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Bacterias Patogenicas - Marcio Coelho Campos.pdf - Qualittas

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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO<br />

ESPECIELIZAÇÃO Latu sensu:<br />

VIGILÂNCIA SANITÁRIA E CONTROLE DE QUALIDADE DO<br />

ALIMENTO<br />

BACTÉRIAS PATOGÊNICAS VEICULADAS PELO PESCADO<br />

MARCIO COELHO CAMPOS<br />

SÃO PAULO<br />

2009<br />

1


MARCIO COELHO CAMPOS<br />

BACTÉRIAS PATOGÊNICAS VEICULADAS PELO PESCADO<br />

Monografia apresentada para conclusão do Curso de<br />

Especialização Latu sensu em Vigilância Sanitária e<br />

Controle de Qualidade do Alimento.<br />

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Barbosa Henriques<br />

SÃO PAULO<br />

2009<br />

2


BACTÉRIAS PATOGÊNICAS VEICULADAS PELO PESCADO<br />

Elaborado por <strong>Marcio</strong> <strong>Coelho</strong> <strong>Campos</strong><br />

Aluno do Curso de Pós-Graduação de Vigilância Sanitária e Controle de<br />

Qualidade do Alimento da UCB<br />

Foi analisado e aprovado com grau: ______<br />

São Paulo,__ de maio de 2009.<br />

__________________<br />

Membro<br />

___________________<br />

Membro<br />

_______________________________<br />

Professor Orientador<br />

Prof. Dr. Marcelo Barbosa Henriques<br />

SÃO PAULO, 2009<br />

3


DEDICATÓRIA<br />

Dedico este trabalho a minha família, aos meus<br />

pais, irmãos, avós, tios, primos e as minhas cadelas,<br />

por mais um passo para no meu aperfeiçoamento da<br />

minha vida acadêmica.<br />

4


AGRADECIMENTOS<br />

Agradeço aos Professores e amigos Marcelo Barbosa Henriques e Carlos<br />

Alberto Zikan, por mais uma ajuda dada a mim na minha área acadêmica.<br />

Aos amigos de longa data, não vou citar nomes para não esquecer de<br />

nenhum, e aos amigos que fiz durante a Pós-Graduação.<br />

Aos professores da Pós-Graduação.<br />

Aos funcionários do <strong>Qualittas</strong> de São Paulo que ajudaram bastante também<br />

(Selma, Andrea e Patrícia).<br />

A todos os outros colegas não citados.<br />

MUITO OBRIGADO.<br />

5


RESUMO<br />

CAMPOS, M. C. Bactérias Patogênicas Veiculadas pelo Pescado. 2009. 66f.<br />

Monografia (Pós-Graduação) – Universidade Castelo Branco (UCB), São Paulo,<br />

2009.<br />

As bactérias patogênicas veiculadas pelo pescado são de grande importância,<br />

principalmente quando enfocamos o pescado como alimento nobre, rica fonte de<br />

proteínas para o homem. O pescado encontra-se, na natureza, praticamente livre<br />

dos microrganismos patogênicos, sendo contaminado pelo próprio homem, seja pela<br />

poluição do seu habitat, ou pela manipulação em condições higiênicas sanitárias<br />

deficientes. Com isso deve-se sempre estar avaliando essas condições do pescado.<br />

Neste trabalho são descritos as principais bactérias causadoras de patologias e os<br />

danos que as mesmas podem ocasionar ao consumidor referindo-se também aos<br />

meios de controle e prevenção. Inicia-se com as “Alterações do Pescado”,<br />

demonstrando que as mudanças que ocorrem no pescado, após a captura, coleta ou<br />

despesca, nem sempre são causadas por microrganismos patogênicos.<br />

Palavras-chave: Pescado. Microrganismos patogênicos. Bactérias.<br />

6


ABSTRACT<br />

CAMPOS, M.C. Pathogenic bacterium transmitted by the Fish. 2009. 66f.<br />

Monografy (Post-Graduation) – Universidade Castelo Branco (UCB), São Paulo,<br />

2009.<br />

The pathogenic bacterium transmitted by the fish, are of great importance, mainly<br />

when we focus the fish as a noble food, being a rich protein source for man. The fish<br />

can be found in the nature, practically free from the pathogenic bacterium, being<br />

contaminated by the human, either by its habitat’s pollution, or by the manipulation of<br />

precarious sanitary hygienic conditions. By this conclusion, it is advisable that the fish<br />

conditions should be regularly analyzed. In this project, there is a description of the<br />

main bacterium that transmit the pathologies and the damages that they can cause to<br />

consumer, including the ways of control and prevention. It is initiated with the<br />

“Alterations in the Fish", proving that the changes that occur in the fish – after the<br />

capture, the collects or the return to its habitat – are not always caused by pathogenic<br />

microorganisms.<br />

Keywords: Fish. Pathogenic Microorganisms. Bacterium.<br />

7


“A mente que se abre a uma nova idéia jamais<br />

voltará ao seu tamanho original”<br />

Albert Einstein<br />

8


SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 14<br />

2 ALTERAÇÕES DO PESCADO...................................................................... 19<br />

2.1 “Rigor Mortis”............................................................................................ 19<br />

2.2. Deteriora Do Pescado.............................................................................. 21<br />

2.2.1 Deteriora Oxidativa................................................................................... 22<br />

2.2.2 Deteriora Autolítica................................................................................... 23<br />

2.2.3 Deteriora Bacteriana................................................................................. 24<br />

3 MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS.......................................................... 28<br />

3. 1 Bactérias Do Meio Ambiente................................................................... 30<br />

3.1.1 Clostridium botulinum............................................................................... 30<br />

3.1.2 Vibrio sp.................................................................................................... 35<br />

3.1.2.1 Vibrio parahaemolyticus........................................................................ 35<br />

3.1.2.2 Vibrio cholerae....................................................................................... 38<br />

3.1.3 Listeria spp............................................................................................... 40<br />

3.1.4 Aeromonas sp.......................................................................................... 42<br />

3.2 Bactérias Por Contaminação.................................................................... 44<br />

3.2.1 Staphylococcus aureus............................................................................ 45<br />

3.2.2 Salmonella spp......................................................................................... 47<br />

3.2.3 Escherichia coli......................................................................................... 49<br />

3.2.4 Shigella sp................................................................................................ 52<br />

4 PADRÕES MICROBIOLÓGICOS DO PESCADO......................................... 54<br />

5 CONCLUSÃO................................................................................................ 55<br />

9


REFERÊNCIAS................................................................................................. 57<br />

ANEXOS............................................................................................................ 63<br />

10


LISTA DE FIGURAS<br />

Figura 1. Eventos que ocorrem nos tecidos musculares desde a captura<br />

até a putrefação............................................................................................. 20<br />

Figura 2. Deteriora do Peixe Fresco em Relação à Temperatura................. 21<br />

11


LISTA DE QUADROS<br />

Quadro 1. Doenças veiculadas por crustáceos nos E.U.A. de 1990 a 1998<br />

- Surtos e casos nos quais o agente etiológico foi identificado...................... 16<br />

Quadro 2. Doenças veiculadas por peixes nos E.U.A. de 1990 a 1998 -<br />

Surtos e casos nos quais o agente etiológico foi identificado........................ 16<br />

Quadro 3. Doenças veiculadas por bivalves nos E.U.A. de 1990 a 1998 -<br />

Surtos e casos nos quais o agente etiológico foi identificado........................ 17<br />

Quadro 4. Causas de rejeição/detenção de pescado importado dos E.U.A.<br />

durante o período de jan/1999 a jun/2002..................................................... 18<br />

Quadro 5. Tipo de produtos da pesca responsáveis pelo botulismo............. 34<br />

12


LISTA DE ABREVIAÇÕES<br />

TMAO...................................................... Óxido de Trimetilamina<br />

TMA........................................................ Trimetilamina<br />

DMA........................................................ Dimetilamina<br />

FA........................................................... Formoldeido<br />

ANVISA................................................... Agência Nacional de Vigilância Sanitária<br />

FDA......................................................... Food and Drug Administration<br />

WHO....................................................... World Health Organization<br />

EPEC...................................................... E. coli enteropatogênica<br />

EIEC........................................................ E. coli enteroinvasora<br />

ETEC....................................................... E. coli enterotóxica<br />

EHEC...................................................... E. coli entero-hemorrágica<br />

EAEC...................................................... E. coli enteroagregativa<br />

DAEC...................................................... E. coli difusamente aderente<br />

13


1. INTRODUÇÃO<br />

Dentre as fontes alimentares protéicas, existe um grupo vasto, intensamente<br />

aproveitado pelo homem, designado genericamente como carne. Dentro deste grupo,<br />

o pescado é o alimento que apresenta maior variedade e diversificação de forma,<br />

sendo assim classificados como peixes, crustáceos, moluscos e anfíbios<br />

(MACHADO, 1994).<br />

Por ser considerado um alimento altamente perecível, o pescado exige<br />

muitos cuidados em relação ao manuseio, tanto durante o processo de captura<br />

quanto durante a estocagem nas urnas isotérmicas ou câmaras frigoríficas dos<br />

barcos pesqueiros (VIEIRA, 2004).<br />

Quando o pescado é capturado e/ou coletado, retirado do seu habitat, até<br />

chegar à mesa do consumidor, a qualidade final deste produto será o resultado de<br />

todos os fatores que o afetaram, durante todas as etapas desta viagem (SANTOS;<br />

RAJADURAI, 1992).<br />

Nas águas aonde foi efetuada a pesca, podem existir perigos em potencial,<br />

para a saúde pública, que afetam a qualidade do pescado; ele pode estar sendo<br />

capturado em oceanos de águas frias; assim, sua flora microbiana, que sempre<br />

reflete aquela do local aonde vive, apresentará contagem total baixa, com<br />

predominância de bactérias psicrófilas. Os microrganismos podem representar<br />

riscos, como: bactérias deteriorativas, que, como o próprio nome diz, deterioram o<br />

pescado; também podem ser encontradas bactérias patogênicas (SANTOS;<br />

RAJADURAI, 1992).<br />

Os peixes também podem ser capturados em rios e lagos; a microflora<br />

destes locais será completamente diferente daquela de água salgada. Esta pode ser<br />

14


uma das razões porque os peixes de água doce, quando devidamente<br />

acondicionados em gelo, mantém à qualidade por mais tempo, do que aqueles<br />

procedentes da pesca marítima (SANTOS; RAJADURAI, 1992).<br />

A captura pode ser realizada em águas costeiras, próximas a moradias,<br />

geralmente sem tratamento de esgotos, assim como receber influência de áreas<br />

industrializadas. Assim patógenos provenientes de contaminação humana, podem<br />

estar presentes em grande quantidade, bem como poluentes químicos, por exemplo:<br />

metais pesados (mercúrio, cádmio) e pesticidas ou agrotóxicos. Estes<br />

microrganismos e os poluentes químicos podem contaminar o pescado, tornando-o<br />

um perigo para a saúde do consumidor, sendo que o risco de contaminação depende<br />

do grau de poluição daquela área. Se a pesca for realizada em regiões tropicais,<br />

onde a água apresenta temperatura mais alta, a microflora terá contagem total alta,<br />

multiplicando-se muito mais do que em águas frias (SANTOS; RAJADURAI, 1992).<br />

Os bivalves constituem um grupo de organismos que necessitam de uma<br />

atenção especial, pois filtram a água do seu habitat, concentrando em seu corpo os<br />

microrganismos e poluentes químicos ali existentes. Desta forma, a concentração de<br />

microrganismos patogênicos, biotoxinas e contaminantes químicos, podem constituir-<br />

se em um serio perigo para a saúde do consumidor (SANTOS; RAJADURAI, 1992).<br />

Alguns microrganismos patogênicos ocorrem no próprio local da pesca,<br />

como, por exemplo: Clostridium botulinum, Vibrio spp (incluindo V. cholerae e V.<br />

parahaemolyticus) e Listeria sp. Outros, como: Escherichia coli, Staphylococcus<br />

aureus, Salmonella spp e Shigella spp, contaminam o pescado, através do homem,<br />

durante a manipulação (SANTOS; RAJADURAI, 1992).<br />

15


Quadro 1: Doenças veiculadas por crustáceos nos E.U.A. de 1990 a 1998 - Surtos e<br />

casos nos quais o agente etiológico foi identificado.<br />

SURTOS CASOS<br />

Agente Total Total<br />

Salmonella 1 45<br />

Campylobacter 1 32<br />

V. parahaemolyticus 1 7<br />

S. aureus 1 2<br />

V. cholerae 3 14<br />

TOTAL 7 100<br />

Fonte: HUSS et al., 2004.<br />

Quadro 2: Doenças veiculadas por peixes nos E.U.A. de 1990 a 1998 - Surtos e<br />

casos nos quais o agente etiológico foi identificado.<br />

SURTOS CASOS<br />

Agente Total % Hawai Florida Alasca Total %<br />

Histamina 131 50 46 10 0 759 47<br />

Ciguatera 98 37 73 16 0 394 24<br />

Botulismo 14 5 1 0 10 43 3<br />

Salmonella 11 4 305 18<br />

Half Disease 2 1 6 -<br />

S. aureus 1 - 2 -<br />

E. coli 1 - 3 -<br />

V. cholerae 1 - 25 2<br />

C. perfringens 1 - 26 2<br />

16


Vírus Norwalk 1 - 37 2<br />

Tetrodoxina 1 - 3 -<br />

Prod. químicos 1 - 58 4<br />

TOTAL 263 100 1661 100<br />

Fonte: HUSS et al., 2004.<br />

Quadro 3: Doenças veiculadas por bivalves nos E.U.A. de 1990 a 1998 - Surtos e<br />

casos nos quais o agente etiológico foi identificado.<br />

SURTOS CASOS<br />

Agente Total % Total %<br />

V. parahaemolyticus 18 27 733 22<br />

Vírus Norwalk 15 23 2175 66<br />

Toxina Paralisante dos Bivalves 14 20 92 3<br />

Salmonella 6 9 183 6<br />

Histamina 2 3 4 -<br />

Ciguatera 3 5 5 -<br />

Shigella 2 3 17 0,5<br />

Campylobacter 2 3 6 -<br />

V. vulnificus 1 - 2 -<br />

V. alginolyticus 1 - 4 -<br />

C. perfringens 1 - 57 2<br />

Giardia 1 - 3 -<br />

Fonte: HUSS et al., 2004.<br />

TOTAL 66 100 3281 100<br />

17


Quadro 4: Causas de rejeição/detenção de pescado importado dos E.U.A. durante o<br />

período de jan/1999 a jun/2002.<br />

Número de Rejeição e detenção<br />

Causa de rejeição/detenção 1999 2000 2001 2002<br />

Microbiológico 59 53 49 47<br />

V. parahaemolyticus 13 10 19 14<br />

V. vulnificus 2 1 3<br />

V. cholerae 9 8 9 5<br />

Outros Vibrios 1<br />

Enterobacteria 6 2 4 6<br />

S. aureus 7 0<br />

Listeria 0<br />

Salmonella 20 18 10 12<br />

Hepatite 1 1<br />

Contagem Total 1 8 4 7<br />

Fungos 1 1<br />

Clostridium 2 1<br />

Fonte: HUSS et al., 2004.<br />

18


2. ALTERAÇÕES NO PESCADO<br />

2.1. “Rigor Mortis”<br />

O rigor mortis está diretamente relacionado aos estágios iniciais da<br />

deterioração do pescado. Por isso, os fatores que influem no aparecimento do rigor<br />

mortis são importantes na conservação do pescado (GEROMEL; FORSTER, 1988).<br />

O tempo necessário para que o rigor mortis se inicie e sua duração depende<br />

muito de vários fatores tais como a espécie de pescado, a maneira com que o<br />

mesmo é capturado, e a temperatura em que o pescado é estocado após a captura<br />

(GEROMEL; FORSTER, 1988).<br />

A fase de “rigor mortis” é caracterizada pelo enrigecimento do músculo por<br />

contração extrema e irreversível de suas fibras. Não há possibilidade de relaxamento<br />

para a contração muscular produzida no rigor, devido ao esgotamento das fontes<br />

energéticas (MACHADO, 1994).<br />

O rigor mortis pode ser considerado como uma contração muscular<br />

irreversível, pela formação de grande quantidade de pontes de actinomiosina, em<br />

número bem maior do que ocorre quando da contração muscular normal do animal<br />

vivo. E essas pontes não podem ser quebradas, pois não existe energia suficiente<br />

para tal (KAI; MORAIS, 1988).<br />

A formação da actinomiosina é acompanhada por mudança no estado da<br />

proteína, causando uma contração dos músculos que é chamado rigor mortis. Ao<br />

mesmo tempo, começa a haver uma redução do pH do músculo de 6,9 para 6,3 pela<br />

quebra do glicogênio e nucleotídeos. A rapidez da instalação e duração do rigor<br />

mortis depende de fatores como: espécie, condições em que o pescado foi içado<br />

19


para o barco, maneira como é morto, temperatura e condições de estocagem (SÁ,<br />

2004).<br />

É muito importante provocar o retardamento e o prolongamento do período<br />

de rigor mortis, através do processo de resfriamento do pescado, pois quanto maior<br />

for esse período, maiores são as possibilidades de se retardar o processo seguinte<br />

de deterioração (KAI; MORAIS, 1998).<br />

FIGURA 1: Eventos que ocorrem nos tecidos musculares desde a captura até a<br />

putrefação<br />

Fonte: GUZMÁN, 1988.<br />

20


2.2. Deteriora Do Pescado<br />

Logo após ser capturado, o pescado sofre uma série de modificações<br />

bioquímicas, as quais poderão favorecer o crescimento e a multiplicação das<br />

bactérias, naturalmente presentes em sua microbiota. Se forem acrescidos a essas<br />

modificações fatores externos tais como: captura do pescado em águas poluídas,<br />

inorbservações nas condições ideais de refrigeração, manuseio e transporte, menor<br />

será o tempo de conservação do pescado (VIEIRA, 2004).<br />

Segundo Huss (1997), o estado designado por “deteriorado” não esta<br />

claramente definido em termos objetivos. Pode-se indicar os seguintes sinais<br />

evidentes de deteriora: detecção de cheiros e sabores desagradáveis; formação de<br />

muco; produção de gás; coloração anormal; alterações de textura.<br />

O desenvolvimento destes sinais de deterioração do peixe e dos produtos da<br />

pesca se dá devido a um conjunto de fenômenos microbiológicos, químicos e<br />

autolíticos (HUSS, 1997).<br />

Figura 2: Deteriora do Peixe Fresco em Relação à Temperatura.<br />

Fonte: FAO – INFOFISH – Technical Training Manual 1, The Need For Inspection<br />

And Quality Assurance.<br />

21


2.2.1. Deteriora Oxidativa<br />

Os processos de oxidação, ou autoxidação envolvem apenas o oxigênio e os<br />

lipídios insaturados. O primeiro passo leva a formação de hidroperóxidos que não<br />

conferem nenhum sabor, mas podem levar ao aparecimento de colorações<br />

castanhas a amareladas no tecido do peixe. A degradação dos hidroperóxidos dá<br />

origem a formação de aldeídos e cetonas. Estes compostos têm um sabor forte de<br />

ranço. A oxidação pode ser iniciada e acelerada pelo calor, luz e várias substâncias<br />

orgânicas e inorgânicas (por exemplo, Cu e Fe). São também conhecidos alguns<br />

antioxidantes que apresentam o efeito oposto (alfa-tocoferol, ácido ascórbico, acido<br />

cítrico e carotenóides) (HUSS, 1997).<br />

O processo é chamado de autoxidação porque, uma vez iniciado, torna-se<br />

difícil controlá-lo, devido à intensa formação de moléculas altamente reativas,<br />

conhecidas como radicais livres. No caso do pescado, as próprias proteínas do<br />

sangue e músculo são agentes catalisadores das reações de oxidação. Se ocorre<br />

desidratação, a taxa de oxidação do produto aumenta; mas se o armazenamento é<br />

feito sob condições de pouca ou nenhuma perda de umidade, por exemplo, pelo uso<br />

de embalagens, barreira ao vapor de água ou glaceamento, ocorre proteção efetiva<br />

contra a oxidação (MACHADO, 1994).<br />

Os lipídeos do pescado contêm grande quantidade de ácidos graxos<br />

altamente insaturados, que são suscetíveis de serem facilmente atacados pelo<br />

oxigênio do ar (SÁ, 2004).<br />

O congelamento, apesar de retardar o aparecimento dos sinais de<br />

rancificação, não proporciona proteção efetiva contra a alteração, quando realizado<br />

22


sem o emprego de medidas adicionais, como embalagem e glaceamento<br />

(MACHADO, 1994).<br />

A autoxidação também pode ser prevenida pelo uso de substâncias<br />

antioxidantes. Os antioxidantes são agentes que, quando adicionados ao produto,<br />

“substituem” o lipídio na cadeia da oxidação, sendo eles próprios oxidados. Outros<br />

funcionam como quelantes de metais, inibindo sua ação catalisadora (MACHADO,<br />

1994).<br />

A deteriora oxidativa pode ser impedida por um rápido manuseio do pescado<br />

a bordo e armazenagem dos produtos em condições de anóxia (embalagem a vácuo)<br />

(HUSS, 1997).<br />

2.2.2. Deteriora Autolítica<br />

Segundo Thoson (1983), autólise significa autodigestão pelas enzimas que<br />

estão presentes, ou são liberadas, no citoplasma na célula após sua morte.<br />

É o processo de quebra das proteínas e gorduras devido à ação das<br />

enzimas proteolíticas e lipídicas nos tecidos, uma vez que os tecidos dos produtos<br />

marinhos consistem basicamente de compostos protéicos (BEIRÃO et al., 2000).<br />

Os sinais mais precoces de alteração sensorial podem ser detectados pelo<br />

mau odor que se percebe ao examinar as guelras. Se o pescado não for eviscerado<br />

imediatamente, as bactérias intestinais atravessam rapidamente as paredes do<br />

intestino e chegam aos tecidos internos da cavidade abdominal. É possível que esse<br />

processo seja favorecido pela ação de enzimas proteolíticas do intestino, que podem<br />

ser naturais do peixe, de origem bacteriana ou de ambas as fontes (VIEIRA, 2004).<br />

Além de causar o aparecimento de odores desagradáveis e de proporcionar<br />

o desenvolvimento de bactérias, a autólise também provoca o amolecimento da<br />

23


carne do pescado. Por esta razão, pescados menos frescos se apresentam mais<br />

amolecidos ao toque dos dedos (GEROMEL; FORSTER, 1988).<br />

As alterações autolíticas são responsáveis pela perda inicial da qualidade do<br />

peixe fresco, mas contribuem muito pouco para a deterioração do peixe refrigerado e<br />

de outros produtos de pesca. Porém, o rápido desenvolvimento de cheiros<br />

desagradáveis e o aparecimento de manchas devido à ação das enzimas digestivas<br />

em alguns peixes não eviscerados constituem uma exceção (HUSS, 1997).<br />

As bactérias que produzem as alterações têm pouca dificuldade de crescer<br />

no muco, na porção externa do peixe. O muco é constituído por componentes<br />

mucopolissacarídeos, aminoácidos livres, óxido de trimetilamina (TMAO) e outros<br />

componentes afins. Durante a alteração do pescado, decresce o TMAO, a creatina, a<br />

taurina, outros compostos afins e determinados aminoácidos, com produção de<br />

trimetilamina (TMA), amoníaco, histamina, e outros (VIEIRA, 2004).<br />

No peixe congelado, porém, a atividade bacteriana é inibida e o TMAO é<br />

convertido em dimetilamina (DMA), e formoldeido (FA) por enzimas autolíticas. O<br />

efeito do FA formado no peixe congelado é provocar um aumento na desnaturação<br />

do músculo do peixe, alterar a textura e diminuir a capacidade de retenção da água.<br />

Acredita-se também que outras reações enzimáticas tais como a formação de ácidos<br />

graxos livres, tenham grande influência na qualidade sensorial do peixe congelado<br />

(HUSS, 1997).<br />

2.2.3. Deteriora Bacteriana<br />

A flora inicial do peixe é muito diversa, embora as bactérias psicrotróficas<br />

Gram negativas sejam, muitas vezes, dominantes. O peixe capturado em águas<br />

24


tropicais pode transportar uma carga ligeiramente mais elevada de organismos Gram<br />

positivos e bactérias entéricas (RUITER, 1999).<br />

O pescado vivo apresenta contaminação bacteriana principalmente na pele,<br />

guelras e vísceras, passando os demais tecidos a serem infectados após a morte do<br />

animal. Em geral, as bactérias dos peixes são psicrófilas, crescendo bem a<br />

temperatura ambiente ou abaixo desta e apresentando inclusive, adaptação em<br />

temperaturas abaixo de 0ºC (OGAWA, MAIA, 1999).<br />

Os organismos responsáveis por alterações no pescado são considerados<br />

aqueles que produzem maus odores quando crescem em culturas puras no músculo<br />

estéril do peixe. Por esse critério, Pseudomonas, Acinetobacter e Moraxella são bem<br />

caracterizados como decompositores e Corynebacterium, Flavobacterium e<br />

Microccus como não-decompositores (VIEIRA, 2004).<br />

Bactérias originárias do pescado, do gênero Pseudomonas são Gram<br />

negativas, não formam esporos, aeróbias, oxidase positiva, bacilares, locomovem-se<br />

com a ajuda de flagelos e quase não há espécies que produzam pigmentos<br />

carotenóides. Podem ser separadas nos grupos I, II, III, IV não produzem ácidos<br />

(OGAWA, MAIA, 1999).<br />

Alguns peixes de água doce e muitas espécies de águas tropicais, durante a<br />

armazenagem em gelo e em condições aeróbias, são caracterizados por<br />

apresentarem uma deteriora do tipo Pseudomonas que é descrita como sendo<br />

frutada, a sulfidrilo e enjoativa (HUSS, 1997).<br />

As bactérias do gênero Pseudomonas desenvolvem-se bem numa<br />

temperatura em torno de 0ºC. Sua velocidade de crescimento é rápida,<br />

principalmente as do grupo III/IV halofílicas. A maioria das Pseudomonas hidrolisa<br />

proteínas e lipídios e participam ativamente na deteriora do pescado conservado sob<br />

baixas temperaturas, em condições aeróbias. A espécie Pseudomonas putrefaciens<br />

25


atua na deteriora de peixes resfriados, havendo também outras espécies<br />

responsáveis pela deteriora (OGAWA, MAIA, 1999).<br />

Bactérias do gênero Moraxella originárias do pescado, são, em sua maioria,<br />

psicrófilas, mas comparadas aos grupos de Pseudomonas e Vibrio, a velocidade é<br />

lenta. Apresentam pouca resistência ao calor, a maioria morrendo quando submetida<br />

a 45ºC por 15 minutos. Entretanto são resistentes ao congelamento, apresentando<br />

sobrevivência superior aos grupos de Pseudomonas e Vibrio. Suas atividades de<br />

deteriora são baixas tendo pouca capacidade de decompor proteínas e formar<br />

compostos com odor de putrefação. Quanto ao gênero Acinetobacter, sua atividade<br />

de deteriora também é baixa e semelhante a Moraxella (OGAWA, MAIA, 1999).<br />

Algumas bactérias do gênero Flavobacterium são aeróbias, bacilos,<br />

produzem pigmentos carotenóides – amarelo, laranja, etc, isoladas de pescado<br />

podem desenvolver-se a 4ºC, embora bem mais lentamente que os gêneros<br />

Pseudomonas, Vibrio, Moraxella. Quanto à condição de congelamento, este grupo de<br />

bactérias é bastante resistente, chegando à maioria a sobreviver mesmo a -20ºC<br />

durante 20 dias (OGAWA, MAIA, 1999).<br />

Microccus são Gram positivo, não se locomovem, cocos, catalase positiva.<br />

São originárias do pescado, desenvolve-se em temperaturas baixas, mas com<br />

velocidade lenta. No entanto, são muito resistentes a temperaturas de congelamento,<br />

sobrevivendo à maioria por 20 dias a – 20ºC. A atividade de putrefação do Microccus<br />

é, em geral, fraca (OGAWA, MAIA, 1999).<br />

Bactérias do gênero Corynebacterium são Gram positivo, não formam<br />

esporos, bacilos, não apresentam motilidade e, dependendo das condições, as<br />

células podem assumir diferentes formas (OGAWA, MAIA, 1999).<br />

A atividade microbiana é também a causa da deteriora de muitos produtos<br />

derivados do pescado conservados e armazenados a temperaturas acima de 0ºC.<br />

26


Todavia, na maioria dos casos, as bactérias específicas de deteriora não são<br />

conhecidas. A adição de pequenas quantidades de sal e ácido, tal como acontece<br />

nos produtos de derivados do pescado ligeiramente conservado, altera a microflora<br />

dominante, principalmente, para estirpes de bactérias Gram positivo e algumas<br />

destas podem atuar como organismos específicos de deteriora em certas condições<br />

(HUSS, 1997).<br />

As enzimas proteolíticas do músculo do pescado e as de origem bacteriana<br />

têm um papel mais importante na deteriora do pescado tropical do que as espécies<br />

de águas frias. Peixes tropicais podem deteriorar-se rapidamente em temperaturas<br />

ambientes. As tilápias tornam-se inaceitáveis 15 a 20 horas após sua morte (VIEIRA,<br />

2004).<br />

Camarões tropicais apresentam um período de vida útil acima de 10 dias em<br />

gelo, enquanto crustáceos e moluscos de águas frias se deterioram após 8 a 10 dias<br />

(VIEIRA, 2004).<br />

27


3. MICRORGANISMOS PATOGÊNICOS<br />

Tendo em vista seu alto teor de umidade, a qualidade do pescado pode ser<br />

comprometida com relativa facilidade por ação de microrganismos, enzimas<br />

autolíticas, autoxidação lipídica, etc. De todos, os microrganismos constituem os<br />

principais responsáveis (OGAWA; MAIA, 1999).<br />

As bactérias patogênicas presentes no pescado podem ser divididas em dois<br />

grupos: bactérias do meio ambiente e as bactérias por contaminação. As bactérias<br />

do meio ambiente são: Clostridium botulinum, Vibrio parahaemolyticus, Vibrio<br />

cholerae, Aeromonas sp. e Listeria sp.. Já as bactérias por contaminação são:<br />

Staphylococcus aureus, Salmonella sp., Escherichia coli e Shigella (HUSS, 1997).<br />

Existem basicamente duas maneiras dos microrganismos provocarem<br />

doença ao consumidor: através de intoxicação, quando nos referimos à ingestão da<br />

toxina previamente formada pelo microrganismo; e por infecção, que é a ingestão do<br />

microrganismo no alimento. A infecção alimentar causa sintomas característicos e<br />

distintos daqueles provocados pela intoxicação alimentar. Geralmente a infecção<br />

provoca febre, diarréia e vômitos, enquanto na intoxicação raramente acontece febre<br />

(VIEIRA, 2004).<br />

Outros organismos, além das bactérias, poderão causar diarréias através da<br />

ingestão de pescados, tais como protozoários e agentes infecciosos, os vírus.<br />

Apesar disso as bactérias são de maior importância e de maior ocorrência, sendo as<br />

únicas cujos números limitados na legislação para alimentos (VIEIRA, 2004).<br />

A legislação vigente (ANVISA, 2001) limita a presença de algumas bactérias<br />

patogênicas ao homem, através do pescado. As presentes na legislação, causadoras<br />

de infecções alimentares, são Salmonella spp., Escherichia coli e Vibrio<br />

parahaemolyticus. As que não figuram na legislação são: Aeromonas, Vibrio<br />

28


vulnificus e V. cholerae, todas com um forte poder infectante. Vibrio cholerae é muito<br />

ligado ao consumo de moluscos bivalves (ostras e mariscos) e caranguejos (VIEIRA,<br />

2004).<br />

O Clostridium botulinum é uma bactéria causadora de intoxicação pelo<br />

consumo do pescado. Por ser uma bactéria anaeróbia, o perigo relacionado ao<br />

pescado é maior quando esta, sob forma de esporo, anteriormente infectava o<br />

pescado. Se este for de origem marinha, C. botulinum tipo E, pode infectá-lo, uma<br />

vez que este é do tipo de C. botulinum isolado do solo marinho. Em condições de<br />

anaerobiose, o esporo passa a célula vegetativa, sintetizando toxinas no pescado<br />

(VIEIRA, 2004).<br />

Os pescados envolvidos com intoxicação botulínicas são aqueles<br />

processados pela salga, defumados, em molho escabeche, caviar e produtos<br />

submetidos à maturação “idushi”, no Japão, e “suzukê” no Brasil (VIEIRA, 2004).<br />

Outra bactéria causadora de intoxicação através do consumo do pescado é<br />

Staphylococcus aureus. A presença de Staphylococcus aureus no pescado ocorre,<br />

predominantemente, através da manipulação. Pessoas que manuseiam o pescado<br />

podem hospedar a bactéria em suas mãos, cavidade oral e mucosa nasal e, durante<br />

processamento podem transmitir Staphylococcus aureus para o pescado sem que<br />

este sofra modificações em sua aparência ou sabor (HUSS, 1997).<br />

Do total de surtos de origem alimentar, os produtos marinhos representam<br />

cerca de 25%, sendo que os peixes respondem por 60% deste total. Um terço de<br />

25% corresponde ao ataque viral do agente “Norwalk”, presentes em moluscos<br />

bivalves. Os alimentos marinhos são suscetíveis a maioria dos agentes causadores<br />

de toxi-infecções de origem alimentar (Salmonella, Staphylococcus aureus e<br />

Clostridium perfringens), bem como aqueles específicos de ambientes marinhos<br />

(Clostridium botulinum e Vibrio parahaemolyticus) (ALOR, 1994).<br />

29


3.1. Bactérias Do Meio Ambiente<br />

As bactérias do meio ambiente são freqüentes e encontram-se amplamente<br />

distribuídas nos ambientes aquáticos de várias partes do mundo. A temperatura da<br />

água tem, naturalmente, um efeito seletivo. Assim, os organismos mais psicrotróficos<br />

(C. botulinum e Listeria) são freqüentes no ártico e nos climas mais frios enquanto<br />

que os tipos mais mesófilos (V. cholerae e V. parahaemolyticus) representam parte<br />

da flora natural do peixe de ambientes costeiros e estuarinos de zonas temperadas<br />

ou tropicais (HUSS, 1997).<br />

3.1.1. Clostridium botulinum<br />

O Clostridium botulinum encontra-se largamente distribuído no solo, nos<br />

sedimentos aquáticos e no peixe. Sua presença em alimentos pode considerar-se<br />

um risco de intoxicação letal (CONNELL, 1988).<br />

C. botulinum é um bastonete do solo, Gram-positivo, formador de esporos e<br />

gás, sendo anaeróbio obrigatório. É classificado em tipos, de acordo com sua<br />

especificidade sorológica. Cada um destes segrega diferentes toxinas e os tipos são<br />

designados pelas letras A, B, C, D, E, F e G. Nem todos os tipos produzem uma<br />

única toxina (VIEIRA, 2004).<br />

Os esporos embora termorresistentes podem ser destruídos por tratamento<br />

térmico. A temperatura máxima de crescimento para as bactérias botulinicas é de<br />

50ºC e, em temperaturas superiores, o crescimento é inibido (BRESSAN et al.,<br />

1999).<br />

As cepas do tipo E são encontradas em meio aquático e são relacionadas<br />

com botulismo do tipo E, vinculadas a peixes ou a outros frutos do mar. Os tipos A e<br />

30


B são mais encontrados em alimentos sujeitos a contaminação de solo (VIEIRA,<br />

2004).<br />

Bactérias do gênero Clostridium estão relacionadas com a putrefação. Em<br />

condições anaeróbias e nutrição suficiente, desenvolvem-se rapidamente produzindo<br />

compostos com odor desagradável. As espécies C. botulinum e C. perfringens estão<br />

relacionadas com intoxicações alimentares (OGAWA; MAIA, 1999).<br />

O botulismo humano é uma doença séria, mas relativamente rara. A doença<br />

é uma intoxicação causada por uma toxina pré-formada no alimento. Os sintomas<br />

podem incluir náuseas e vômitos seguidos por um certo número de sinais e sintomas<br />

neurológicos: diminuição da visão (visão dupla), perda das funções normais da boca<br />

e garganta, fraqueza ou paralisia total e falha respiratória que é, usualmente, a causa<br />

da morte (HUSS, 1997).<br />

Dentre as bactérias de ocorrência em alimentos, o C.botulinum destaca-se<br />

sobremaneira, principalmente em decorrência da elevada resistência de seus<br />

esporos a agentes físicos e químicos, dificultando em muito seu efetivo controle ou<br />

destruição (DELAZARI et al., 1982a).<br />

A ocorrência de C.botulinum no ambiente natural, particularmente no<br />

pescado e sedimentos marinhos ou lacustres, vem sendo bastante investigada em<br />

outros paises. A esse respeito, inúmeros autores evidenciaram a presença dessa<br />

bactéria, particularmente o tipo E, em amostras de sedimentos marinhos e lacustres,<br />

nos Estados Unidos da América. Por outro lado, a bactéria também foi positivada em<br />

amostras de pescado, principalmente o salmão e outras espécies de peixes e<br />

crustáceos. Também em países do Reino Unido, extensas pesquisas têm revelado a<br />

ocorrência de C. botulinum em amostras de pescado, tanto provenientes do<br />

ambiente marinho como do meio lacustre, principalmente em trutas (DELAZARI et<br />

al., 1982a).<br />

31


Os camarões e ostras apresentam habitat e hábitos alimentares bastante<br />

diversos; neste particular, os primeiros têm uma dieta complexa, incluindo a ingestão<br />

de animais mortos e habitando durante parte de sua vida águas lacustres, ricas em<br />

matéria orgânica e detritos diversos. Já as ostras vivem em águas ricas em matéria<br />

orgânica, com peculiaridade de que na sua atividade fisiológica absorvem e expelem<br />

um volume muito grande de água, visando à obtenção e acúmulo de nutrientes nela<br />

dissolvidos. Os resultados obtidos por outros pesquisadores, em locais diversos,<br />

embora numericamente restritos, também confirmaram a presença relativamente<br />

freqüente de C. botulinum nestes animais (DELAZARI et al., 1982b).<br />

Estudos têm evidenciado que esta bactéria é inibida em alimentos quando a<br />

concentração salina é de 10%, embora a produção de toxinas seja interrompida com<br />

7% de NaCl. Outros estudos mencionam que a concentração inibitória de NaCl<br />

dependia do tipo de bactéria (maior nos tipos A e B e menor no E), bem como da<br />

fase de crescimento, oscilando de 6,5 a 10,5% no tipo A e de 4,1 a 5,1% no tipo E<br />

(LEITÃO, 1979).<br />

A eficiência do sal como conservante é influenciada por diversos fatores,<br />

entre os quais se sobressaem os seguintes:<br />

Temperatura: se bem que ainda não está totalmente esclarecido, observa-<br />

se, em geral, que a ação letal do sal é mais reduzida nas baixas temperaturas.<br />

pH: o efeito do pH é suplementar aquele do sal; assim, menores<br />

concentrações de sal são necessárias para inibir microrganismos à medida que o pH<br />

se afasta do ótimo para o desenvolvimento; além disso, muitas bactérias resistentes<br />

ao sal são extremamente sensíveis ao aumento da acidez, de forma que a<br />

combinação destes fatores permite uma melhoria acentuada na capacidade de<br />

inibição do desenvolvimento microbiano.<br />

32


Efeito sinergismo: na presença de sal, outros agentes inibitórios são<br />

potencializados em seu efeito. Assim, o ácido benzóico pode ser empregado em<br />

menores concentrações no alimento quando é feita a adição de sal (LEITÃO, 1979).<br />

Dentre as enfermidades vinculadas por alimentos, o botulismo é a das mais<br />

graves, principalmente quando se leva em conta a alta taxa de mortalidade<br />

provocada por essa intoxicação. A multiplicação do C. botulinum nos alimentos<br />

determina a biossíntese de quantidades muito pequena de um tipo de proteína, com<br />

potente atividade neurotóxica. Quando os alimentos são ingeridos, as toxinas são<br />

absorvidas e determinam uma síndrome de paralisia muscular, dificultando na<br />

deglutição, alteração de visão e no trato respiratório (VIEIRA, 2004).<br />

Deve-se notar que nunca se verificou que o peixe fresco e congelado tivesse<br />

causado botulismo no homem, devido, provavelmente, ao fato do peixe fresco se<br />

deteriorar normalmente antes de se tornar tóxico. A derradeira salvaguarda reside no<br />

fato da toxina do botulismo apresentar estabilidade muito baixa ao calor o que<br />

significa que a cozedura doméstica habitual destrói qualquer toxina pré-formada<br />

formada. Assim, o risco esta claramente associado aos alimentos que não requerem<br />

cozimento imediatamente antes de serem consumidos (GERMANO et al., 1997).<br />

O exame de 165 surtos de botulismo causados por produtos de pesca<br />

mostrou que os produtos conservados ligeiramente (defumados, fermentados)<br />

representam, em grande parte, o grupo mais perigoso como representa o Quadro 5<br />

(HUSS, 1997).<br />

Em muitas áreas nórdicas, incluindo o norte do Canadá, Alaska (E.U.A.),<br />

Escandinávia e o norte do Japão, a maioria dos surtos de botulismo envolve<br />

pescado, especialmente os pratos tradicionais que são servidos crus, carnes<br />

fermentadas e ovas fermentadas de salmão (VIEIRA, 2004).<br />

33


A maioria dos surtos de botulismo nos Estados Unidos são causados por<br />

vegetais processados em casa, peixes ou produtos de carne. A incidência do<br />

botulismo pelo consumo de alimentos refrigerados em prateleiras é baixa. Entretanto,<br />

os poucos surtos que ocorreram e os estudos de caso ilustram o potencial de risco<br />

do C. botulinum associado aos alimentos refrigerados em prateleiras (MARTH,<br />

1998).<br />

Quadro 5: Tipo de produtos da pesca responsáveis pelo botulismo. Representam<br />

surtos de botulismo no Canadá, Japão, Estados Unidos, URSS e Escandinávia<br />

durante cerca de 25 anos (período de 1950 – 1980).<br />

Produtos da pesca Processo usado Nº de surtos<br />

Conservado ligeiramente defumagem<br />

fermentação<br />

Semiconservas Salga<br />

Marinagem<br />

Conservas Enlatamento 5<br />

Desconhecido 20<br />

10<br />

113<br />

TOTAL 165<br />

Fonte: HUSS, 1997.<br />

O pH mínimo capaz de permitir o crescimento de C. botulinum e a produção<br />

de toxina têm sido objeto de vários estudos. Em geral, é reconhecido que esse fato<br />

não acontece em pH abaixo de 4,5 (VIEIRA, 2004).<br />

Poucas cepas do tipo A e B são capazes de crescer entre 10 e 11ºC. Tem<br />

sido relatado que mais ou menos 15ºC é a mais baixa temperatura para germinação<br />

de esporos, enquanto que a máxima é mais ou menos 48ºC para os tipos A e B e<br />

9<br />

8<br />

34


45ºC para o tipo E. O tipo E produz gás e toxinas dentro de 31 a 45 dias a<br />

temperaturas tão baixas quanto 3,3ºC (VIEIRA, 2004).<br />

O botulismo pode ser prevenido por inativação dos esporos das bactérias<br />

nos produtos enlatados, esterilizados pelo calor ou inibindo a proliferação em todos<br />

os outros tipos de produtos alimentares. Os tipos não proteolíticos E, B e F são<br />

sensíveis ao calor, psicrófilos e sensíveis ao NaCl (GERMANO et al., 1997).<br />

Os processos de esterilização foram concebidos para destruir um grande<br />

número de tipos de C botulinum termoresistentes. Assim, a cozedura para eliminar o<br />

risco do botulismo tem sido definida como equivalente a 3 minutos a 120ºC (HUSS,<br />

1997).<br />

Os procedimentos de cocção do pescado são suficientes para inativar<br />

qualquer toxina que por ventura tenha-se formado, já que as toxinas botulínicas são<br />

proteínas simples, termolábeis, podendo ser destruídas pelo aquecimento a 80ºC,<br />

durante 30 minutos, ou a 100ºC, em poucos minutos (VIEIRA, 2004).<br />

3.1.2. Vibrio spp.<br />

3.1.2.1. Vibrio parahaemolyticus<br />

O Vibrio parahaemolyticus é uma bactéria Gram-negativa que se apresenta<br />

na forma de bastonetes curtos. É anaeróbio facultativo. Seu crescimento ocorre em<br />

pH alcalino entre 7,5 e 8,5 e o ótimo de temperatura se encontra entre 35 e 37ºC.<br />

Apresenta halofilismo restrito, exigindo um mínimo de 1% de cloreto de sódio (NaCl)<br />

para o seu crescimento, em condições de isolamento e identificação (VIEIRA, 2004).<br />

O V. parahaemolyticus ocorre nas profundezas marinhas freqüentemente<br />

associados a moluscos, crustáceos e peixes. Embora o microrganismo seja<br />

35


considerado mesofílico, o crescimento tem sido demonstrado a temperaturas abaixo<br />

de 5ºC (MARTH, 1998).<br />

As bactérias deste gênero decompõem a glicose por fermentação. A maioria<br />

não produz gás na decomposição da glicose. Algumas espécies dão forte odor de<br />

putrefação. O V. parahaemolyticus pode ser isolado em vários produtos marinhos e<br />

no ambiente marinho. No Japão, tem sido responsável por ate 60% dos incidentes de<br />

envenenamento alimentar, onde grande quantidade de produtos marinhos é<br />

consumida crua (SÁ, 2004). Nesse país, onde são freqüentes as toxinfecções<br />

alimentares pelo V. parahaemolyticus, esse agente é veiculado principalmente pelo<br />

consumo de peixe, enquanto nos Estados Unidos é veiculado predominantemente<br />

pelo camarão (GELLI et al., 1979).<br />

Pelas pesquisas realizadas no Japão e nos Estados Unidos, a incidência<br />

quantitativa do V. parahaemolyticus, assim como as decorrentes toxinfecções, são<br />

marcadamente sazonais: comuns no verão e ausentes no inverno (GELLI et al.,<br />

1979).<br />

No verão, uma toxinfecção com sintomas de gastrenterite aguda, indicando<br />

o consumo de pescado e seus produtos como origem, é freqüentemente observada<br />

no Japão, onde é costume a ingestão destes alimentos no estado cru (LIMA, 1997a).<br />

Nenhuma correlação tem sido observada entre a presença de V.<br />

parahaemolyticus e coliformes fecais, ou qualquer outro indicador de poluição.<br />

Entretanto existe uma comprovada variação sazonal, principalmente em águas<br />

temperadas, no isolamento dessa bactéria do ambiente, além de uma forte influência<br />

da temperatura da água, salinidade e associação com organismos planctônicos<br />

(VIEIRA, 2004).<br />

A presença do V. parahaemolyticus independe da presença de<br />

contaminantes fecais, por ser ubiquitário de ambiente marinho (GELLI et al., 1979).<br />

36


Os surtos de V. parahaemolyticus têm sido, freqüentemente, associados a<br />

contaminações cruzadas ou a abusos de tempo/temperatura de pescado cozinhado.<br />

O Japão é uma exceção dado que o peixe cru é o principal veículo de infecção pelo<br />

V. parahaemolyticus (HUSS, 1997).<br />

Os sintomas mais comumente descritos e associados com infecções<br />

causadas por V. parahaemolyticus são: diarréia, cãibras abdominais, náusea, vômito,<br />

cefaléia, febre e calafrios (VIEIRA, 2004). Atualmente, este microrganismo tem sido<br />

reconhecido, como um importante patógeno, capaz de determinar manifestações<br />

gastrentéricas após consumo de pescado e moluscos bivalves sem cocção ou<br />

insuficientemente cozidos (PEREIRA et al., sem data).<br />

Os moluscos bivalves possuem característica concentradora e podem ser<br />

utilizados de forma bastante eficaz para o monitoramento de poluição ambiental<br />

(LIRA et al., 2001). No caso de V. parahaemolyticus, evitar consumo de frutos do mar<br />

crus ou mal cozidos, principalmente moluscos bivalves, é uma das principais<br />

precauções para prevenir casos de gastrenterite. Também se aconselha a não<br />

exposição de ferimentos abertos a água do mar e a produtos pesqueiros marinhos, a<br />

fim de se evitar infecções (VIEIRA, 2004).<br />

3.1.2.2. Vibrio cholerae<br />

2004).<br />

A cólera é causada pelo V. cholerae, uma bactéria Gram-negativa (VIEIRA,<br />

A maior parte dos Vibrios são de origem marinha e necessitam de Na+ para<br />

se desenvolverem. O gênero inclui certo número de espécies que são patogênicas<br />

para o homem (LIMA, 1997a).<br />

37


Existe alguma indicação de que este organismo possa fazer parte da<br />

microbiota marinha normal. Deve-se ter atenção quanto à sensibilidade do V.<br />

cholerae ao calor (SÁ, 2004).<br />

O V. cholerae apresenta sorotipos, o O1 e o não-O1, sendo que o sorotipo<br />

O1 apresenta duas biovariedade: a clássica e a El Tor. A biovariedade clássica,<br />

serovariedade O1, esta atualmente, restringida a algumas partes da Ásia e a maior<br />

parte da cólera é causada pela biovariedade El Tor. As espécies patogênicas são<br />

principalmente mesófilas, isto é, ocorrem, em geral, em águas tropicais e em número<br />

mais elevado em águas temperadas nos finais do verão ou princípio do outono<br />

(HUSS, 1997).<br />

A cólera é uma doença infecciosa aguda e grave, que, se não tratada<br />

adequadamente, pode levar a morte. É causada pelo V. cholerae O1 biotipo clássico<br />

e El Tor, ou pelo recentemente descoberto O139 Bengal (VIEIRA, 2004).<br />

A ocorrência do vibrio parece ser alta no meio aquático, podendo ser<br />

encontrado em águas de esgoto doméstico, rio e mar e de ambientes estuarinos, em<br />

temperaturas de 11 a 19ºC e salinidade entre 23 e 26 (LIMA, 1997b).<br />

O marisco cru não cozido ou contaminado após a cozedura tem sido<br />

considerado como principal veículo do V. cholerae O1 e o do não O1 (HUSS, 1997).<br />

A transmissão da cólera via fecal-oral é facilitada quando se pode detectar,<br />

numa comunidade, precárias condições higiênico-sanitárias e de saneamento básico.<br />

Foi demonstrado que são necessárias altas doses de bactérias vivas para causar<br />

infecção, uma vez que o pH ácido do estômago pode neutralizar muitos dos<br />

organismos, antes que estes alcancem o intestino (VIEIRA, 2004).<br />

A doença geralmente tem um começo brusco, com perdas volumosas de<br />

água e eletrólitos, mas também pode começar lentamente, com diarréia leve nas<br />

primeiras 24 horas. A partir daí, pode ocorrer vômito, junto com câimbras<br />

38


musculares, devido à baixa nos níveis de potássio sanguíneo. Nos casos graves, o<br />

quadro típico é caracterizado por diarréia aquosa, profusa e não controlável (VIEIRA,<br />

2004).<br />

A eliminação desse microrganismo pode ser feita por tratamento do<br />

alimento, uma vez que a bactéria aparece como contaminante marinho in situ. Para<br />

crustáceos, principalmente caranguejos e camarões, são recomendadas condições<br />

de tempo e temperatura de cozimento apropriadas, e devem ser tomadas medidas,<br />

visando prevenir a recontaminação do produto cozido (VIEIRA, 2004).<br />

Condições sanitárias inadequadas e a falta de água potável são as principais<br />

causas de epidemias de cólera. Portanto, esta doença só pode ser<br />

convenientemente prevenida se assegurar que todas as populações têm acesso a<br />

sistemas de esgotos adequados e a água potável. A WHO (World Health<br />

Organization - 1992) publicou as seguintes recomendações sobre o abastecimento<br />

de água no que diz respeito à prevenção e controle da cólera:<br />

1. A água potável deve ser convenientemente desinfetada; devem ser<br />

melhorados os procedimentos para a desinfecção nos sistemas de distribuição e nos<br />

sistemas de água rural.<br />

2. Comprimidos que liberem cloro ou iodo podem ser distribuídos pela<br />

população com as respectivas instruções para o seu uso.<br />

3. Quando o tratamento químico da água não é possível, os responsáveis<br />

pela saúde devem advertir que a água para consumo (bem como para a lavagem<br />

das mãos e dos utensílios) deve ser fervida.<br />

4. O controle da qualidade da água deve ser reforçado, intensificando a<br />

vigilância e o controle do cloro residual bem como aumentando o número dos testes<br />

bacteriológicos, em diferentes pontos dos sistemas de produção e distribuição<br />

(HUSS, 1997).<br />

39


Os vibrios são facilmente destruídos pelo calor. Assim a cozedura<br />

apropriada é suficiente para eliminar a maior parte dos vibrios. Contudo, outros<br />

estudos verificaram que o V. cholerae O1, presente em caranguejos contaminados<br />

naturalmente, sobrevive à fervura até 8 minutos e até 25 minutos quando aquecido a<br />

vapor. Assim, a prática comercial de utilização de choque térmico das ostras em<br />

água a ferver para facilitar a abertura não é suficiente para garantir a segurança<br />

(HUSS, 1997).<br />

V. cholerae não tolera altas temperaturas e sua detecção a partir de<br />

alimentos cozidos (60ºC/1h) vê-se dificultada por não haver previamente, um<br />

tratamento da injúria bacteriana sofrida pelo efeito do calor (ALOR, 1994). A<br />

armazenagem a baixas temperaturas tem sido proposta como meio de eliminar os<br />

vibrios patogênicos dos alimentos. Contudo, este método não é de total confiança<br />

para aplicação comercial (HUSS, 1997).<br />

3.1.3. Listeria spp.<br />

Listeria monocytogenes é um bacilo Gram-positivo, psicrotrófico, que se<br />

apresenta na forma de bastonetes curtos e regulares. É um microrganismo<br />

desprovido de cápsula, não formador de esporos, anaeróbio facultativo e que está<br />

associado a infecção veiculada por alimentos. Sua temperatura ótima de crescimento<br />

esta entre 30º e 37ºC, embora seja capaz de multiplicar-se entre 1º e 45ºC<br />

(LOGUERCIO et al., 2001).<br />

Apesar de não ser esporulada, a L. monocytogenes possui uma resistência<br />

frente a diferentes agentes físicos, químicos ou biológicos (ANDURAND, 2003).<br />

Esta bactéria é comumente encontrada no ambiente e, diferentemente da<br />

maioria de outros patógenos humanos, ela se desenvolve em temperaturas de<br />

40


efrigeração podendo proliferar em alimentos mantidos nessas condições (ALMEIDA<br />

et al., 1999).<br />

Atualmente se admite sete espécies de Listeria: L. monocytogenes, L.<br />

innocua, L. seeligeri, L. welshimeri, L. ivanovii, L. grayi e L. murrayi (ANDURAND,<br />

2003).<br />

Apenas três espécies, L. monocytogenes, L. ivanovii e L. seeligeri, estão<br />

associadas a doenças no homem e/ou nos animais. Contudo, os casos no homem,<br />

envolvendo L. ivanovii e L. seeligeri, são extremamente raros (HUSS, 1997).<br />

A L. monocytogenes é amplamente distribuída entre animais, homem e meio<br />

ambiente. Nos animais isola-se em aves, mamíferos, peixes, artrópodes, insetos e<br />

rãs (ANDURAND, 2003).<br />

Tem como reservatório o homem e animais, sendo possível o isolamento a<br />

partir de indivíduos sentindo-se mal, isso, provavelmente, conseqüência da<br />

colonização no trato intestinal (GERMANO et al., 1997).<br />

Indivíduos com o sistema imunológico comprometido, recém-nascidos, os<br />

mais velhos e pessoas com o vírus HIV estão mais suscetíveis a ela (MARTH, 1998).<br />

O isolamento freqüente desta espécie bacteriana a partir do pescado e a<br />

demonstração do seu potencial de proliferação em salmão defumado conservado em<br />

refrigeração (+4ºC) mostram que o pescado pode ter um papel importante na<br />

transmissão de L. monocytogenes (HUSS, 1997).<br />

O agente penetra no organismo do suscetível através da ingestão de<br />

alimentos contaminados atinge o trato intestinal aderindo-se à mucosa e invadindo-a<br />

em seguida (GERMANO et al., 1997).<br />

No homem, a listeriose não se caracteriza por uma sucessão única de<br />

sintomas, já que o curso da enfermidade depende do estado do hospedeiro. Já nas<br />

mulheres que não estejam grávidas, a probabilidade destas contrair alguma vez a<br />

41


forma clinica é mais rara. O aborto listérico, na mulher, só é produzido na segunda<br />

metade da gravidez (ANDURAND, 2003).<br />

A doença causada por L. monocytogenes se caracteriza por febre, cefaléia e<br />

calafrios. Essa infecção apresenta prevalência particular em indivíduos de maior<br />

suscetibilidade, como fetos, prematuros, gestantes, neonatos, crianças com idade<br />

inferior a dois anos, idosos e imunocomprometidos (LOGUERCIO et al., 2001).<br />

Atualmente, o FDA (Food and Drug Administration), nos Estados Unidos,<br />

exige que a L. monocytogenes esteja ausente nos produtos de pesca prontos para o<br />

consumo tais como a carne de caranguejo ou peixe defumado. Esta restrição não se<br />

aplica a produtos crus que sejam cozidos antes de consumir (HUSS, 1997).<br />

A L. monocytogenes é sensível a agentes de desinfecção, assim agentes<br />

desinfetantes à base de cloro ou iodo, ácido aniônico e compostos quaternários de<br />

amônia são eficientes contra a L. monocytogenes (HUSS, 1997).<br />

O processamento listericida consiste, essencialmente, num tratamento<br />

térmico. A resistência ao calor da L. monocytogenes tem sido objeto de uma<br />

investigação extensiva, em particular, no leite e outros laticínios (HUSS, 1997).<br />

A listeriose de origem alimentar, no entanto, pode ser evitada através de<br />

práticas preventivas que proporcionem um controle microbiológico rigoroso sobre<br />

matéria prima, ambiente, manipuladores e outros fatores ligados ao processamento<br />

de alimentos (LOGUERCIO et al., 2001).<br />

3.1.4. Aeromonas sp.<br />

Aeromonas são bastonetes Gram-negativos, normalmente encapsulados e<br />

não esporulados. São anaeróbios facultativos e fermentam a glicose com produção<br />

de ácido com ou sem gás (VIEIRA, 2004). O gênero Aeromonas tem sido<br />

42


classificado na família Vibrionaceae e inclui espécies patogênicas para animais<br />

(peixe) e para o homem. Recentemente, a Aeromonas sp. móvel e, em particular, a<br />

A. hydrophila tem recebido, uma atenção crescente como um possível agente<br />

causador de diarréia provocada pela ingestão de alimentos. Contudo, o papel das<br />

Aeromonas como agente patogênico entérico não está ainda esclarecido (HUSS,<br />

1997).<br />

A incidência de Aeromonas é bem mais baixa que a de Vibrio, e sua<br />

participação na deterioração do pescado é muito pequena. As principais fontes da<br />

bactéria A. hydrophila são os ambientes aquáticos. Também tem sido implicada em<br />

doenças de origem alimentar devido ao consumo de ostras cruas (SÁ, 2004).<br />

A presença de Aeromonas está muito generalizada em ambientes de água<br />

doce, mas pode ser também isolada de água salgada e estuarina. Este organismo<br />

pode ser também facilmente isolado da carne, peixe e outros produtos derivados,<br />

gelados e muitos outros alimentos. Na verdade, este organismo tem sido identificado<br />

como o principal organismo responsável pela deterioração de carne crua, de salmão<br />

cru embalado a vácuo ou em atmosferas modificadas e de peixes provenientes de<br />

águas tropicais (HUSS, 1997).<br />

Espécies de Aeromonas são associadas a uma ampla variedade de<br />

infecções em animais de sangue quente e frio, incluindo rãs, peixes, répteis,<br />

pássaros e humanos (VIEIRA, 2004).<br />

Pesquisas recentes detectaram-na em amostras de leite fresco, aves,<br />

carneiro, queijos, crustáceos, carne de porco, carne de boi, agrião, alface e escarola.<br />

A maioria dos casos dessa doença tem sido esporádica e não associada a um surto<br />

(MARTH, 1998).<br />

O gênero Aeromonas sp. parece ser de grande importância na constituição<br />

da microbiota de peixes capturados em regiões tropicais (de origem marinha ou<br />

43


terrestre), bem como naqueles armazenados em temperaturas acima das de<br />

refrigeração (LEITAO, 1988).<br />

As espécies de aeromonas produzem um vasto leque de toxinas tais como a<br />

enterotoxina citotóxica, hemolisinas e um inibidor do canal de sódio semelhante a<br />

tetrodotoxina. Contudo o papel destas toxinas como fatores responsáveis por<br />

doenças no homem não está elucidado e, de momento não existe nenhum método<br />

para diferenciar as estirpes ambientais não patogênicas das patogênicas. Assim, não<br />

há evidência de que as toxinas pré-formadas nos produtos alimentares<br />

desempenham qualquer papel e que a associação entre a ingestão de peixes e<br />

marisco e as infecções causadas por Aeromonas é, no melhor dos casos,<br />

circunstancial (HUSS, 1997).<br />

Existem duas categorias de infecção associadas com Aeromonas sp. de<br />

localização intestinal e extraintestinal (septicemia, infecção em ferimentos, oculares,<br />

em osso, articulação, intra-abdominal e outras) (VIEIRA, 2004).<br />

As aeromonas são muito sensíveis a condições ácidas e ao sal e é muito<br />

pouco provável que a sua proliferação constitua um problema em alimentos com pH<br />

inferior a 6,5 e com um teor em NaCl superior a 3,0% (HUSS, 1997).<br />

3.2 Bactérias Por Contaminação<br />

O pescado que entra para a linha de produção deve ser menos contaminado<br />

possível, pois, no final de todas as operações, ele deverá encontrar-se ainda em bom<br />

estado de conservação, incapaz de causar qualquer dano ao consumidor e capaz de<br />

resistir a uma estocagem adequada, sob todo ponto de vista (VIEIRA, 2004).<br />

44


Alguns microrganismos patogênicos como: Escherichia coli, Staphylococcus<br />

aureus, Salmonella spp e Shigella spp, contaminam o pescado, através do homem,<br />

durante a manipulação (SANTOS; RAJADURAI, 1992).<br />

3.2.1. Staphylococcus aureus<br />

Staphylococcus aureus é uma bactéria pequena, esférica, imóvel, Gram-<br />

positiva, que tende a formar agrupamentos de cachos de uva, anaeróbio facultativo,<br />

com maior crescimento sob condições de aerobiose (VIEIRA, 2004).<br />

Entre as bactérias patogênicas é a que evidência maior tolerância ao sal. O<br />

desenvolvimento de S. aureus ocorre em meios contendo de 0 a 20% de NaCl,<br />

embora a produção de toxina seja inibida em valores acima de 10% (LEITÃO, 1979).<br />

As bactérias desse gênero são mesófilas, apresentando temperatura de<br />

crescimento na faixa de 7,0 a 47,8ºC, com o ótimo na faixa de 30 a 37ºC, enquanto<br />

suas enterotoxinas são produzidas entre 10 e 46ºC, com ótimo entre 40 e 45ºC<br />

(VIEIRA, 2004).<br />

As condições nas quais o produto é manipulado e comercializado refletem,<br />

de forma direta, sobre a qualidade do produto, tendo S. aureus seu habitat<br />

preferencial localizado na pele, fossas nasais e trato respiratório do homem (VIEIRA<br />

et al., 1998).<br />

Os estafilococos encontram como habitat à pele, as glândulas e as<br />

membranas mucosas de mamíferos e pássaros, podendo ser encontrados em<br />

diferentes regiões do corpo como garganta, faringe, glândulas mamárias, trato<br />

intestinal e urinário (VIEIRA, 2004).<br />

A presença de S. aureus no ambiente marinho tem sido relacionado ao<br />

número de banhistas, podendo ser considerado um indicador de risco para a pele,<br />

45


olhos e ouvido. A resistência de S. aureus na água do mar (por até 96 horas),<br />

sugerem sua presença como indicadora de poluição antrópica (VIEIRA, 2004).<br />

O pescado pode estar contaminado com Staphylococcus provenientes de<br />

manipuladores infectados ou do ambiente. Mais freqüentemente, a contaminação<br />

tem origem num individuo com infecção nas mãos ou uma constipação ou dores de<br />

garganta (HUSS, 1997). A intoxicação alimentar provocada por este microrganismo é<br />

devido à ingestão de enterotoxinas produzidas e liberadas pela bactéria durante sua<br />

multiplicação no alimento e representando um risco para saúde pública. A<br />

enterotoxina estafilocócica é termoestável e esta presente no alimento mesmo após<br />

o cozimento, possibilitando desta forma, a instalação de um quadro de intoxicação de<br />

origem alimentar (NETO et al., sem data).<br />

Embora seja raramente encontrado em alimentos marinhos recém-<br />

capturados, pode ser encontrado em produtos que envolvam extensiva manipulação<br />

humana, como carne de caranguejo desfiada e o desconchamento de bivalves (SÁ,<br />

2004).<br />

O S. aureus, é usualmente isolado em pescado, indicando um excesso e<br />

inadequado manuseio pelo homem, principalmente encontrado em carne de<br />

caranguejo (ALOR, 1994). Essa bactéria produz um certo número de enterotoxinas<br />

quando se desenvolve nos produtos alimentares. Estas toxinas são, em geral, muito<br />

resistentes a enzimas proteolíticas e ao calor (HUSS, 1997).<br />

No período de 1987 a 1996, a presença de S. aureus foi relatada em 958<br />

casos e 43 surtos ocorridos no Japão, envolvendo pescado e frutos do mar; e em<br />

1068 casos e 28 surtos, envolvendo produtos a base de pescado e frutos do mar. No<br />

Brasil, em Florianópolis, estes mesmos produtos apresentaram S. aureus em 20% de<br />

175 amostras examinadas (60% em carne de molusco) (VIEIRA, 2004).<br />

46


A intoxicação alimentar estafilocócica é caracterizada por náuseas, vômito,<br />

dores abdominais e diarréia, e por curto período de incubação, de 1 a 6 horas após a<br />

ingestão do alimento responsável (NETO et al., sem data).<br />

As boas condições sanitárias e o controle de temperatura são necessários<br />

para evitar a contaminação, a proliferação e a produção de toxinas particularmente<br />

em peixes pré-cozidos (GERMANO et al., 1997).<br />

Devido à ocorrência de surtos de intoxicação estafilocócicas cada vez mais<br />

freqüentes, alerta-se para a necessidade de medidas de controle na higiene pessoal<br />

dos manipuladores, durante o manuseio e processamento do pescado, evitando<br />

contaminação cruzada por meio de utensílios e equipamentos, contribuindo assim<br />

para a redução dos níveis de contaminação do produto (VIEIRA, 2004).<br />

3.2.2 Salmonella spp.<br />

O gênero Salmonella spp. inclui várias espécies patogênicas para o homem<br />

e os animais. Os microrganismos são bastonetes Gram-negativos, não esporulados<br />

e, embora facultativos, crescem bem em meios comuns na presença de oxigênio<br />

livre (PELCZAR et al., 1981).<br />

As salmonelas são amplamente distribuídas na natureza, sendo o principal<br />

reservatório destas bactérias o trato intestinal do homem e animais de sangue<br />

quente e de sangue frio, exceto peixes, moluscos e crustáceos, os quais podem<br />

contaminar-se após a pesca (VIEIRA, 2004). Salmonella spp. multiplica-se em<br />

temperaturas entre 7ºC e 46ºC, em quatro horas o alimento contaminado se<br />

transforma em alimento infectante. Acima de 60ºC, por doze minutos ocorre sua<br />

destruição e abaixo de 7ºC não ocorre multiplicação (GERMANO et al., 1997).<br />

47


As bactérias do gênero Salmonella são um dos principais agentes<br />

envolvidos em surtos de origem alimentar. Alimentos a base de carne e ovos são os<br />

principais veículos de salmonelose humana, embora muitos outros alimentos possam<br />

ser contaminados secundariamente (LÍRIO et al., 1998).<br />

A penetração de Salmonella spp., no organismo humano e/ou animal, dá-se<br />

mediante o consumo de um alimento ou água contaminados (VIEIRA, 2004). Os<br />

principais sintomas da salmonelose são diarréias não sanguinolentas, dores<br />

abdominais, febre, náuseas, vômitos que ocorrem, geralmente, 12 a 36 horas após a<br />

ingestão. Contudo, os sintomas podem variar consideravelmente desde uma doença<br />

grave do tipo tifóide até uma infecção assintomática (HUSS, 1997).<br />

A contaminação dos mariscos com Salmonella spp., devido a sua<br />

proliferação em águas poluídas, tem sido um problema em muitas partes do mundo<br />

(HUSS, 1997). Segundo HUSS (1997), a maior parte dos relatórios indica que o<br />

pescado é um veiculo de Salmonella spp. muito menos freqüente do que outros<br />

produtos alimentares e que o peixe e os mariscos são responsáveis apenas por uma<br />

pequena percentagem do número total de casos de Salmonella spp. referidos nos<br />

Estados Unidos e em outros países.<br />

Pesquisas revelaram que essa bactéria não se desenvolvia em salmouras a<br />

8% sendo destruída em 1 semana quando a concentração atingia 30%. Prost &<br />

Riemann mencionam que as salmonelas são destruídas em salmouras a 9%, sendo<br />

a taxa letal dependente da temperatura. Igram & Kitchell mencionam que o<br />

crescimento das salmonelas é inibido em concentrações salinas acima de 6%<br />

(BRYAN, PROST & RIEMANN, IGRAM & KITCHELL in LEITÃO, 1979).<br />

Devido a Salmonella spp. encontrar-se cada vez mais envolvida em surtos<br />

de doenças transmitidas por alimentos, com efetiva participação do pescado, alerta-<br />

se para a necessidade de medidas de controle na higiene dos manipuladores,<br />

48


durante o manuseio e processamento, evitando contaminação cruzada por meio de<br />

utensílios e equipamentos, contribuindo para redução dos níveis de contaminação do<br />

produto (VIEIRA, 2004).<br />

Germano et al. (1997), descrevem o controle através do tratamento dos<br />

afluentes e dos dejetos de origem animal, higiene do estabelecimento, manipulação<br />

adequada dos alimentos, conservação e cocção as temperaturas corretas, prescrição<br />

cuidadosa de antibióticos nos casos de humanos (e animais), a fim de diminuir a<br />

ocorrência de cepas resistentes. Os alimentos devem ser aquecidos até atingir uma<br />

temperatura suficiente para eliminar a bactéria, ou seja, de 65 a 74ºC, bem como<br />

serem conservados em temperaturas inferiores a 5ºC (VIEIRA, 2004).<br />

3.2.3. Escherichia coli<br />

Escherichia coli apresenta-se sob a forma de bastonetes retos, isolados ou<br />

aos pares. Microrganismo Gram-negativo, não esporogênico, anaeróbio facultativo. A<br />

temperatura ótima de crescimento é de 37ºC (VIEIRA, 2004).<br />

Dentro do grupo dos coliformes fecais a E. coli é a mais conhecida, apesar<br />

de também poder ser introduzida nos alimentos a partir de fontes não fecais, ainda é<br />

o melhor indicador de contaminação fecal (AGNESE et al., 2001).<br />

Segundo Agnese et al. (2001), a E. coli por não fazer parte da microbiota<br />

normal do pescado, pode estar associada à contaminação fecal do local onde esse<br />

pescado foi capturado, ao transporte e manuseio, incluindo vasilhame, gelo utilizado<br />

etc, que tenham entrado em contato com o pescado fresco.<br />

A E. coli é o microrganismo aeróbio mais freqüente no trato digestivo do<br />

homem e dos animais de sangue quente. Em geral, as estirpes de E. coli que<br />

49


colonizam o trato gastro-intestinal são comensais inofensivas ou desempenham um<br />

papel importante na manutenção da fisiologia intestinal (HUSS, 1997).<br />

A microbiota de ostras, mariscos, peixes e outras espécies aquáticas recém-<br />

capturadas refletem a qualidade microbiológica da água de onde foram capturadas<br />

(PELCZAR et al., 1981).<br />

A E. coli pode, sem dúvida, ser isolada de ambientes poluídos por matéria<br />

fecal ou esgotos e o organismo pode-se multiplicar e sobreviver durante um longo<br />

período neste ambiente. No entanto, foi demonstrado, recentemente, que a E. coli<br />

pode ser igualmente encontrada em águas tropicais quentes não poluídas, onde<br />

pode sobreviver indefinidamente (HUSS, 1997).<br />

A E. coli patogênica é categorizada em 6 grupos: enteropatogênica (EPEC),<br />

enteroinvasora (EIEC), enterotóxica (ETEC), entero-hemorrágica (EHEC),<br />

enteroagregativa (EAEC) e difusamente aderente (DAEC). Os alimentos envolvidos<br />

em surtos causados por essa bactéria são: carne, aves, peixes, vegetais, maçã, leite<br />

natural, queijo brie e camembert e água (MARTH, 1998).<br />

As cepas de E. coli enteropatogênicas são a principal causa da diarréia<br />

infantil. No Brasil, as EPEC são responsáveis por cerca de 30% dos casos de<br />

diarréia aguda em crianças com idade inferior a seis meses. Crianças com idade<br />

superior a um ano raramente são afetadas (VIEIRA, 2004). As EPEC são associadas<br />

a uma diarréia intensa, principalmente em recém-nascidos e lactantes jovens,<br />

geralmente acompanhada de dores abdominais, vômitos e febre (VIEIRA, 2004).<br />

A E. coli (ETEC) são os agentes etiológicos predominantes da chamada<br />

diarréia do viajante. A infecção normalmente é contraída por alimentos e águas<br />

contaminadas (VIEIRA, 2004). Os sintomas provocados por ETEC são diarréia<br />

aquosa, febre baixa, dores abdominais e náuseas. Quando intensa, causa diarréia<br />

50


severa semelhante à da cólera, com fezes similares a água de arroz, provocando<br />

desidratação (VIEIRA, 2004).<br />

As infecções intestinais, provocadas por EIEC, são mais freqüentes em<br />

crianças maiores e adultos. Os sintomas provocados por EIEC são: diarréia profusa,<br />

cólicas abdominais, febre, dor de cabeça e dores musculares (VIEIRA, 2004).<br />

A colite hemorrágica é uma doença caracterizada por dores abdominais<br />

severas, diarréia aguda com grande quantidade de sangue nas fezes e ausência de<br />

febre (VIEIRA, 2004).<br />

As cepas de EAEC estão associadas principalmente a diarréia infantil<br />

persistente, que pode durar mais de 14 dias (VIEIRA, 2004).<br />

Alguns estudos relacionaram as cepas de DAEC como agentes de diarréia.<br />

Foi relatada a ocorrência de diarréia aquosa sem a ocorrência de sangue ou<br />

leucócitos nas fezes, na maioria dos pacientes infectados com DAEC (VIEIRA,<br />

2004).<br />

Não há indicação de que o pescado seja uma fonte importante de infecção<br />

por E. coli. A maior parte das infecções parece estar relacionada com a<br />

contaminação de água ou com o manuseio do produto alimentar em condições não<br />

higiênicas (HUSS, 1997).<br />

Uma boa higiene pessoal e uma educação sanitária dos manipuladores de<br />

alimentos são, por isso, essenciais no controle das doenças causadas por E. coli.<br />

Um tratamento adequado (por exemplo, cloração) da água e a eliminação sanitária<br />

dos esgotos constituem, igualmente, aspectos essenciais num programa de controle<br />

(HUSS, 1997).<br />

51


3.2.4. Shigella sp.<br />

As shigelas são bastonetes Gram-negativos, imóveis, seu crescimento ótimo<br />

ocorre a 37ºC, sob condições de aerobiose (PELCZAR et al., 1981).<br />

A Shigella sp. é causa de uma shigellose (inicialmente conhecida por<br />

disenteria bacilar) que é uma infecção dos intestinos. Os sintomas variam desde<br />

infecção assintomática ou diarréia moderada até disenteria, caracterizada por fezes<br />

sanguinolentas, secreções de muco, desidratação, febre alta e severas cólicas<br />

abdominais. A morte nos adultos é rara, mas a doença nas crianças pode ser severa<br />

(HUSS, 1997).<br />

Os alimentos mais envolvidos nos surtos de shigelose são as saladas de<br />

batatas. Outras saladas, contendo carne de aves e alimentos marinhos, também<br />

podem ser envolvidos, principalmente quando os ingredientes de origem animal não<br />

são submetidos a tratamentos térmicos adequados (SILVA, 2000).<br />

Diversos alimentos, incluindo o pescado (saladas de atum) tem sido também<br />

a causa de um certo número de surtos de shigellose. Isto tem resultado quase<br />

sempre da contaminação de alimentos crus ou previamente cozidos, durante a<br />

preparação, por um portador assintomático infectado com uma reduzida higiene<br />

pessoal (HUSS, 1997).<br />

O reservatório natural das shigelas é o trato intestinal do homem e de outros<br />

primatas. A partir do seu reservatório, principalmente por falhas higiênicas, esta<br />

bactéria pode contaminar a água e outros alimentos (SILVA, 2000).<br />

Shigella sp. é causadora de infecção alimentar quando presente em número<br />

suficientemente elevado (VIEIRA, 2004).<br />

Chama a atenção para um problema de vista da saúde pública, uma vez que<br />

uma quantidade pequena de Shigella sp. no alimento pode gerar disenteria no<br />

52


consumidor. Nos Estados Unidos, segundo dados da FDA, a incidência de infecção<br />

por Shigella sp. associada a alimentos marinhos é de sete casos/ano, sendo que no<br />

México este número passa para 200 casos/ano. Esta bactéria pode causar infecção<br />

mesmo estando em baixa dosagem e pode sobreviver por longo tempo em pescados<br />

(VARGAS; QUINTAES, 2003).<br />

As infecções provocadas por este microrganismo se disseminam pela via<br />

fecal-oral, de pessoa a pessoa, por meio de mãos e objetos contaminados.<br />

Ocasionalmente água e alimentos podem constituir-se em veículos para as shigelas.<br />

Portanto, a shigelose está diretamente associada a condições higiênicas deficientes,<br />

principalmente em áreas de alta densidade demográfica, com infra-estrutura de<br />

saneamento básico deficitário (SILVA, 2000). Essas infecções podem ser evitadas<br />

pela adoção de medidas preventivas, principalmente de métodos higiênicos durante<br />

a manipulação dos alimentos. É de fundamental importância à manutenção de um<br />

adequado sistema de limpeza e sanitização, cuidadosamente executado, evitando<br />

também a presença de insetos e roedores nos locais destinados ao processamento<br />

de alimentos, sabendo que as moscas são importantes veículos na disseminação<br />

desta bactéria (SILVA, 2000).<br />

A Shigella sp. é um microrganismo que não forma esporo, oferece baixa<br />

resistência ao calor e conseqüentemente pode ser facilmente eliminado por<br />

processos térmicos brandos (SILVA, 2000).<br />

53


4. PADRÔES MICROBIOLÓGICOS DO PESCADO<br />

Cada país importador tem seus próprios padrões microbiológicos e cada<br />

empresa importadora tem também seus critérios de avaliação, geralmente de caráter<br />

sigiloso. No Brasil, os produtos alimentares, antes de serem comercializados, são<br />

fiscalizados pelo Ministério da Agricultura. Saindo da indústria, a responsabilidade da<br />

fiscalização passa para o Ministério da Saúde e, nos Estados, estes se fazem<br />

representar por suas respectivas Secretarias (VIEIRA, 2004).<br />

As bactérias sobre as quais a legislação estabelece limites quase sempre<br />

não alteram a aparência do pescado, pois a razão de suas limitações decorre destas<br />

serem patógenas ao homem e não deterioradoras do produto (VIEIRA, 2004).<br />

No Brasil, a resolução RDC nº 12 de 2 de janeiro de 2001 (Anexo 1), da<br />

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA (2001), define os critérios e<br />

padrões microbiológicos para alimentos expostos à venda e à exportação (VIEIRA,<br />

2004).<br />

54


5. CONCLUSÃO<br />

Com relação aos alimentos marinhos, o pescado pode se contaminar no<br />

próprio local onde vive, devido à contaminação da água, na manipulação da matéria<br />

prima fresca e no estabelecimento onde é processado e armazenado, isso tudo<br />

devido a falta de higiene.<br />

Observamos que, as bactérias patogênicas veiculadas pelo pescado,<br />

constituem-se em uma variedade relativamente grande, sendo um perigo biológico<br />

para a saúde do consumidor, dependendo, logicamente, o risco de causar doença,<br />

da sua concentração e da maneira que este pescado será consumido (cru, cozido,<br />

pratos prontos, etc.).<br />

O produto consumido cru pode tornar-se mais perigoso, pois, vários<br />

patógenos não resistem à temperatura de cozimento.<br />

No caso dos pratos prontos, o perigo ocorre, principalmente, da<br />

contaminação cruzada, considerando-se que o alimento não vai sofrer ação de<br />

temperaturas elevadas; no caso dos patógenos produtores de toxinas, como C.<br />

botulinum e S. aureus, a situação torna-se mais complicada.<br />

Os moluscos bivalves constituem-se no grupo mais vulnerável, devido tanto<br />

a contaminação do seu habitat, como ao hábito de consumi-los crus ou mal cozidos.<br />

Outro fator importante é a utilização de gelo em barcos que não contenham<br />

câmaras frigoríficas. O gelo é importante para a manutenção da qualidade do<br />

pescado, é utilizado logo após a captura, até a comercialização. Em caso de<br />

utilização de água poluída para fazer gelo pode ocorrer a contaminação do pescado.<br />

Deve haver uma conscientização para as condições higiênicas sanitárias,<br />

para assim diminuírem os ricos de contaminação no pescado.<br />

55


A bibliografia consultada evidência a necessidade de mais dados<br />

estatísticos, ou seja, epidemiológicos, para que seja possível avaliar a ocorrência de<br />

casos e surtos ocorridos no Brasil, objetivando quantificá-los, proporcionando assim,<br />

a aplicação das medidas preventivas para o controle das diversas situações de<br />

contaminação microbiológica do pescado.<br />

56


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pescado e derivados. Coordenador Felix Alejandro Ruiz Alor, ITAL Santos, 28 a 30<br />

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62


GRUPO DE<br />

ALIMENTOS<br />

ANEXOS<br />

Anexo 1: Padrões Microbiológicos Sanitários para Alimentos<br />

MICRORGANISMOS Tolerância<br />

para<br />

Amostra<br />

Indicativa<br />

Tolerância para<br />

Amostra<br />

Representativa<br />

n c m M<br />

7. PESCADOS E PRODUTOS DE PESCA<br />

Estaf.coag.positiva/g 10 3<br />

a) Pescado,<br />

5 2 5x10² 10³<br />

ovas de peixes,<br />

crustáceos e<br />

moluscos<br />

cefalópodes "in<br />

natura",<br />

resfriados ou<br />

congelados,<br />

não consumido<br />

cru;<br />

Salmonella sp/25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

Moluscos<br />

bivalves "in<br />

natura",<br />

resfriados ou<br />

congelados,<br />

não consumido<br />

cru;<br />

Carne de rãs "in<br />

natura",<br />

refrigerada ou<br />

congelada.<br />

b) Moluscos Coliformes a 45ºC/g 5x10 5 2 10 5x10<br />

bivalves, carne Estaf. coag. positiva/g 10 3<br />

5 2 10² 10³<br />

63


de siri e<br />

similares<br />

cozidos,<br />

temperados e<br />

não,<br />

industrializados<br />

resfriados ou<br />

congelados.<br />

c) Pescados,<br />

moluscos e<br />

crustáceos<br />

secos e ou<br />

salgados;<br />

semi conservas<br />

de pescados,<br />

moluscos e<br />

crustáceos,<br />

mantidas sob<br />

refrigeração<br />

(marinados,<br />

anchovados ou<br />

temperados).<br />

Salmonella sp./25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

Coliformes a 45ºC/g 10² 5 3 10 10²<br />

Estaf.coag.positiva/g 5x10² 5 2 10² 5x10²<br />

Salmonella sp/25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

d) Pescado<br />

Coliformes a 45ºC/g 10² 5 2 10 10²<br />

defumado,<br />

Estaf. coag positiva 5x10² 5 2 10² 5x10²<br />

moluscos e<br />

crustáceos,<br />

refrigerados ou<br />

congelados;<br />

produtos<br />

derivados de<br />

pescado (surimi<br />

e similares),<br />

refrigerados ou<br />

congelados<br />

Salmonella sp/25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

e) Produtos à Coliformes a 45ºC/g 10³ 5 3 10² 10³<br />

base de Estaf.coag.positiva/g 10³ 5 2 5x10² 10³<br />

64


pescado<br />

refrigerados ou<br />

congelados<br />

(hambúrgueres<br />

e similares).<br />

Salmonella sp/25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

f) Ovas de<br />

Coliformes a 45ºC/g 10² 5 3 10 10²<br />

pescados<br />

Estaf. coag. Positiva/g 5x10² 5 2 10² 5x10²<br />

processadas,<br />

refrigeradas ou<br />

congeladas.<br />

Salmonella sp./25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

g) Pescados Coliformes a 45ºC/g 10² 5 2 10 10²<br />

pré cozidos, Estaf. coag. Positiva/g 5x10² 5 2 10² 5x10²<br />

empanados ou<br />

não,<br />

refrigerados ou<br />

congelados<br />

Salmonella sp./25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

20. ALIMENTOS EMBALADOS E CONGELADOS, EXCEÇÃO DE SOBREMESAS<br />

Coliformes a 45 o C/g 5x10 2<br />

5 2 10² 5x10²<br />

Estaf.coag.positiva/g 10³ 5 2 5x10² 10³<br />

B.cereus/g (específico para 5x10<br />

produtos à base de cereais ou<br />

amidos)<br />

3<br />

5 2 2x10² 5x10³<br />

C.sulf.redutor a 46 0 C/g 3x10<br />

(específico para produtos à<br />

base de carnes)<br />

2<br />

5 2 2x10 2 a) alimentos<br />

parcialmente<br />

preparados<br />

(massas<br />

alimentícias<br />

cruas com ou<br />

3x10²<br />

sem recheio,<br />

pratos crus à<br />

base de carnes,<br />

vegetais,<br />

pescados,<br />

cereais, etc.)<br />

Salmonella sp/25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

22. PRATOS PRONTOS PARA O CONSUMO (ALIMENTOS PRONTOS DE<br />

COZINHAS, RESTAURANTES E SIMILARES)<br />

Coliformes a 45 o C/g 2x10 5 2 10 2x10<br />

Estaf.coag.positiva/g 10 3<br />

5 2 5x10² 10³<br />

B.cereus/g 10³ 5 2 5x10² 10³<br />

C.sulf.redutor a 46 0 a) a base de<br />

carnes,<br />

pescados, ovos<br />

e similares<br />

C/g 10³ 5 2 2x10² 10³<br />

cozidos<br />

(específico para produtos à<br />

base de carnes)<br />

Salmonella sp/25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

65


Coliformes a 45 o b) a base de<br />

C/g 10² 5 2 10 10²<br />

carnes,<br />

Estaf.coag.positiva/g 5x10³ 5 3 10² 5x10³<br />

pescados e V.parahaemolyticus(específico 10³ 5 2 10² 10³<br />

similares crus para produtos à base de<br />

(quibe cru,<br />

pescados)<br />

carpaccio,<br />

sushi, sashimi,<br />

etc.)<br />

Salmonella sp/25g Ausente 5 0 Aus. -<br />

FONTE: BRASIL, 2001.<br />

Para fins de aplicação de planos de amostragem entende-se:<br />

a) m: é o limite que, em um plano de três classes, separa o lote aceitável do<br />

produto ou lote com qualidade intermediária aceitável.<br />

b) M: é o limite que, em plano de duas classes, separa o produto aceitável<br />

do inaceitável. Em um plano de três classes, M separa o lote com qualidade<br />

intermediária aceitável do lote inaceitável. Valores acima de M são inaceitáveis.<br />

c) n: é o número de unidades a serem colhidas aleatoriamente de um<br />

mesmo lote e analisadas individualmente.<br />

d) c: é o número máximo aceitável de unidades de amostras com contagens<br />

entre os limites de m e M (plano de três classes). Nos casos em que o padrão<br />

microbiológico seja expresso por “ausência”, c é igual a zero, aplica-se o plano de<br />

duas classes (BRASIL, 2001)<br />

66


.<br />

<strong>Coelho</strong> <strong>Campos</strong>, <strong>Marcio</strong>.<br />

Bactérias Patogênicas Veiculadas pelo Pescado / <strong>Marcio</strong> <strong>Coelho</strong> <strong>Campos</strong>.<br />

66 f.<br />

Monografia (Pós-Graduação) - Universidade Castelo Branco. São Paulo,<br />

2009.<br />

Área de concentração: Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal.<br />

Orientador: Professor Doutor Marcelo Barbosa Henriques.<br />

1. Pescado 2. Bactérias Patogênicas<br />

67

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