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Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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so b r e re t ra t o s (e s o b r e q u e m o s (d)e s c re v e)<br />

arte visual, não ficam limitados ao campo <strong>de</strong> visão que<br />

cada quadro impõe: avançam, movidos pela inquietação<br />

do poeta, extravasam das molduras e partem à conquista<br />

do espaço que a superfície estreita dos quadros lhes nega.<br />

Quando se trata <strong>de</strong> espaço, a poesia do autor testemunha<br />

<strong>um</strong>a clara preferência por interiores, universos íntimos,<br />

que esta colectânea vem confirmar.<br />

Paralelamente ao acto <strong>de</strong> pintar com a tinta da<br />

palavra, <strong>de</strong>corre em Sobre Retratos <strong>um</strong> exercício <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>vassa do Ser. Este exercício pe<strong>de</strong> técnica, método,<br />

e o poeta não é propriamente <strong>um</strong> novato no ofício.<br />

Faz‑se ro<strong>de</strong>ar <strong>de</strong> instr<strong>um</strong>entos <strong>de</strong> perscrutação verbal,<br />

<strong>de</strong> utensílios que recolhe do seu universo poético e <strong>de</strong><br />

outros que lhe são particularmente caros, como é o<br />

<strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> – «ácidos, g<strong>um</strong>es, ângulos agudos»,<br />

«bisturis do espanto» (PIL: 61), instr<strong>um</strong>entos aptos a<br />

esquadrinhar interiorida<strong>de</strong>s, <strong>um</strong>a ou outra farpa –, e<br />

<strong>de</strong>sce aos abismos mais profundos da alma h<strong>um</strong>ana.<br />

Nesta medida, Sobre Retratos é <strong>um</strong> livro talhado a golpes<br />

<strong>de</strong> faca – 42. Não <strong>de</strong>ve assustar‑se o leitor: ele é, com<br />

certeza, menos afugentador que o hermetismo que<br />

frequentemente encontramos em poetas que seguem<br />

caminhos afins e <strong>de</strong> que este livro se mantém a salvo, na<br />

sua clareza <strong>de</strong> motivos e intenções.<br />

Muito embora tenha bem presente <strong>um</strong> poema <strong>de</strong><br />

José Jorge Letria, on<strong>de</strong> se lê que «A literatura quer viver<br />

a sua vida/ sem ter quem a policie e interprete» (II: 409)<br />

e <strong>de</strong>sconfie que muitos são aqueles que não apreciam<br />

visitas guiadas – não é fácil esquecer ladainhas antigas<br />

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