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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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alterações no ritmo prosódico (acelerar, retardar, enfatizar certas palavras). Na<br />

escrita, ele pode empregar sinais de pontuação (principalmente aspas,<br />

exclamações, parênteses, hifens, reticências, interrogações) ou recorrer a alguns<br />

mecanismos tipográficos (caracteres em itálico ou maiúscula, por exemplo).<br />

Embora alguns sinaliza<strong>do</strong>res possam funcionar de forma metairônica,<br />

insinuan<strong>do</strong> ironia, o uso desses elementos não garante por si só a interpretação<br />

desejada. Será preciso observar também uma série de pistas paratextuais<br />

(apontamentos, títulos, ilustrações, epígrafes, etc.), bem como outros rastros<br />

narrativos intratextuais que provavelmente estejam enquadran<strong>do</strong> a elocução num<br />

contexto potencial de ironia: repetições e duplicações inoportunas, violações e<br />

contradições propositais, alterações de estilo e de registro, exageros, simplificações<br />

e certos comentários metalingüísticos (como dizem por aí, por assim dizer, sic). 100<br />

O problema é que os interpreta<strong>do</strong>res nem sempre pegam as indicações –<br />

ou, então, eles as lêem diferentemente <strong>do</strong> que elas tinham si<strong>do</strong><br />

intencionadas. [...] sinais de ironia não sinalizam ironia até que sejam<br />

interpreta<strong>do</strong>s como tais. Tu<strong>do</strong> que o ironista intenciona<strong>do</strong> pode fazer é<br />

apresentar um estímulo contextualiza<strong>do</strong> [...] e esperar que sua percepção<br />

leve o interpreta<strong>do</strong>r a inferir intento irônico, em primeiro lugar, e um<br />

significa<strong>do</strong> irônico específico, em segun<strong>do</strong> lugar. 101<br />

Fornecerei alguns casos de elementos paratextuais que, para mim ao<br />

menos, sinalizam e funcionam como indica<strong>do</strong>res de humor irônico. Comecemos pelo<br />

título: O tetraneto del-rei. Uma coisa é ser filho de rei, outra coisa é ser neto de rei.<br />

O bisneto de rei ainda pode gozar de certos privilégios, mas conforme aumenta a<br />

distância, diminui a influência. O trineto de rei deve até figurar em alguns alfarrábios;<br />

já o tataraneto <strong>do</strong> rei pressupõe um vínculo tão apaga<strong>do</strong> que reivindicar qualquer<br />

afinidade ou relação com o poder (há muito extinto) passa a ser de uma comicidade<br />

irresistível – pelo menos nos dias de hoje. O título não apenas realiza esse jogo<br />

interminável de descendências como tenta recuperar um status desbota<strong>do</strong> pelo<br />

tempo, fazen<strong>do</strong> com que o personagem viva e extraia privilégios dessa posição<br />

mendicante de nobreza.<br />

As epígrafes que abrem o romance não apenas me parecem permeadas de<br />

sarcasmo, como também apontam para um mo<strong>do</strong> de ler irônico. A primeira –<br />

100 Para uma descrição detalhada <strong>do</strong>s marca<strong>do</strong>res de ironia e de outras funções metairônicas, ver<br />

HUTCHEON, Linda. Teoria e política da ironia. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000. p. 214-227.<br />

101 Ibid., p. 216. (grifo da autora)<br />

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