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Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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Teresa Carvalho<br />

se <strong>de</strong>frontam e que, curiosamente, o poema «Nós», <strong>de</strong><br />

Cesário, contraria. De <strong>um</strong> lado, o comércio rotineiro,<br />

entediante e sombrio – as «graves coisas práticas»; do<br />

outro, <strong>um</strong> universo solar e transbordante <strong>de</strong> pulsão<br />

vital, «<strong>um</strong> astro alucinado» – a poesia, sentida como<br />

«<strong>um</strong> bem libertador, bálsamo <strong>de</strong> sons». O conflito é<br />

bebido não na poesia <strong>de</strong> Cesário, mas, ass<strong>um</strong>idamente,<br />

na sua correspondência, concretamente em cartas que<br />

se referem à activida<strong>de</strong> comercial e on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>scobrem<br />

elementos que permitem traçar o retrato apreensivo<br />

<strong>de</strong> alguém que, embora exercendo a sua profissão com<br />

competência e gosto, não quer ser visto como “o Sr.<br />

Ver<strong>de</strong>, empregado no comércio” 5 , mas como poeta:<br />

Eu sou daqui e não sou, dos algarismos, das mercadorias<br />

empilhadas, das parcelas exactas e sem luz<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> balanço anual positivo. Mais serei ainda<br />

das coisas que se situam na área da partilha,<br />

do sol e do vento. (I: 113‑114)<br />

O que temo é que permaneça <strong>de</strong> mim<br />

só a imagem baça do comércio<br />

5 Cesário Ver<strong>de</strong> em carta a Silva Pinto, datada <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong><br />

1886, dois anos antes da sua morte: “O doutor Sousa Martins<br />

perguntou‑me qual era a minha ocupação habitual. Eu respondi‑lhe<br />

naturalmente: “empregado no comércio”. Depois ele referiu‑se à<br />

minha vida trabalhosa, que me distraía, etc.<br />

Ora, meu querido amigo, o que eu te peço é que, conversando<br />

com o doutor Sousa Martins lhe dês a perceber que eu não sou o<br />

sr. Ver<strong>de</strong>, empregado no comércio.”. Sigo a edição <strong>de</strong> Teresa Sobral<br />

da Cunha, Cânticos do Realismo e Outros Poemas [seguidos <strong>de</strong>] 32<br />

Cartas, Lisboa, Relógio d’Água, 2006, carta nº 30, p. 217.<br />

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