</strong> que o S. aureus seja o<br />
principal agente causa<strong>do</strong>r de mastite em vacas <strong>leite</strong>iras em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, outras<br />
importantes fontes de contaminação <strong>do</strong> <strong>leite</strong> são os equipamentos e utensílios, a<br />
pele <strong>do</strong> teto e mãos <strong>do</strong>s ordenha<strong>do</strong>res, e desta forma, considera-se que a principal<br />
fonte de contaminação seja a manipulação <strong>do</strong>s alimentos durante a produção e<br />
processamento.<br />
A temperatura ótima para a produção de enterotoxinas é de 37-40 o C. Sen<strong>do</strong><br />
assim, o armazenamento <strong>do</strong> <strong>leite</strong> e deriva<strong>do</strong>s em temperaturas de refrigeração<br />
(
vômitos e fezes sanguinolentas, que apresentam duração variável de um dia até<br />
poucas semanas.<br />
O <strong>leite</strong> cru é a principal causa associada com surtos de campilobacteriose<br />
em humanos e, portanto, a sua pasteurização e a prevenção de contaminação<br />
após a pasteurização são as principais formas de controle.<br />
Tuberculose<br />
A tuberculose é ainda um grave problema de saúde pública em países em<br />
desenvolvimento como o Brasil, sen<strong>do</strong> caracterizada como uma das <strong>do</strong>enças<br />
infecciosas que mais matam em to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. De acor<strong>do</strong> com a Organização<br />
Mundial da Saúde (OMS), 8 milhões de casos novos e quase 3 milhões de mortes<br />
por tuberculoses tem ocorri<strong>do</strong> a cada ano, caracterizan<strong>do</strong> uma situação epidêmica.<br />
No Brasil, quase 90.000 casos são notifica<strong>do</strong>s por ano; como há subnotificação,<br />
estima-se que o número seja maior, elevan<strong>do</strong>-se talvez a 130.000 (16) . A tuberculose<br />
é ainda responsável por 32% da letalidade de pacientes HIV-positivo, o triplo de<br />
qualquer outra causa patológica.<br />
O agente etiológico da tuberculose é o chama<strong>do</strong> "Complexo Mycobacterium<br />
tuberculosis", constituí<strong>do</strong> pelo M. tuberculosis e M. bovis. A tuberculose bovina é<br />
causada pelo M.bovis, o qual pode ser transmiti<strong>do</strong> ao homem. Por outro la<strong>do</strong> o M.<br />
tuberculosis é menos patogênico ao bovino, sen<strong>do</strong> que este agente apresenta<br />
caráter autolimitante em bovinos.<br />
Tabela 2 - Tuberculose no Brasil.<br />
1985 1986 1987 1988 1989 1990* 1991<br />
Casos Notifica<strong>do</strong>s 84.310 83.731 81.826 82.395 80.375 74.570 84.990<br />
Coeficiente/100.000 64,6 63,0 60,4 58,5 57,1 52,0 57,8<br />
1992 1993** 1994** 1995 1996 1997 1998<br />
Casos Notifica<strong>do</strong>s 85.955 75.453 75.759 91.013 85.860 83.309*** 82.931<br />
Coeficiente/100.000 57,6 54,0 47,6 58,6 54,7 51,7 51,3<br />
90* - RJ informou apenas da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> município <strong>do</strong> Rio de Janeiro - 93/94** - Exceto Rio de Janeiro<br />
*** - RJ, PR, da<strong>do</strong>s provisórios. Fonte: CRHF/CNPS/CENEPI/FNS/MS.<br />
A estimativas sobre a prevalência da tuberculose bovina são imprecisas,<br />
mas pode-se apontá-la como um <strong>do</strong>s mais graves problemas sanitários,<br />
principalmente em rebanhos <strong>leite</strong>iros. No Brasil, estima-se que cerca de 1,5<br />
milhões de bovinos possam apresentar a <strong>do</strong>ença (18) . O <strong>leite</strong> cru de origem de<br />
animais tuberculosos é uma das possíveis fontes de transmissão <strong>do</strong><br />
Mycobacterium <strong>do</strong> bovino ao homem, no entanto, as principais vias de transmissão<br />
entre animais são as vias aéreas e a via oral. Ainda que seja muito difícil quantificar<br />
a tuberculose de origem bovina, estima-se que cerca de 5% <strong>do</strong>s casos de<br />
tuberculose humana sejam de origem bovina, o que totalizaria cerca de 4.000<br />
casos por ano no Brasil (18).<br />
7
Tabela 3 - Da<strong>do</strong>s oficiais sobre a tuberculose bovina no Brasil.<br />
Item Fonte 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Média<br />
Rebanho bovino brasileiro<br />
(milhões de cabeças)<br />
IBGE 140 143 146 148 150 153 156 158 149<br />
Vacas ordenhadas (milhões<br />
de cabeças)<br />
IBGE 13,6 13,6 13,7 13,7 13,7 13,8 13,8 13,8 13,7<br />
Tuberculina produzida<br />
(milhões de <strong>do</strong>ses)<br />
LARA 1,00 0,89 0,89 0,99 0,84 1,17 1,52 1,10 1,05<br />
% <strong>do</strong>se tuberculina/rebanho<br />
IBGE/LARA 0,7% 0,6% 0,6% 0,7% 0,6% 0,8% 1,0% 0,7% 0,7%<br />
brasileiro<br />
% <strong>do</strong>se tuberculina/vacas<br />
ordenhadas<br />
IBGE/LARA 7,4% 6,5% 6,5% 7,2% 6,1% 8,5% 11,0% 8,0% 7,7%<br />
Tuberculinizações<br />
notificadas (milhões)<br />
SDA 0,39 0,39 0,55 0,42 0,41 0,37 0,45 0,36 0,42<br />
% Tuberculinas notificadas SDA/LARA 39% 44% 62% 43% 49% 32% 30% 32% 40%<br />
% Tuberculinas positivas ou<br />
suspeitas<br />
SDA 1,15% 1,24% 1,68% 1,34% 1,22% 1,05% 1,31% 1,40% 1,30%<br />
Número de cabeças<br />
positivas ou suspeitas<br />
SDA 3.332 4.830 9.026 5.692 5.071 3.918 5.937 5.011 5.352<br />
Animais oficialmente<br />
abati<strong>do</strong>s<br />
SDA 668 542 148 455 511 454 621 207 451<br />
% Animais positivos ou<br />
suspeitos abati<strong>do</strong>s<br />
Estimativa oficial para<br />
SDA 20% 11% 2% 8% 10% 12% 10% 4% 8%<br />
rebanho brasileiro: milhões<br />
de cabeças positivas ou<br />
suspeitas<br />
Fonte: (18).<br />
IBGE/SDA 1,4 1,4 1,5 1,5 1,5 1,5 1,6 1,6 1,5<br />
A medida mais eficaz para a prevenção desta zoonose baseia-se<br />
principalmente em programas de diagnóstico de animais positivos e o seu abate ou<br />
em alguns casos o tratamento. No entanto, como forma de garantir a segurança <strong>do</strong><br />
<strong>leite</strong> e deriva<strong>do</strong>s, a única medida eficaz é a pasteurização <strong>do</strong> <strong>leite</strong> e deriva<strong>do</strong>s, o<br />
que elimina totalmente o Mycobacterium.<br />
Brucelose<br />
A brucelose e a tuberculose são as zoonoses mais conhecidas que podem<br />
ser transmitidas pelo <strong>leite</strong>. As diversas espécies de animais <strong>do</strong>mésticos podem ser<br />
hospedeiras de espécies de brucelas que são patogênicas para o homem: cabras e<br />
ovelhas (Brucella mellintensis), bovinos (B. abortus), suínos (B. suis) e cães (B.<br />
canis).<br />
Nos animais, a Brucella tende a se localizar no aparelho reprodutivo, ten<strong>do</strong><br />
como sintoma principal o aborto e a eliminação das brucelas pelo <strong>leite</strong> e através<br />
<strong>do</strong>s fetos aborta<strong>do</strong>s. Entretanto, animais porta<strong>do</strong>res sem sintomas aparentes<br />
também podem eliminar as brucelas pelo <strong>leite</strong>, as quais apresentam elevada<br />
capacidade de sobrevivência no <strong>leite</strong> cru e deriva<strong>do</strong>s. A pasteurização lenta ou<br />
rápida destrói completamente estes microgranismos.<br />
Após a ingestão de <strong>leite</strong> contamina<strong>do</strong> ou mesmo o contato com fetos<br />
aborta<strong>do</strong>s, o perío<strong>do</strong> de incubação da <strong>do</strong>ença no homem pode ser de algumas<br />
semanas até meses, localizan<strong>do</strong>-se posteriormente nos ossos, articulações,<br />
8
nervos, cérebro e órgãos sexuais (1) . Os sintomas mais freqüentes são calafrios,<br />
febre, mal estar, <strong>do</strong>r de cabeça, su<strong>do</strong>rese e depressão mental, sen<strong>do</strong> o diagnóstico<br />
bastante difícil, pois depende <strong>do</strong> isolamento <strong>do</strong> agente no sangue, fíga<strong>do</strong>, nódulos<br />
linfáticos ou medula óssea.<br />
O controle de <strong>do</strong>ença passa pela identificação sorológica de animais<br />
positivos e o seu descarte, além da vacinação de fêmeas antes da puberdade. Em<br />
termos de saúde pública o controle desta zoonose passa obrigatoriamente pela<br />
pasteurização <strong>do</strong> <strong>leite</strong> e deriva<strong>do</strong>s.<br />
Streptococcus zooepidemicus<br />
No ano de 1998, foi diagnostica<strong>do</strong> na cidade de Nova Serrana um surto de<br />
nefrite aguda, com 253 casos identifica<strong>do</strong>s e 3 pessoas vieram a óbito. Na época, a<br />
impressa deu grande destaque para o assunto pois foi levantada a hipótese de que<br />
a origem <strong>do</strong> surto seria o <strong>leite</strong> contamina<strong>do</strong> com a bactéria Streptococcus equi<br />
subespécie zooepidemicus. No entanto, apenas neste ano, os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
trabalhos de pesquisa sobre a epidemiologia daqueles casos foram publica<strong>do</strong>s.<br />
Foi realiza<strong>do</strong> um extenso trabalho de identificação da origem da bactéria<br />
encontrada nas pessoas <strong>do</strong>entes, chegan<strong>do</strong>-se à conclusão de que indivíduos que<br />
ingeriram um queijo fresco produzi<strong>do</strong> na cidade tiveram maior chance de adquirir a<br />
<strong>do</strong>ença que aquelas que não tiveram contato com esse produto. Vale a pena<br />
destacar que este queijo fresco era produzi<strong>do</strong> com <strong>leite</strong> cru, o que pode ser<br />
considera<strong>do</strong> um alto fator de risco para a transmissão de um grande número de<br />
<strong>do</strong>enças (17) .<br />
Os resulta<strong>do</strong>s mais surpreendentes <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, entretanto, é de que os<br />
pesquisa<strong>do</strong>res não encontraram a mesma bactéria nas vacas com mastite ou<br />
mesmo na pele <strong>do</strong>s tetos, como seria de se esperar. O S. equi zooepidemicus não<br />
é considera<strong>do</strong> um agente comum de mastites em vacas, ainda que possa ser<br />
encontra<strong>do</strong> em casos raros. Após uma completa busca, foi isola<strong>do</strong> o mesmo<br />
agente da garganta da mulher que preparava o queijo, sen<strong>do</strong> esta considerada<br />
definitivamente a origem de to<strong>do</strong> o surto. Depois que o queijo em questão foi<br />
retira<strong>do</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> local, nenhum novo caso de nefrite foi diagnostica<strong>do</strong>.<br />
Paratuberculose<br />
Até recentemente não havia uma posição definitiva sobre o efeito da<br />
pasteurização <strong>do</strong> <strong>leite</strong> sobre a sobrevivência <strong>do</strong> Mycobacterium paratuberculosis, o<br />
agente causa<strong>do</strong>r paratuberculose ou Doença de Johne. Esta <strong>do</strong>ença é uma<br />
enterocolite crônica, sem cura que causa grandes prejuízos na pecuária de <strong>leite</strong> em<br />
to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que estu<strong>do</strong>s recentes têm indica<strong>do</strong> a sua presença aqui no<br />
Brasil. Num estu<strong>do</strong> recente realiza<strong>do</strong> pela Faculdade de Medicina Veterinária da<br />
USP, os resulta<strong>do</strong>s apontaram que cerca de 40% <strong>do</strong>s animais estuda<strong>do</strong>s<br />
apresentaram anticorpos contra o agente, o que torna o problema bastante<br />
preocupante, uma vez que se imaginava que esta era uma <strong>do</strong>ença exótica em<br />
nosso meio.<br />
Uma grande preocupação de saúde pública era de que este agente poderia<br />
também ser o causa<strong>do</strong>r de uma <strong>do</strong>ença em humanos, chamada de Doença de<br />
Crohn, que apresenta algumas semelhanças de sintomas com a paratuberculose e,<br />
da mesma forma, não tem cura. Alguns pesquisa<strong>do</strong>res questionavam se a<br />
pasteurização seria realmente efetiva em eliminar o M. paratuberculosis <strong>do</strong> <strong>leite</strong>,<br />
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uma vez que ele pode estar no <strong>leite</strong> produzi<strong>do</strong> por animais acometi<strong>do</strong>s, sem<br />
apresentarem sintomas.<br />
Em estu<strong>do</strong> feito pelo Centro Nacional de Saúde Animal <strong>do</strong>s EUA (19) , sobre a<br />
resistência <strong>do</strong> M. paratuberculosis frente a pasteurização, os resulta<strong>do</strong>s<br />
demonstraram de forma definitiva que este agente é eficientemente elimina<strong>do</strong> a 72 o<br />
C por 15 segun<strong>do</strong>s, o que demonstra que as temperaturas utilizadas para a<br />
pasteurização comercial são eficientes em destruir este perigoso agente. Estes<br />
resulta<strong>do</strong>s de estu<strong>do</strong>s de pesquisa reafirmam a importância <strong>do</strong> consumo de <strong>leite</strong> ou<br />
outros deriva<strong>do</strong>s lácteos que tenha si<strong>do</strong> previamente pasteuriza<strong>do</strong>s. Esta é a única<br />
forma de garantir a segurança <strong>do</strong> <strong>leite</strong> de consumo e manter a imagem de que o<br />
<strong>leite</strong> é um alimente seguro.<br />
Medidas de controle<br />
Na Comunidade Européia, as políticas que estabelecem as diretrizes para o<br />
comércio de <strong>leite</strong> cru variam consideravelmente entre os países, sen<strong>do</strong> que, na<br />
maioria deles, o comércio <strong>do</strong> <strong>leite</strong> in natura é oficialmente proibi<strong>do</strong>. Uma das<br />
exceções fica por conta da Inglaterra, aonde não há qualquer norma que proíba o<br />
comércio <strong>do</strong> <strong>leite</strong> cru, sen<strong>do</strong> a inspeção oficial realizada ao nível da própria<br />
propriedade, através <strong>do</strong> controle da <strong>qualidade</strong> <strong>do</strong> <strong>leite</strong> nos tanques de resfriamento,<br />
e <strong>do</strong> monitoramento periódico da sanidade <strong>do</strong> rebanho. Numa pesquisa conduzida<br />
neste país em 1997, foram analisadas 1097 amostras de <strong>leite</strong> cru comercializadas<br />
legalmente oriundas de 242 diferentes estabelecimentos comerciais, observan<strong>do</strong>se<br />
que 41 amostras de 28 pontos de venda estavam contaminadas com bactérias<br />
potencialmente patogênicas. No entanto, 29 destas 41 amostras apresentavam<br />
contagens bacterianas satisfatórias, apesar da presença de microorganismos<br />
<strong>patogênicos</strong> ter si<strong>do</strong> previamente confirmada nas mesmas.<br />
Neste mesmo estu<strong>do</strong> foram levanta<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s relacionan<strong>do</strong> a política<br />
a<strong>do</strong>tada com relação ao comércio de <strong>leite</strong> cru em alguns países europeus, e o<br />
número de incidentes relaciona<strong>do</strong>s ao consumo de <strong>leite</strong> registra<strong>do</strong>s nas<br />
populações. A incidência comprovadamente maior de problemas em países aonde<br />
o comércio <strong>do</strong> <strong>leite</strong> cru é libera<strong>do</strong> permite concluir que, a exemplo <strong>do</strong> que é feito na<br />
Inglaterra, a simples avaliação da <strong>qualidade</strong> higiênica <strong>do</strong> <strong>leite</strong>, e o monitoramento<br />
sanitário <strong>do</strong> rebanho, não garante a segurança alimentar <strong>do</strong> produto final. Esta<br />
garantia só pode ser obtida com a pasteurização <strong>do</strong> <strong>leite</strong>.<br />
De mo<strong>do</strong> geral, os microorganismos <strong>patogênicos</strong> não sintetizam<br />
expressivamente as enzimas responsáveis pelas alterações nas características<br />
organolépticas e na composição <strong>do</strong> <strong>leite</strong>, e por isto não causam comprometimento<br />
aparente da <strong>qualidade</strong> industrial e <strong>do</strong> tempo de prateleira <strong>do</strong>s produtos lácteos<br />
pasteuriza<strong>do</strong>s. Por este motivo, a presença destes microorganismos no <strong>leite</strong> pode<br />
muitas vezes ser subestimada ou passar desapercebida, o que é um fator<br />
gravíssimo se analisa<strong>do</strong> sob o prisma da saúde pública.<br />
Conscientes da importância de se identificar os agentes emergentes no <strong>leite</strong>,<br />
a indústria vem se arman<strong>do</strong> através da implementação <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> Programa de<br />
Controle e Análise de Pontos Críticos (HACCP - “Hazard Analysis Critical Control<br />
Points”). Este programa visa estabelecer um melhor sistema de controle de<br />
<strong>qualidade</strong> dentro das unidades processa<strong>do</strong>ras atuan<strong>do</strong> sobre os pontos críticos da<br />
produção, que, por definição, são as fases da produção e processamento que<br />
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apresentam maiores riscos associa<strong>do</strong>s à possível contaminação <strong>do</strong> <strong>leite</strong> por<br />
microorganismos.<br />
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