14.04.2013 Views

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

105<br />

a má q u i n a d a es c r i t a<br />

explicitação <strong>de</strong>la, parece escapar‑nos, como o poeta, por<br />

entre as fissuras que separam a vida da escrita, as mesmas<br />

por on<strong>de</strong> se esquiva a felicida<strong>de</strong>, sempre perseguida 8 .<br />

No livro Cesário: Instantes da Fala, o princípio do labor<br />

limae, expresso na Arte Poética <strong>de</strong> Horácio, adopta<br />

acentos metafóricos e transforma‑se em assunto do<br />

poema:<br />

Vou‑me apurando com paciência quase beata<br />

a limar arestas, a cobrir vazios, a podar<br />

ninúsculas hastes rebel<strong>de</strong>s, a mascarar sentidos. (I: 103)<br />

O leitor que <strong>de</strong>sce à cave oficinal <strong>de</strong>ste poeta sente<br />

ainda a pulsão que arremessa para o papel a mão que<br />

escreve – génese do acto poético («o poema nasce <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />

impulso, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a febre, da tirania <strong>de</strong> <strong>um</strong>a imagem, da<br />

tentação sonora <strong>de</strong> <strong>um</strong>a metáfora» – II: 417), que não<br />

se confun<strong>de</strong> com o abandono a <strong>um</strong>a emoção repentista<br />

– e ace<strong>de</strong> a alguns dos instr<strong>um</strong>entos com que a vai<br />

fazendo subir ao rés‑do‑chão expressivo: a metáfora, o<br />

ritmo, a sonorida<strong>de</strong> e a ondulação marinha. Tudo mais<br />

lhe é vedado, com o auto‑esclarecimento <strong>de</strong> quem se<br />

distancia para afirmar limites. Esta poesia não cessa <strong>de</strong><br />

dizer que o que no poema se liberta começa sempre por<br />

ser a consciência dos limites: «A minha escrita consente<br />

que eu fale <strong>de</strong>la/ somente para dizer que é veloz e<br />

impaciente/ a sua ossatura verbal, sempre se<strong>de</strong>nta <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> final,/ <strong>de</strong> <strong>um</strong> epílogo, <strong>de</strong> <strong>um</strong> remate que a não<br />

<strong>de</strong>sconsole» (PIL: 38).<br />

8 Cf. «Esquiva‑se a Felicida<strong>de</strong>» (II: 281).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!