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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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ESTILO E IMITAÇÃO<br />

84<br />

«as palavras servem para ferir, mas também para acariciar»<br />

Harol<strong>do</strong> Maranhão – A porta mágica<br />

Quan<strong>do</strong> filósofos, psicólogos ou lingüistas postulam a existência de noções<br />

vagas numa língua viva estão propon<strong>do</strong> também uma mudança no mo<strong>do</strong> como<br />

devemos conceber o raciocínio e a linguagem. Acreditar que a obscuridade e a<br />

imprecisão são componentes naturais e legítimos de algumas noções é admitir como<br />

possível a idéia de que nosso raciocínio não se movimenta num senti<strong>do</strong> único, mas<br />

realiza um movimento duplo, ora rumo à clareza e à precisão, ora no caminho da<br />

obscuridade e da vagueza; o que parece ser muito mais vantajoso em termos<br />

persuasivos, já que essa flexibilidade possibilita expandir a margem de concordância<br />

entre as mentes. 1<br />

Toda vez que tentamos aclarar uma noção vaga acabamos geran<strong>do</strong><br />

definições normalmente incompatíveis entre si. Isto porque, a cada tentativa, o<br />

raciocínio se inclina a enfatizar certas características em detrimento de outras.<br />

Portanto, o desejo de esclarecer demasiadamente uma noção vaga, seja por<br />

motivos científicos, técnicos, jurídicos ou morais, pode acarretar mais desacor<strong>do</strong>s<br />

que acor<strong>do</strong>s e contribuir, deste mo<strong>do</strong>, para que a noção se torne ainda mais confusa<br />

e imprecisa na vida diária. 2<br />

É o que acontece, por exemplo, com a noção de estilo em história ou<br />

literatura. Haverá mais pontos de acor<strong>do</strong> entre os membros de um auditório, quanto<br />

mais abstrato for o contexto da discussão ou quanto mais vaga essa noção se<br />

mantiver, assim, cada qual terá mais liberdade de interpretá-la à sua maneira,<br />

segun<strong>do</strong> seus interesses e em conformidade com os valores que preza e defende. À<br />

medida que o ora<strong>do</strong>r opta por uma definição unívoca, tentan<strong>do</strong> precisar-lhe o<br />

senti<strong>do</strong>, automaticamente são excluídas aquelas características consideradas<br />

irrelevantes e a noção se torna mais rígida. Essa rigidez limita a aplicabilidade da<br />

noção a um número bastante restrito de casos, diminuin<strong>do</strong> o poder de interpretação<br />

e de apreciação <strong>do</strong> auditório e instigan<strong>do</strong> o desacor<strong>do</strong> entre as mentes. 3<br />

1<br />

PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 121.<br />

2<br />

Ibid., p. 123.<br />

3<br />

PERELMAN, Chaïm. Ética e direito. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 680.

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