Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
so b r e re t ra t o s (e s o b r e q u e m o s (d)e s c re v e)<br />
<strong>um</strong> labirinto <strong>de</strong> aromas,<br />
<strong>um</strong> dédalo <strong>de</strong> cores com cadência <strong>de</strong> ondas,<br />
em fundo, tudo fazendo correr<br />
na direcção do mar, como <strong>um</strong>a fatalida<strong>de</strong>.<br />
A ciência <strong>de</strong> Arcimboldo, sim, a ciência,<br />
Nunca esteve no modo como combinou<br />
frutos e leg<strong>um</strong>es para criar<br />
a ilusão <strong>de</strong> vida em rostos surreais,<br />
só reais como a imaginação dos alquimistas.<br />
Em Praga riam‑se dos seus jogos visuais,<br />
<strong>de</strong>ssa ilusão que criava com pepinos,<br />
azeitonas, maçãs, pêssegos e laranjas,<br />
mas o pintor não se importava,<br />
pois <strong>um</strong> quadro seu, sendo comestível,<br />
bastaria para <strong>de</strong>belar o escorbuto<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong>a armada com tanta vitamina.<br />
Revejo‑me neste retrato <strong>de</strong> Verão<br />
como me revia no quintal da minha avó,<br />
imaginando o mundo como <strong>um</strong> cesto <strong>de</strong> fruta<br />
cercado <strong>de</strong> céu e <strong>de</strong> mar até à loucura.<br />
Dirigimo‑nos, por fim, para o ‘Salão Nobre da<br />
História’, on<strong>de</strong>, não por acaso, cabem «As Fazedoras <strong>de</strong><br />
Tortilhas». Relembra‑nos este poema que o retrato já<br />
esteve vedado àqueles que não se aproximavam <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
estatuto divino.<br />
Eis alguns versos <strong>de</strong> <strong>um</strong> poema da breve série<br />
equestre, «Retrato <strong>de</strong> Francisco I a Cavalo» (François<br />
Clovet – imagem 8) em que o Poeta, muito habilmente,<br />
quase expulsa do retrato o rei, para fazer aparecer, em todo<br />
o esplendor, <strong>um</strong> cavalo a que nada falta, nem o ritmo,<br />
125