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Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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65<br />

ca r t o g ra f a n d o o labirinto<br />

normas que regulam o uso da linguagem. Assiste‑lhe o<br />

direito <strong>de</strong>ssa violência regeneradora,<br />

Por isso palavras agrestes e anti‑líricas como cabotino<br />

e medíocre exiladas embora do seu com<strong>um</strong> vocabulário<br />

acabam por figurar no diagnóstico que faz do tempo<br />

em que se move. Assiste‑lhe esse direito e também<br />

o <strong>de</strong> não se perfilar quando lhe dizem que o sonho<br />

é <strong>um</strong> comércio em <strong>de</strong>clínio, que a clarida<strong>de</strong> foi comprada<br />

por <strong>um</strong>a multinacional e que o bom comportamento<br />

lhe chega e sobra para ganhar o céu. (CA: 53)<br />

Em torno da área semântica do comércio<br />

apren<strong>de</strong>mos a reconhecer, <strong>de</strong> modo figurado, a<br />

comunicação <strong>de</strong> algo, a troca (para que apontam<br />

justamente os versos do autor em epígrafe) e/ ou a relação<br />

estreita entre pessoas. Um olhar atento pela página<br />

poética <strong>de</strong> José Jorge Letria testemunha claramente a<br />

favor da comunicação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a perda, para dar conta <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a situação existencial que a si mesmo se vê já sem saída.<br />

Importante é também a comunicação <strong>de</strong> <strong>um</strong> infortúnio<br />

ou o temor <strong>de</strong>le, senão mesmo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a maldição, que se<br />

esconjura na linguagem dúplice da poesia:<br />

Uma maldição me transformou<br />

no bolso das moedas sem valor<br />

on<strong>de</strong> se guardam as sílabas sangrentas<br />

(...)<br />

Moeda das transacções mais secretas<br />

que levam <strong>um</strong> homem a ven<strong>de</strong>r a alma<br />

no balcão sombrio da sua vida sem remorsos. (MMV: 16)

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