14.04.2013 Views

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Teresa Carvalho<br />

só não é literalmente “pintura que fala”, porque o poeta<br />

nunca abandona a sintaxe condicional:<br />

Mengs é a intimida<strong>de</strong> mais íntima<br />

antes que a pintura chegasse<br />

ao âmago da solidão do homem,<br />

e o seu olhar exausto e vazio<br />

é a cicatriz <strong>de</strong> <strong>um</strong>a busca<br />

que não começa nem acaba,<br />

que não tem fim nem princípio.<br />

E se o quadro falasse, seria<br />

como se dissesse: eu sou a forma<br />

como me vejo no que pinto,<br />

e a dor <strong>de</strong> <strong>um</strong> homem tem sempre<br />

as cores da revolta <strong>de</strong>sse homem.<br />

Logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> «A Quimera» (que fica para trás),<br />

em que dominam as cores alegóricas do sonho – ver<strong>de</strong>s<br />

evanescentes –, a escala cromática <strong>de</strong>ste livro começa a <strong>de</strong>scer.<br />

Leia‑se, por exemplo, «São Paulo, o Eremita», <strong>um</strong> poema <strong>de</strong><br />

cores tristes, <strong>de</strong> negr<strong>um</strong>e, só levemente interrompido com<br />

«Ginepro D’Este». Esta escala sobe, muitos poemas <strong>de</strong>pois,<br />

em «O Verão» (SR: 55), <strong>um</strong>a peça <strong>de</strong> tonalida<strong>de</strong> claramente<br />

eufórica, talvez a única, com <strong>um</strong>a nota <strong>de</strong> h<strong>um</strong>or, on<strong>de</strong> se<br />

plasticizam, para além do célebre quadro <strong>de</strong> Arcimboldo<br />

(imagem 7), alg<strong>um</strong>as temáticas fundamentais da poesia <strong>de</strong><br />

José Jorge Letria, como o mar e a infância, e o seu próprio<br />

modo poético – exuberante, torrencial:<br />

Para mim foi sempre isto o Verão:<br />

<strong>um</strong>a orgia <strong>de</strong> frutos,<br />

124

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!