Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Peregrino d e o u t ra s á g u a s<br />
e na simplicida<strong>de</strong> das coisas busca a completu<strong>de</strong>. Se,<br />
como bem a <strong>de</strong>fine a Professora Maria Helena da Rocha<br />
Pereira, ela é “a poetisa da paixão, dos sentimentos<br />
exaltados e avassaladores” 6 , nela se percebe também, nas<br />
palavras <strong>de</strong> Fre<strong>de</strong>rico Lourenço, o “carisma amoroso<br />
produzido na mulher pela própria mulher” 7 , cultivando<br />
<strong>um</strong> amor <strong>de</strong> matriz homoerótica que muitos discutiram<br />
se seria mais do que platónico.<br />
O diálogo poético estabelecido com Safo<br />
procura, no limite, refutar a sua arte poética, negar<br />
que seja nessa essência <strong>de</strong> pétalas, pedras e grinaldas <strong>de</strong><br />
flores (vv. 1‑2), nessa essência mesmo do sentimento<br />
amoroso (vv. 3‑4) que resi<strong>de</strong> o essencial do viver. Que<br />
a essência residia no amor, isso havia proclamado a<br />
poetisa, <strong>de</strong> peito aberto e em jeito <strong>de</strong> quem grita, no<br />
fr. 16 Lobel‑Page (vv. 1‑4):<br />
Uns dizem que é <strong>um</strong>a hoste <strong>de</strong> cavalaria, outros <strong>de</strong> infantaria,<br />
outros dizem ser <strong>um</strong>a frota <strong>de</strong> naus, na terra negra,<br />
a coisa mais bela: mas eu digo ser aquilo<br />
que se ama.<br />
E da negação («O essencial não está...», v. 1) se<br />
passa para a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> <strong>um</strong>a outra essência («O essencial<br />
está...», v. 4; «O essencial é...», vv. 8, 9), que recupera<br />
<strong>um</strong>a vez mais – estranho paradoxo? – alguns tópicos da<br />
6 <strong>Estudo</strong>s <strong>de</strong> História da Cultura Clássica. I Vol<strong>um</strong>e – Cultura<br />
Grega. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 10 2006, p. 238.<br />
7 Poesia Grega <strong>de</strong> Álcman a Teócrito. Cotovia, Lisboa, 2006,<br />
p. 33. Desta colectânea colhemos as traduções <strong>de</strong> Safo que aqui<br />
apresentamos.