14.04.2013 Views

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Se os românticos vinham morrer aqui,<br />

sabiam ao que vinham,<br />

e não era a febre nem a hemorragia<br />

que os matava: era o fogo manso do azul<br />

a roubar‑lhes o ar, como quem beija<br />

sufocando, brutal, a boca amada. (II: 44)<br />

21<br />

Pl a c e n t a d e v o z e s a n t i g a s<br />

Para eles, a morte mais não é do que o espasmo,<br />

o beijo fatal dado pelos lábios da eternida<strong>de</strong>, o orgasmo<br />

último que, porque <strong>de</strong>masiado intenso, não consente<br />

que a própria vida prossiga. A Grécia é, afinal, a terra<br />

mãe que gera mas que também assiste, inerte, à morte<br />

tranquila do filho pródigo.<br />

Foi <strong>um</strong> <strong>de</strong>sses poetas o gran<strong>de</strong> Byron, que<br />

encontrou a morte em Missolonghi, no litoral norte do<br />

Golfo <strong>de</strong> Pratas, on<strong>de</strong> lutava ao lado dos gregos pela<br />

in<strong>de</strong>pendência da opressão turca, a 19 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1824.<br />

A ele dirige Letria <strong>um</strong> verda<strong>de</strong>iro epitáfio saudosista, a<br />

ele, também poeta e guerreiro, cuja «espada enlouquece/<br />

com as cintilações nocturnas/ que acordam nos <strong>de</strong>uses o<br />

gosto da eternida<strong>de</strong>». (II: 36.)<br />

Por que razão – po<strong>de</strong> perguntar‑se ainda – foram<br />

aí morrer os românticos? Porque nesses locais – diríamos<br />

– resi<strong>de</strong> a seiva poética antiga, a força das palavras que<br />

ferem e amam como punhais. Um mergulho nessas<br />

águas fecundas, que sabem ao sal da eternida<strong>de</strong>, e nasce,<br />

perfeita e completa, a poesia:<br />

Vou ao fundo das águas,<br />

ao lugar on<strong>de</strong> o estrondo é sinfonia,<br />

e o que trago nos lábios

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!