14.04.2013 Views

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ávi<strong>do</strong> e travesso, põe-se a recortar descaradamente palavras, títulos, versos,<br />

estrofes, frases e perío<strong>do</strong>s inteiros de outro autor para encaixá-los, com intenção<br />

valorativa e lúdica, no interior de seu próprio texto, transferin<strong>do</strong> para narra<strong>do</strong>r e<br />

personagens seus a ilusória autoria de tais fragmentos. Essa técnica, que passou a<br />

ser marca registrada <strong>do</strong> ficcionista, reaparece em Cabelos no coração, obra que<br />

reconstrói a linguagem hermética <strong>do</strong> pensa<strong>do</strong>r e visionário paraense Filippe Patroni,<br />

e em Memorial <strong>do</strong> Fim, romance que procura mimetizar a escrita de Macha<strong>do</strong> de<br />

Assis.<br />

Mas quem são esses autores, os modelos literários, convoca<strong>do</strong>s intratextual<br />

e intertextualmente por Harol<strong>do</strong> Maranhão para fazer parte de sua obra? No caso<br />

específico de O tetraneto del-rei, o autor deixou-nos a seguinte nota:<br />

No texto, há enxertos de versos e passagens de Fr. Ama<strong>do</strong>r Arrais, Pero<br />

Vaz de Caminha, Camões, Bocage, Gregório de Matos, Fr. Francisco de<br />

Mont’Alverne, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Eça de Queiroz,<br />

Macha<strong>do</strong> de Assis, Francisco Otaviano, Olavo Bilac, Fernan<strong>do</strong> Pessoa,<br />

João Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade,<br />

João Cabral de Melo Neto, Mário Faustino e Lê<strong>do</strong> Ivo. 23<br />

São esses os nomes que o escritor paraense confessa abertamente. No<br />

entanto, há também os inomina<strong>do</strong>s, os que permanecem incógnitos mas ainda<br />

assim participam <strong>do</strong> jogo paródico, como já visto no primeiro capítulo. Na cita acima,<br />

chama a atenção o uso irônico da palavra enxertos. Convenhamos, não é<br />

exatamente habitual, muito menos espera<strong>do</strong>, que ao término da leitura o autor nos<br />

confesse que enxertou fragmentos de outros escritores em seu próprio romance.<br />

Mesmo se tomássemos esse aviso como uma inocente listagem bibliográfica por<br />

exemplo (o que não é o caso), a quantidade (e diversidade) de autores requisita<strong>do</strong>s<br />

para essa enxertia me parece no mínimo descomedida, dezenove! Além disso, não<br />

é intrigante que nenhuma obra específica tenha si<strong>do</strong> mencionada e que, portanto,<br />

como leitores continuemos praticamente na estaca zero? 24 Tal como está, inserida<br />

no final <strong>do</strong> texto, essa nota assemelha-se mais a um sarcástico pedi<strong>do</strong> de desculpas<br />

pelas usurpações!<br />

23<br />

MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. O tetraneto del-rei: o Torto, suas idas e venidas. Lisboa: Livros <strong>do</strong> Brasil,<br />

1988. p. 253.<br />

24<br />

No post-scriptum de Memorial <strong>do</strong> fim, ao contrário, Harol<strong>do</strong> Maranhão não apenas assume a<br />

obra como homenagem e pastiche, mas também proporciona indicações minuciosas sobre os<br />

locais (e as fontes) de suas colagens, listan<strong>do</strong> obras, capítulos, páginas, datas e até mesmo<br />

edições.<br />

96

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!