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Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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91<br />

a má q u i n a d a es c r i t a<br />

Senta‑se o leitor à ilharga do que escrevo<br />

e interroga‑se: que lógica faz mover<br />

as alavancas e as rodas imperfeitas<br />

<strong>de</strong>sta fala? Ninguém se atreve a respon<strong>de</strong>r‑lhe.<br />

Posto no lugar, talvez não do leitor com<strong>um</strong>,<br />

mas daquele leitor que se abeira da sua poesia em jeito<br />

crítico (ou do seu universo ficcional, tão próximo <strong>de</strong>la),<br />

se preferirmos, ass<strong>um</strong>indo a função <strong>de</strong> leitor‑crítico<br />

<strong>de</strong> si mesmo, José Jorge Letria surge‑nos, nos versos<br />

em epígrafe, aparentemente dominado por <strong>um</strong><br />

sentimento <strong>de</strong> impotência explicativa, a convertê‑lo,<br />

paradoxalmente, em <strong>de</strong>cifrador <strong>de</strong> matéria enigmática<br />

– o ofício <strong>de</strong> todo o Poeta que, movido pelo <strong>de</strong>sejo<br />

do (auto)conhecimento e da busca <strong>de</strong> <strong>um</strong>a verda<strong>de</strong><br />

que – afirmava Jorge <strong>de</strong> Sena – «a poesia não tem por<br />

fim achar, mas testemunhar que insatisfeitamente ela<br />

é buscada» 1 , caminha pelo labirinto das suas próprias<br />

galerias.<br />

Subtraídos a <strong>um</strong> poema incluído n<strong>um</strong> vol<strong>um</strong>e<br />

publicado em 1998, significativamente intitulado A<br />

Meta<strong>de</strong> Il<strong>um</strong>inada, estes versos constituem o ponto<br />

<strong>de</strong> partida para <strong>um</strong>a reflexão que assenta em aspectos<br />

que se pren<strong>de</strong>m com a criação poética <strong>de</strong> J. J. Letria,<br />

comunicada n<strong>um</strong>a expressa metalinguagem que po<strong>de</strong>rá<br />

ajudar a <strong>de</strong>finir <strong>um</strong>a ars poetica e que vem marcando <strong>um</strong>a<br />

vasta produção que recolhe da “arte <strong>de</strong> ser” e da “arte <strong>de</strong><br />

parecer” muito do seu fascínio (e da sua complexida<strong>de</strong>)<br />

e da metáfora a energia vital que a singulariza no quadro<br />

da actual poesia portuguesa contemporânea.<br />

1 Jorge <strong>de</strong> Sena, Poesia I, Lisboa, Edições 70, 1988, p. 27.

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