Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Teresa Carvalho<br />
Que vereda <strong>de</strong> aço, que ecrã gigante é este<br />
em que me divido e multiplico? (PM: 9)<br />
Sou sempre o outro, o que está e não está,<br />
dividindo e dividindo‑se, <strong>de</strong>screndo<br />
com o júbilo <strong>de</strong>sconcertante <strong>de</strong> quem finge crer. (PIL: 18)<br />
Multipliquei‑me em tantas páginas<br />
que tudo dizendo a meu respeito<br />
nada dizem sobre mim, fingidas e <strong>de</strong>nsas<br />
como os livros da loucura da infância. (PIL: 17)<br />
Longe vai já o tempo da «matemática perfeita»<br />
(NhPF: 38), a que o poeta alu<strong>de</strong> n<strong>um</strong> poema centrado<br />
na infância, ida<strong>de</strong> em que as palavras eram, a <strong>um</strong> tempo,<br />
revelação, r<strong>um</strong>o e or<strong>de</strong>m. O travo – a fel – <strong>de</strong>ixado<br />
por estas operações, encontramo‑lo, entre tantos<br />
outros exemplos possíveis, n<strong>um</strong> poema com <strong>um</strong> título<br />
revelador: «A Confissão do Duplo» (PIL: 17).<br />
Afirmou Goethe que a contabilida<strong>de</strong> é <strong>um</strong>a das<br />
mais belas invenções da mente h<strong>um</strong>ana e todo o bom<br />
empresário a <strong>de</strong>via introduzir na sua administração. José<br />
Jorge Letria, <strong>um</strong> bom gestor da sua própria multiplicida<strong>de</strong>,<br />
seguiu‑lhe o conselho. Com efeito, enquanto técnica<br />
<strong>de</strong> registos que procura captar, ac<strong>um</strong>ular (ou reunir),<br />
res<strong>um</strong>ir e interpretar, ela funciona como <strong>um</strong> meio <strong>de</strong><br />
controle <strong>de</strong> <strong>um</strong> “eu” que permanentemente se <strong>de</strong>sdobra,<br />
projectando‑se no espelho da ficção poética, n<strong>um</strong> misto<br />
<strong>de</strong> dor e satisfação criadora. Po<strong>de</strong>roso instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong><br />
gestão <strong>de</strong> <strong>um</strong> poeta que se diz heterónimo <strong>de</strong> si mesmo,<br />
ela ass<strong>um</strong>e‑se tanto mais importante quanto se sabe que<br />
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