Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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a P o É t i c a d a m á s c a ra e d o (d e s)m a s c a ra r<br />
do sujeito, reiterado nos versos 3‑5, convoca a máscara<br />
como «máquina <strong>de</strong> enganos», forja do riso, da gargalhada<br />
e da obscenida<strong>de</strong>. Mas não consegue tal subterfúgio o<br />
<strong>de</strong>scanso, antes mais e mais <strong>de</strong>sassossego, porquanto<br />
também ela, colocada sobre <strong>um</strong> rosto com o qual se<br />
(con)fun<strong>de</strong> (v. 15), gera mais e mais alvoroço. Um rosto<br />
que imita outro rosto, dois rostos – duas personae – que<br />
dialogam e entram em irremediável conflito.<br />
Porque a máscara é isso mesmo, exercício<br />
<strong>de</strong> ocultação/revelação do eu, objecto <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
<strong>de</strong>spersonalização <strong>de</strong> matriz pessoana, explicada com<br />
il<strong>um</strong>inadas contradições no poema «Como n<strong>um</strong>a<br />
comédia <strong>de</strong> Plauto», do livro Quem com Ferro Ama, <strong>de</strong><br />
1999:<br />
Como n<strong>um</strong>a comédia <strong>de</strong> Plauto,<br />
eu sou o autor que ri do autor,<br />
rindo também do sortilégio dos <strong>de</strong>uses,<br />
convocando as misérias do império<br />
para a mesa com<strong>um</strong> dos mortais.<br />
Agosto ar<strong>de</strong> na corola dos girassóis,<br />
na planície minguada da sombra,<br />
ferida pela clamorosa se<strong>de</strong> dos pássaros.<br />
Eu sou a máscara que oculta a face<br />
e a face que dissimula a voz<br />
n<strong>um</strong> vertiginoso exercício teatral<br />
em que a personagem morre<br />
por <strong>de</strong>ntro daquilo que não diz.<br />
Assim é o poema: máscara<br />
violentamente colada à fala,<br />
fingimento amável que duplica<br />
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