14.04.2013 Views

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

39<br />

o labirinto sem mi n o t a u r o<br />

Aventuro‑me em cada novo livro<br />

como se me lançasse n<strong>um</strong> safari interior,<br />

perseguindo a fera que não sou,<br />

a sombra do que mais temo,<br />

o uivo ou o urro que mais me amedronta. (NhPF: 24)<br />

A ferocida<strong>de</strong>, por vezes <strong>um</strong>a «violência subtil», é<br />

<strong>um</strong>a das facetas <strong>de</strong>sta poesia, a manifestar‑se, sobretudo<br />

nos livros mais recentes, por meio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ironia ácida e<br />

do sarcasmo, que escon<strong>de</strong>m mal certas fissuras abertas.<br />

Ausência notada nesta poesia é a do monstro<br />

ameaçador e violento que domina o imaginário oci<strong>de</strong>ntal,<br />

n<strong>um</strong>a <strong>de</strong>sarr<strong>um</strong>ação do mito nos seus componentes<br />

habituais. Frequentemente tratado na poesia portuguesa<br />

contemporânea, com inegáveis constantes e com nítidas<br />

diferenças que <strong>de</strong>correm <strong>de</strong> <strong>um</strong> modo distinto <strong>de</strong><br />

elaborar textualmente os materiais míticos herdados do<br />

mundo clássico, o tema do labirinto 8 é tratado com a<br />

singularida<strong>de</strong> que marca a voz <strong>de</strong>ste poeta:<br />

No meu labirinto não há Minotauro<br />

nem poetas perseguindo o fio <strong>de</strong> som<br />

que os conduza ao âmago da luz .<br />

O meu labirinto não é o <strong>de</strong> Borges<br />

nem o dos efabuladores do fantástico:<br />

começa no sono e acaba na vigília<br />

alimentado por todas as tensões<br />

que me retesam os músculos e arrasam<br />

os nervos. (...)<br />

8 Vi<strong>de</strong> José Ribeiro Ferreira, «O tema do labirinto na poesia<br />

portuguesa contemporânea»: H<strong>um</strong>anitas 49 (1996) 309‑333.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!