Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Peregrino d e o u t ra s á g u a s<br />
caracterizou o mundo grego, pela alusão à brancura do<br />
mármore (v. 7) e à «nu<strong>de</strong>z astral das estátuas» (v. 13), a<br />
ilha, ponto <strong>de</strong> observação do infinito espácio‑temporal<br />
– on<strong>de</strong> convergem, na esp<strong>um</strong>a que visita o areal, vozes<br />
<strong>de</strong> todos os tempos – ass<strong>um</strong>e‑se como sinédoque <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a civilização e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> cantar a vida. Um<br />
canto inaugural, anterior aos próprios poetas, seiva<br />
feita <strong>de</strong> palavras que se não esgotam, é esse «o segredo<br />
primordial do verso capaz/ <strong>de</strong> il<strong>um</strong>inar altivo a fronte<br />
dos homens/ e a nu<strong>de</strong>z astral das estátuas e <strong>de</strong> cinzelar/<br />
a coroa das divinda<strong>de</strong>s do mar» (vv. 11‑14).<br />
Símbolos <strong>de</strong> poesia e da imortalida<strong>de</strong> que esta<br />
grangeia são o mirto e as rosas (vv. 15‑16), presentes<br />
ambos no fragmento 30 West <strong>de</strong> Arquíloco:<br />
De ramo <strong>de</strong> mirto na mão se <strong>de</strong>leitava,<br />
ou com a bela flor da rosa<br />
O mirto e a rosa coroam também as frontes dos<br />
amantes, porque glorioso e imortal se quer o amor. Não<br />
que esse lirismo estivesse nas intenções <strong>de</strong> Arquíloco,<br />
mais empenhado em cantar <strong>um</strong> amor libidinoso e<br />
animalesco, meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sonra poética, no contexto <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a poesia iâmbica com fortes intenções invectivas.<br />
Mas os poetas são o que escrevem – ou o que <strong>de</strong>les<br />
se conserva, na vertigem dos tempos. Não importa<br />
o <strong>de</strong>senlace <strong>de</strong> textos como o que transcrevemos,<br />
possivelmente <strong>um</strong>a longa narrativa erótica (ou mesmo<br />
obscena), o que <strong>de</strong>le restou foi <strong>um</strong> breve e expressivo<br />
quadro, eivado <strong>de</strong> lirismo, on<strong>de</strong> <strong>um</strong>a mulher se enfeita