10 GESTÃO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS FASE DE DEGRADAÇÃO OU DE DECOMPOSIÇÃO RÁPIDA Após um período <strong>de</strong> adaptação (fase «lag»), a fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação da matéria orgânica veiculada pelos <strong>resíduos</strong> inicia-se com um crescimento exponencial (fase «log») da população microbiana (bactérias na maior parte dos casos) que proce<strong>de</strong> a uma relativamente rápida <strong>de</strong>composição da fracção facilmente bio<strong>de</strong>gradável da matéria orgânica (glúcidos solúveis e hidrolisáveis, lípidos, proteínas, etc.) nas suas moléculas mais elementares (açúcares, aminoácidos, ácidos gordos voláteis, etc.). Em consequência <strong>de</strong>sta acção microbiana, na presença <strong>de</strong> oxigénio e água, são produzidos dióxido <strong>de</strong> carbono (CO 2 ), água (H 2 O) e amoníaco (NH 3 ) (este último disponível como fonte <strong>de</strong> azoto para a constituição <strong>de</strong> novas células) e outros metabolitos intermédios, bem como elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> calor. As elevadas concentrações <strong>de</strong> metabolitos intermédios, alguns dos quais fitotóxicos (amoníaco, ácidos gordos voláteis e outros ácidos <strong>orgânicos</strong>), são <strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a provocar acentuadas quebras na produção vegetal se os <strong>resíduos</strong> <strong>orgânicos</strong> nesta fase contactarem com as sementes e raízes (Golueke, 1977; Katayama et al., 1983; Shiralipour, 1997). FASE DE HUMIFICAÇÃO Nesta fase, <strong>de</strong>senvolve-se uma nova e diversificada população microbiana (fungos, actinomicetas, bactérias) em substituição da população responsável pela fase anterior que, entretanto, se vai <strong>de</strong>compondo, libertando CO 2 , H 2 O e energia, permitindo, <strong>de</strong>ste modo, a reciclagem dos nutrientes, nomeadamente do azoto (N). A fracção lentamente bio<strong>de</strong>gradável dos <strong>resíduos</strong> <strong>orgânicos</strong> (hemicelulose, celulose, quitina) e, ainda, a fracção mais resistente (lenhina e linhocelulose) são parcialmente <strong>de</strong>compostas por fungos, actinomicetas e, posteriormente, bactérias. Segundo a maioria dos autores, a lenhina parcialmente <strong>de</strong>composta constitui a estrutura base das substâncias húmicas (Kononova, 1966; Stevenson, 1982; Mustin, 1987), à qual se ligam, através <strong>de</strong> reacções <strong>de</strong> oxidação e con<strong>de</strong>nsação, os compostos resultantes <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação dos <strong>resíduos</strong> <strong>orgânicos</strong> e ou sintetizados pelos microrganismos, constituindo, através <strong>de</strong>stas reacções, substâncias húmicas <strong>de</strong> peso molecular crescente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os ácidos crénicos e apocrénicos aos ácidos húmicos <strong>de</strong> peso molecular relativamente baixo (Kononova, 1966; Stevenson, 1982; Soltner, 1986; Zucconi, 1983). Libertam-se também nesta fase CO 2 e H 2 O bem como NH 3 e outros metabolitos fitotóxicos, mas em concentrações relativamente reduzidas, sendo igualmente reduzida a
CAPÍTULO 1 | MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO produção <strong>de</strong> calor. Em consequência da contínua reciclagem do azoto e do consumo <strong>de</strong> carbono (C), a relação C/N vai-se reduzindo <strong>de</strong> forma mais ou menos acentuada, em função das características dos <strong>resíduos</strong>. FASE DE ESTABILIZAÇÃO Esta fase, cuja evolução se <strong>de</strong>ve mais ao <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> complexos processos químicos <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nsação e polimerização do que à acção dos microrganismos, caracteriza-se pela formação <strong>de</strong> polímeros estáveis, como os ácidos húmicos castanhos, <strong>de</strong> peso molecular mais elevado (PM até 50 000) e os ácidos húmicos cinzentos (50 000