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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Quan<strong>do</strong> o decodificante capta uma paródia, é como se ele se distanciasse<br />

das pessoas que não conseguem fazê-lo, a paródia o diferencia <strong>do</strong>s demais,<br />

geran<strong>do</strong> um efeito de cumplicidade e de superioridade. Como inicia<strong>do</strong>, o intérprete<br />

passa a comungar diretamente com o escritor (o mestre). Portanto, a paródia pode<br />

ter uma nítida função demarcatória, servin<strong>do</strong> tanto para excluir quanto para incluir<br />

indivíduos no auditório particular (e privilegia<strong>do</strong>) de qualquer escritor.<br />

O tetraneto del-rei, como projeto romanesco, possui um eixo<br />

fundamentalmente paródico. É a paródia, associada a um claro propósito satírico de<br />

ficcionalizar e distorcer, que dá sustentação ao romance. Quase tu<strong>do</strong> nele acaba<br />

sen<strong>do</strong> alvo de deformações satírico-parodísticas: o tupi-guarani e a língua<br />

portuguesa; as expressões e citações latinas; a linguagem <strong>do</strong>s cronistas, das cartas,<br />

<strong>do</strong>s provérbios e epitáfios; as formas clássicas de argumentar e de narrar; as<br />

idiossincrasias e os nomes de personagens verídicos; as convenções de época, os<br />

ritos e cerimônias (casamento, batismo, funeral, rapapés, títulos nobiliárquicos); as<br />

estratégias bélicas e os exercícios militares; a história oficial da colonização<br />

brasileira e inclusive certos mitos tradicionais (como a ilusória superioridade da raça<br />

branca, sua aparente limpeza de sangue, o suposto heroísmo <strong>do</strong>s primeiros<br />

desbrava<strong>do</strong>res portugueses e a provável antropofagia <strong>do</strong>s indígenas).<br />

Vejamos, por exemplo, um trecho da cena em que o Torto, tripudian<strong>do</strong> sobre<br />

um português moribun<strong>do</strong>, tenta investigar-lhe o nome:<br />

Qual a tua graça? Responde-me. Responde-me que dá-me nos nervos esta<br />

parlenda sem respostas. [...] És Manuel ou és Foão? Anrique de Roxas?<br />

Filipe Cifães? Diogo Seme<strong>do</strong> de Refoios? Nuno Cabreira? Aparentas<br />

aspeito de Nuno Cabreira. É. Nuno Cabreira cai-te bem. Se outro não<br />

lograrmos, serás para to<strong>do</strong> o sempre: o Nuno Cabreira. [...] Bem, bem, ó<br />

Cabreira: acaso és Fernão Barbanel? Per Gá? És Per Gá? Gonçalo<br />

Fogaça? Tomé Pirão? Tomé Pirão veste-te bem. Ou Jerónimo<br />

d’Albuquerque Maranhão? Sabes? O poeta Camões, conheces o poeta<br />

Camões?, chamou-me assi e não o disse por quê: Jerónimo d’Albuquerque<br />

Maranhão. Maranhão? Conheces tu a um Maranhão? Então, meu Cabreira,<br />

chamam-te Maranhão? Nunes? Mendes? Martins? Ó gajo, como acodes,<br />

como acudias? Gaspar Curvo Ribafria? Murteira? Logra<strong>do</strong>? Trincão? Está<br />

aí, um rico nome: Affonso Bem Veniste! Foste fidalgo? Sobrinho-neto <strong>do</strong><br />

Conde de Cifuentes? Do Duque da Sortelha? És tu, Deus meu, o Duque da<br />

Sortelha? O Duque de Fuensalida?, o Conde de Re<strong>do</strong>n<strong>do</strong>? 89<br />

O méto<strong>do</strong> de parodiar o nome das pessoas, bem como seus títulos de<br />

nobreza, é uma constante por to<strong>do</strong> o romance. Essas paródias, ao mesmo tempo<br />

89 MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. Op. cit., 1988. p. 124.<br />

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