Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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ca r t o g ra f a n d o o labirinto<br />
normas que regulam o uso da linguagem. Assiste‑lhe o<br />
direito <strong>de</strong>ssa violência regeneradora,<br />
Por isso palavras agrestes e anti‑líricas como cabotino<br />
e medíocre exiladas embora do seu com<strong>um</strong> vocabulário<br />
acabam por figurar no diagnóstico que faz do tempo<br />
em que se move. Assiste‑lhe esse direito e também<br />
o <strong>de</strong> não se perfilar quando lhe dizem que o sonho<br />
é <strong>um</strong> comércio em <strong>de</strong>clínio, que a clarida<strong>de</strong> foi comprada<br />
por <strong>um</strong>a multinacional e que o bom comportamento<br />
lhe chega e sobra para ganhar o céu. (CA: 53)<br />
Em torno da área semântica do comércio<br />
apren<strong>de</strong>mos a reconhecer, <strong>de</strong> modo figurado, a<br />
comunicação <strong>de</strong> algo, a troca (para que apontam<br />
justamente os versos do autor em epígrafe) e/ ou a relação<br />
estreita entre pessoas. Um olhar atento pela página<br />
poética <strong>de</strong> José Jorge Letria testemunha claramente a<br />
favor da comunicação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a perda, para dar conta <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a situação existencial que a si mesmo se vê já sem saída.<br />
Importante é também a comunicação <strong>de</strong> <strong>um</strong> infortúnio<br />
ou o temor <strong>de</strong>le, senão mesmo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a maldição, que se<br />
esconjura na linguagem dúplice da poesia:<br />
Uma maldição me transformou<br />
no bolso das moedas sem valor<br />
on<strong>de</strong> se guardam as sílabas sangrentas<br />
(...)<br />
Moeda das transacções mais secretas<br />
que levam <strong>um</strong> homem a ven<strong>de</strong>r a alma<br />
no balcão sombrio da sua vida sem remorsos. (MMV: 16)