Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
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meticuloso controle <strong>do</strong> autor sobre a forma como o texto deve ser li<strong>do</strong>, aprecia<strong>do</strong> e<br />
senti<strong>do</strong>.<br />
Conforme ia analisan<strong>do</strong> o processo de produção <strong>do</strong> ficcionista, ia<br />
constatan<strong>do</strong> também a presença de uma retórica literária, persuasiva e funcional,<br />
capaz de explicar não apenas a linguagem-museu exageradamente barroca<br />
inventada por ele, mas igualmente capaz de esclarecer a própria comicidade<br />
haroldiana: uma retórica que se vale <strong>do</strong> humor para convencer as mentes. Percebi<br />
que essa retórica da comicidade parece estar muito mais próxima daquilo que<br />
conhecemos como sátira <strong>do</strong> que daquilo que conhecemos como picaresca. Que o<br />
ficcionista põe em movimento o humor satírico para distorcer e deformar,<br />
conscientemente, certas técnicas empregadas em romances históricos, como o uso<br />
da epistolografia ou de notações temporais e referenciais que simulam (e ao mesmo<br />
tempo ironizam) a presença <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. E que, em concomitância com essa<br />
retórica <strong>do</strong> humor, o livro possui uma retórica ficcional que é comum a outras obras<br />
literárias: contar uma história para transmitir, criticar ou reforçar valores sociais.<br />
É importante frisar que não me refiro aqui à noção clássica e cristalizada de<br />
retórica, entendida como modelos de bem falar e de bem escrever, ou regras para<br />
se falar com elegância, ou ainda oratória destinada unicamente a agradar um<br />
auditório, muito menos de retórica concebida como manual descritivo de figuras<br />
ornamentais ou de figuras de estilo. Se bem que (e é preciso que se diga) qualquer<br />
tipo de análise razoavelmente convincente pressuponha, sim, uma etapa descritiva,<br />
exija, sim, uma quantidade de descrição. Refiro-me à retórica como teoria <strong>do</strong>s<br />
discursos persuasivos, com suas inevitáveis implicações éticas, morais, sociais,<br />
psicológicas e tantas outras.<br />
Etimologicamente falan<strong>do</strong>, persuadir significa tornar suave. Na mitologia<br />
greco-latina, havia uma divindade, uma divindade bastante secundária, chamada<br />
Persuasão. Curiosamente, a deusa da persuasão pertencia ao cortejo da deusa da<br />
beleza (chamada Afrodite pelos gregos e Vênus pelos romanos). A Persuasão,<br />
portanto, seguia suave e sutilmente o cortejo encabeça<strong>do</strong> por Vênus-Afrodite. Desta<br />
forma, os antigos simbolizavam o poder persuasivo da beleza, o quanto a beleza é<br />
capaz de persuadir, em silêncio e imediatamente, por onde quer que ela passe.<br />
Entre to<strong>do</strong>s os discursos cria<strong>do</strong>s pelo homem, os discursos literários são os<br />
que, com freqüência, vinculamos à beleza. Mas não é o caso de ver a literatura<br />
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