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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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uma apresentação sutilmente programada, e conferir-lhes uma relevância, torná-los<br />

presentes, quase palpáveis, à razão.<br />

A presença atua de um mo<strong>do</strong> direto sobre a nossa sensibilidade. É um da<strong>do</strong><br />

psicológico que, como mostra Piaget, exerce uma ação já no nível da<br />

percepção: por ocasião <strong>do</strong> confronto de <strong>do</strong>is elementos, por exemplo, um<br />

padrão fixo e grandezas variáveis com os quais ele é compara<strong>do</strong>, aquilo em<br />

que o olhar está centra<strong>do</strong>, o que é visto de um mo<strong>do</strong> melhor ou com mais<br />

freqüência é, apenas por isso, supervaloriza<strong>do</strong>. [...] Com efeito, não basta<br />

que uma coisa exista para que se tenha o sentimento de sua presença. [...]<br />

uma das preocupações <strong>do</strong> ora<strong>do</strong>r será tornar presente [...] o que está<br />

efetivamente ausente e que ele considera importante para a sua<br />

argumentação, ou valorizar, tornan<strong>do</strong>-os mais presentes, certos elementos<br />

efetivamente ofereci<strong>do</strong>s à consciência. 21<br />

Esse sentimento de presença, capaz de fazer-nos visualizar os objetos,<br />

seres e situações em foco, requer um trabalho exaustivo de manejo e <strong>do</strong>sagem de<br />

vários ingredientes discursivos; entre os mais relevantes, é normal encontrarmos:<br />

onomatopéias, repetições, amplificações, sinonímias, discursos direto e indireto livre.<br />

Descobrir e selecionar o ponto exato em que um elemento deve ser revela<strong>do</strong>,<br />

retoma<strong>do</strong>, esclareci<strong>do</strong>, enfatiza<strong>do</strong>, repeti<strong>do</strong>, escondi<strong>do</strong> ou amplia<strong>do</strong> é outro exemplo<br />

desse labor literário. A arte de criar emoção (afetividade, repulsa, me<strong>do</strong>, expectativa,<br />

humor) também é fundamental para realizar a presença, pois aviva os elementos <strong>do</strong><br />

discurso, tornan<strong>do</strong>-os muito mais interessantes aos nossos senti<strong>do</strong>s e conferin<strong>do</strong>-<br />

lhes uma multiplicidade de significações.<br />

As palavras carregam consigo pontos de vista, perspectivas de persuasão e<br />

potenciais afetivos que não podem ser despreza<strong>do</strong>s, por isso, uma escolha lexical<br />

nunca é neutra nem arbitrária. O escritor pode optar pela dissociação de senti<strong>do</strong>s,<br />

obrigan<strong>do</strong> o leitor a reconhecer <strong>do</strong>is usos diferentes de um mesmo vocábulo; pode<br />

querer dar uma significação habitual a um termo, fazen<strong>do</strong> com que ele passe<br />

despercebi<strong>do</strong>; pode atribuir-lhe um significa<strong>do</strong> técnico, para aumentar o<br />

consentimento e a confiança de um determina<strong>do</strong> auditório; pode valer-se de um<br />

senti<strong>do</strong> difuso, para ampliar o poder de interpretação <strong>do</strong>s interlocutores; ou ainda<br />

carregar na coloração emotiva da palavra, prestigian<strong>do</strong> ou deprecian<strong>do</strong> os valores a<br />

ela associa<strong>do</strong>s.<br />

Muitas vezes, pequenos remanejamentos na forma discursiva podem gerar<br />

maior ou menor expressividade e repercutir afetivamente sobre o auditório, como no<br />

caso da exploração de eufonias, ritmos e inflexões frasais. Além disso, a preferência<br />

21 PERELMAN, Chaïm; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Op. cit., p. 132; 133.<br />

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