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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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omance histórico. O que o escritor afirmou no pós-escrito de outra obra pode ser<br />

perfeitamente transferi<strong>do</strong> a’O tetraneto del-rei:<br />

Os referenciais históricos, meros décor, necessariamente não são históricos<br />

com o apuro que a História impõe. [...] A mal arranjada imitação, ou<br />

pastiche, vagamente lembrará o original – inimitável – na medida em que a<br />

música da flauta lembra a <strong>do</strong> violão. 99<br />

Portanto, o texto haroldiano se pretende muito mais imitativo <strong>do</strong> que<br />

propriamente histórico. Essa imitação mal arranjada (da História, <strong>do</strong>s discursos e da<br />

vida), que adquire a forma de pastiche ou de paródia, reflete um comportamento<br />

extremamente irônico <strong>do</strong> autor. Impossível saber ao certo quantas referências<br />

capciosas (a pessoas, obras e <strong>do</strong>cumentos) O tetraneto del-rei esconde em meio a<br />

suas páginas. Esse jogo de descobertas faz parte das agonias e <strong>do</strong>s gozos da<br />

leitura. O que se pode dizer com bastante certeza é que a atitude satírica <strong>do</strong> escritor,<br />

aliada à ambivalência paródica da narrativa e às metapistas irônicas <strong>do</strong> texto<br />

acabam por legitimar, nas entrelinhas, uma representação bem menos romântica da<br />

história da conquista e um retrato mais impie<strong>do</strong>so da identidade brasileira.<br />

O humor irônico<br />

Humor e ironia são processos que não dependem necessariamente um <strong>do</strong><br />

outro, mas que costumam manter uma relação de proximidade, em parte porque<br />

ambos acontecem no momento em que a significação hesita, ou seja, quan<strong>do</strong> aquilo<br />

que foi dito (expresso, declara<strong>do</strong> ou visto) e aquilo que não foi dito (não foi expresso,<br />

não foi declara<strong>do</strong>, foi apenas recorda<strong>do</strong> ou inferi<strong>do</strong>) se chocam, se friccionam, se<br />

sobrepõem ou se alternam em nossa mente.<br />

Para ativar o potencial irônico de uma elocução é preciso estar atento a<br />

algumas marcas, deixas ou pistas. Estes marca<strong>do</strong>res não costumam ser ostensivos<br />

nem obrigatórios; às vezes são apenas indícios (muito sutis) que servem para<br />

sinalizar a existência de ironia ou alertar o intérprete para possíveis jogos virtuais.<br />

Na oralidade, o ironista pode valer-se de gestos, ruí<strong>do</strong>s e expressões fisionômicas<br />

(sorrir, piscar, pigarrear, mover os lábios ou sobrancelhas), inflexões de voz ou<br />

99 MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. Memorial <strong>do</strong> fim: a morte de Macha<strong>do</strong> de Assis. São Paulo: Marco Zero,<br />

1991. p. 185. (grifos <strong>do</strong> autor)<br />

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