12 GESTÃO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS DECOMPOSIÇÃO AERÓBIA ESPONTÂNEA E COMPOSTAGEM A técnica da compostagem, a que nos referiremos com mais <strong>de</strong>talhe no Capítulo 4, utiliza os conhecimentos resultantes do estudo da evolução do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição/humificação da matéria orgânica para, visando objectivos <strong>de</strong> natureza ambiental e agronómica, criar as condições na massa <strong>de</strong> <strong>resíduos</strong> que permitam o pleno <strong>de</strong>senvolvimento dos microrganismos responsáveis pela <strong>de</strong>composição aeróbia, controlando os factores nutricionais e ambientais <strong>de</strong> forma a assegurar a optimização das condições <strong>de</strong> vida daqueles microrganismos ao longo do processo. Po<strong>de</strong>r-se-á, assim, retirar que técnica <strong>de</strong> compostagem consiste na <strong>de</strong>gradação e humificação controladas dos <strong>resíduos</strong> <strong>orgânicos</strong> por via aeróbia. CONSTITUIÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS HÚMICAS O mecanismo <strong>de</strong> formação das substâncias húmicas é, ainda, insuficientemente compreendido, tendo sido apresentadas várias teorias para o <strong>de</strong>screver. (Stevenson, 1982; Mustin, 1987; Senesi e Loffredo, 1998). De acordo com a teoria que actualmente tem melhor aceitação, a lenhina parcialmente <strong>de</strong>composta e os polifenóis, cuja presença relativa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da natureza dos <strong>resíduos</strong> em <strong>de</strong>composição, serão os principais precursores dos compostos húmicos. A lenhina manterá inalterada parte da sua estrutura aromática fechada (núcleo) constituída, basicamente, por unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fenilpropano e arquitectada através <strong>de</strong> ligações C – C ou C – O, mas os grupos terminais metílicos (CH 3 ) e metoxílicos (OCH 3 ) das ca<strong>de</strong>ias alifáticas são, durante o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição, progressivamente oxidados por acção enzimática, com a consequente formação <strong>de</strong> radicais carboxílicos (COOH). Da <strong>de</strong>smetilação e oxidação das ca<strong>de</strong>ias laterais da lenhina também resultarão polifenóis que, juntamente com os polifenóis eventualmente associados aos diglucósidos e taninos ou os sintetizados pelos microrganismos (Kononova, 1966; Stevenson, 1982; Soltner, 1986), são enzimaticamente convertidos em quinonas. Estas, por sua vez, ligando-se a substâncias azotadas (aminoácidos, proteínas, NH 4 etc.), resultantes da <strong>de</strong>composição dos prótidos ou sintetizadas pelos microrganismos, constituem polímeros húmicos <strong>de</strong> crescente complexida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> cor cada vez mais escura (Stevenson, 1982; Soltner, 1986; Senesi e Loffredo, 1998). Para além da lenhina, dos polifenóis e dos compostos azotados referidos, outros compostos provenientes da <strong>de</strong>composição dos <strong>resíduos</strong> <strong>orgânicos</strong> ou sintetizados pelos microrganismos, tais como lípidos, polissacáridos, ácidos
CAPÍTULO 1 | MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO poliurónicos, ácidos mucopolissacáridos, ácidos nucleicos, peptídios, etc., contribuem, também, para a formação <strong>de</strong> substâncias húmicas (Kononova, 1966). De toda uma panóplia <strong>de</strong> reacções (bioquímicas e químicas) <strong>de</strong> oxidação e con<strong>de</strong>nsação resultam, como se disse, polímeros húmicos cada vez mais complexos e estáveis e <strong>de</strong> massa molecular (PM) crescente, iniciando-se pela formação dos ácidos crénicos (100