Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Teresa Carvalho<br />
Eles assinalam, por <strong>um</strong> lado, <strong>um</strong> procedimento<br />
com<strong>um</strong> na poesia do autor: o acto <strong>de</strong> se voltar para<br />
si mesma, ou, e servindo‑me <strong>de</strong> <strong>um</strong>a expressão que a<br />
imagem autoriza, para a própria engrenagem poética –<br />
meditando‑se, inquirindo‑se, sondando‑se, envolvendo<br />
o leitor n<strong>um</strong> exercício <strong>de</strong> lúcida reflexão que revela<br />
<strong>um</strong>a forte consciência dos mecanismos implicados nos<br />
processos <strong>de</strong> significação em poesia, com as suas práticas<br />
verbais, métodos, processos e recursos, das suas próprias<br />
contradições, a a<strong>de</strong>nsar‑se nas obras mais recentes.<br />
Não Há Poetas Felizes, livro on<strong>de</strong> cabe «A Celebração<br />
da Metáfora», velha aliada do seu jogo <strong>de</strong> sedução<br />
com a linguagem e tantas vezes convocada no interior<br />
do próprio discurso poético, é bem <strong>um</strong> exemplo <strong>de</strong>ssa<br />
consciência que confere espessura meditativa ao poema.<br />
Por outro lado, aqueles versos iniciais aproximam‑nos<br />
da i<strong>de</strong>ia da (involuntária) criação contínua, simbolizada<br />
nas rodas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a máquina <strong>de</strong> funcionamento só<br />
aparentemente simples – a da escrita, enquanto acto <strong>de</strong><br />
linguagem – em que o poeta parece não ter mão:<br />
Move‑se <strong>um</strong>a máquina febril<br />
por <strong>de</strong>trás dos tap<strong>um</strong>es altos <strong>de</strong>sta escrita<br />
e ao mover‑se clama por <strong>um</strong> entendimento<br />
que tantas vezes me supera, me transtorna.<br />
Será que não passo do instr<strong>um</strong>ento difícil<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong> dizer que me não pertence? (SR‑L: 30)<br />
Movendo‑se por sua conta – e risco do “eu” –, ao<br />
sabor do furor e do fulgor <strong>de</strong> <strong>um</strong>a força incendiária, isto<br />
é, fora do controle <strong>de</strong> <strong>um</strong>a consciência poética que sabe<br />
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