Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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ca r t o g ra f a n d o o labirinto<br />
estio» (e fulgurações perdidas); namoradas «que casaram<br />
e engordaram»; a figura sempre simpática que é para<br />
J. J. Letria a da Espanha; amigos que <strong>de</strong>sapareceram<br />
estupidamente; o velho Santini, «mestre dos paladares do<br />
gelo». O próprio Eusébio‑pantera, «a enxugar as lágrimas<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong> jogo fatal», circula no espaço textual <strong>de</strong>sta longa<br />
fala on<strong>de</strong> o monologismo para que pen<strong>de</strong> esta poesia dá<br />
lugar ao dialogismo interior <strong>de</strong> <strong>um</strong> “eu” que, errante,<br />
n<strong>um</strong>a verificação amarga do presente, «procura a porta<br />
para se evadir do poema».<br />
Não menos importantes são as figuras literárias que<br />
a memória culta, <strong>de</strong> <strong>um</strong> modo ou <strong>de</strong> outro, traz ao poema<br />
– Plauto, Pavese, Calvino, o próprio Pessoa (poeta que<br />
quanto mais J. J. Letria inva<strong>de</strong>, mais é invadido por ele).<br />
Dão conta <strong>de</strong> <strong>um</strong>a aproximação <strong>de</strong> vozes, <strong>de</strong> <strong>um</strong> diálogo<br />
íntimo em que o autor que convoca e o autor convocado<br />
se estreitam, n<strong>um</strong> implícito confronto <strong>de</strong> mundivivências.<br />
Acrescente‑se ainda a própria figura da linguagem,<br />
sempre tão presente, com a qual o poeta mantém <strong>um</strong>a<br />
tão estreita relação – a alma <strong>de</strong> <strong>um</strong> ‘negócio’ sublime que<br />
tantas vezes ameaça falir, sob a forma do silêncio, mas que<br />
o adivinhado sofrimento pela mu<strong>de</strong>z criativa impe<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
fechar portas: «confesso que estou cansado, mas <strong>de</strong>claro/<br />
que nada me fará <strong>de</strong>sistir, renunciar» (II: 260).<br />
É <strong>um</strong> poema muito povoado, a <strong>de</strong>screver,<br />
paradoxalmente, <strong>um</strong> percurso <strong>de</strong> perda e <strong>de</strong> solidão.<br />
Tanto assim que o espaço‑tempo do presente ce<strong>de</strong> a sua<br />
realida<strong>de</strong> ao espaço‑tempo do passado; a indiferença,<br />
o abandono e a inquietu<strong>de</strong> do presente são quebrados<br />
pela companhia e pelo aconchego trazido ao poema pela