Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Pl a c e n t a d e v o z e s a n t i g a s<br />
no limiar do sono. Gémeos que somos<br />
do <strong>de</strong>satino e do tormento, é a incompletu<strong>de</strong><br />
que proclamamos quando a noite<br />
se fecha em casulo sobre os nossos olhos<br />
e nada mais resta para além<br />
da rouca sofreguidão das ondas<br />
quando gritam: em nós se c<strong>um</strong>pre o mar. (II: 99)<br />
Eis a função dos mitos gregos na poética <strong>de</strong> J.<br />
J. Letria – semear o <strong>de</strong>salento pela busca ainda não<br />
c<strong>um</strong>prida das estrelas, do infinito, do impossível. Uma<br />
incompletu<strong>de</strong> inerente ao ser homem que vai colher<br />
exemplos ao panteão dos heróis antigos. Mas como po<strong>de</strong><br />
o mais terrível e punido dos matricídios, o <strong>de</strong> Orestes,<br />
servir <strong>de</strong> paradigma? Apenas no que o veste <strong>de</strong> loucura,<br />
<strong>de</strong>ssa loucura que ninguém – a não ser os poetas – po<strong>de</strong><br />
explicar, nesse ilimitado transpor das barreiras que não<br />
cabe nos espartilhos da razão.<br />
A Antiguida<strong>de</strong> é pois, nos contornos em que a<br />
revisita Letria, <strong>um</strong> paradigma ainda assim incompleto.<br />
Espaço/tempo <strong>de</strong> vida e morte, on<strong>de</strong> se confun<strong>de</strong>m vozes<br />
dissonantes n<strong>um</strong>a perfeita, porque confusa, sinfonia<br />
(ou disforia?) <strong>de</strong> vozes, aí encontra <strong>um</strong> rio poético em<br />
que não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> banhar‑se e <strong>de</strong> cujas torrentes<br />
aproveita as águas mais inspiradas. Mas <strong>de</strong>ixa claro,<br />
como quem confessa que não se revê neste ou naquele<br />
movimento poético:<br />
(...)<br />
e eu que não sou contemporâneo das pitonisas,<br />
dos arquitectos dos augúrios, adormeço