Fragmentos de um Fascínio - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Teresa Carvalho algo que permanece indizível, é notório na obra do autor de Mágoas Territoriais e fá‑la deslizar para uma narratividade que, mesmo incorporando o registo e os temas do quotidiano, permanece musical: A escrita está cansada das palavras que a povoam e a impelem, das vozes que a agitam e a embalam. É uma escrita exausta dos sentidos que prefere as histórias aos símbolos e às premonições. Envelheceu. Sente que alguma coisa apodrece nela. (LBM: 13) Entre o silêncio e o grito, uma dialéctica cujo poder de atracção se exercerá sempre sobre o autor, o poeta, recusando entregar‑se ao primeiro – «Há quem faça a mala e parta para dentro de si,/ sem bilhete de retorno, passagem única/ para o mais explicável dos silêncios» (PIL: 30) –, escolhe o grito. Uma simples página em branco é um «sintoma de que há uma voz/ que teima em continuar a fazer‑se ouvir, mesmo quando tudo ficou já dito, vivido» (PIL: 30). Mas o que confere à poesia de J. J. Letria o seu tom inconfundível é a consciência de um fazer poético que cumpre até ao fim um desígnio que livremente se aceita: «Sou eu que escrevo por mim até ao colapso final» (NhPF: 49). Se a “máquina da escrita”, não saciada, se converter porventura num instrumento de aniquilação do seu próprio construtor, o leitor pode sempre procurar este poeta em locais de refúgio em que é justamente forçado à afirmação do “eu”. Do interior destes lugares, alguns de forte tradição poética (o «armário azul da 108
109 a má q u i n a d a es c r i t a infância», por exemplo), pode surgir uma voz irónica que, em seu nome, dirá: «Está bem e recomenda‑se, mas que ninguém/ queira saber com que nome ou rosto renascerá» (OMI: 84) – artifícios de um poeta, particularmente consciente do seu ofício, que não se cansa de morrer para ressurgir pela Palavra.
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Teresa Carvalho<br />
algo que permanece indizível, é notório na obra do<br />
autor <strong>de</strong> Mágoas Territoriais e fá‑la <strong>de</strong>slizar para <strong>um</strong>a<br />
narrativida<strong>de</strong> que, mesmo incorporando o registo e os<br />
temas do quotidiano, permanece musical:<br />
A escrita está cansada das palavras<br />
que a povoam e a impelem, das vozes<br />
que a agitam e a embalam. É <strong>um</strong>a escrita<br />
exausta dos sentidos que prefere as histórias<br />
aos símbolos e às premonições. Envelheceu.<br />
Sente que alg<strong>um</strong>a coisa apodrece nela. (LBM: 13)<br />
Entre o silêncio e o grito, <strong>um</strong>a dialéctica cujo<br />
po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atracção se exercerá sempre sobre o autor, o<br />
poeta, recusando entregar‑se ao primeiro – «Há quem<br />
faça a mala e parta para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si,/ sem bilhete <strong>de</strong><br />
retorno, passagem única/ para o mais explicável dos<br />
silêncios» (PIL: 30) –, escolhe o grito. Uma simples<br />
página em branco é <strong>um</strong> «sintoma <strong>de</strong> que há <strong>um</strong>a<br />
voz/ que teima em continuar a fazer‑se ouvir, mesmo<br />
quando tudo ficou já dito, vivido» (PIL: 30). Mas o que<br />
confere à poesia <strong>de</strong> J. J. Letria o seu tom inconfundível<br />
é a consciência <strong>de</strong> <strong>um</strong> fazer poético que c<strong>um</strong>pre até ao<br />
fim <strong>um</strong> <strong>de</strong>sígnio que livremente se aceita: «Sou eu que<br />
escrevo por mim até ao colapso final» (NhPF: 49).<br />
Se a “máquina da escrita”, não saciada, se<br />
converter porventura n<strong>um</strong> instr<strong>um</strong>ento <strong>de</strong> aniquilação<br />
do seu próprio construtor, o leitor po<strong>de</strong> sempre procurar<br />
este poeta em locais <strong>de</strong> refúgio em que é justamente<br />
forçado à afirmação do “eu”. Do interior <strong>de</strong>stes lugares,<br />
alguns <strong>de</strong> forte tradição poética (o «armário azul da<br />
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