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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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Já na paródia, é como se o modelo não pudesse mais ser salvo, como se o<br />

escritor lhe desse um beijo de adeus e ficasse tão-somente com a cópia. A intenção<br />

negativa, zombeteira e sarcástica <strong>do</strong> parodista deforma o original a ponto de torná-lo<br />

um referência obsoleta. Na paródia, a cópia se desprende <strong>do</strong> modelo com mais<br />

facilidade e adquire vida própria, só nos lembramos dele para que possamos rir<br />

melhor de sua cópia.<br />

Será o pastiche mais sério e respeitoso <strong>do</strong> que a paródia? [...] parece-me<br />

que a paródia procura de facto a diferenciação no seu relacionamento com<br />

o seu modelo; o pastiche opera mais por semelhança e correspondência [...]<br />

Nos termos de Genette [...] a paródia é transforma<strong>do</strong>ra no seu<br />

relacionamento com outros textos, o pastiche é imitativo. [...] Tanto a<br />

paródia como o pastiche não só são imitações textuais formais, como<br />

envolvem nitidamente a questão da intenção. Ambos são empréstimos<br />

confessa<strong>do</strong>s. Aqui reside a distinção mais óbvia entre a paródia e o<br />

plagiarismo. 74<br />

Segun<strong>do</strong> Linda Hutcheon, que tende a ampliar a definição e o escopo de<br />

paródia, consideran<strong>do</strong>-a mais como gênero <strong>do</strong> que como técnica 75 , o parodia<strong>do</strong>r<br />

volta-se normalmente para o mun<strong>do</strong> das artes, buscan<strong>do</strong> ali os modelos a serem<br />

reproduzi<strong>do</strong>s, por isso, ao imitar “a arte mais que a vida, a paródia reconhece<br />

conscientemente e autocriticamente a sua própria natureza” 76 . Em outros termos: a<br />

paródia costuma buscar seus referentes dentro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> artístico-literário com<br />

muito mais freqüência <strong>do</strong> que no mun<strong>do</strong> empírico propriamente dito, por<br />

conseguinte, como forma de arte, ela mesma se auto-referencia. A paródia alimenta-<br />

se de subsídios lega<strong>do</strong>s pela tradição, faz interagir presente e passa<strong>do</strong> e propõe um<br />

olhar para dentro das narrativas, das obras e <strong>do</strong>s discursos codifica<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong>,<br />

portanto, uma forma interartística de ficcionalização cuja maior virtude é promover<br />

reflexões sobre si mesma, assim como transformações a respeito <strong>do</strong> próprio ato de<br />

narrar e de criar. “A auto-reflexividade das formas de arte modernas toma muitas<br />

vezes a forma de paródia e, quan<strong>do</strong> o faz, fornece um novo modelo para os<br />

processos artísticos.” 77<br />

Quan<strong>do</strong> o parodia<strong>do</strong>r freqüenta outros escritores e artistas em busca de<br />

novos jogos intertextuais, ele pode não apenas parodiar as obras, como também o<br />

74 HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia: ensinamentos das formas de arte <strong>do</strong> século XX.<br />

Lisboa: Edições 70, 1985. p. 55-56. (grifos da autora)<br />

75 Ibid., p. 30.<br />

76 Ibid., p. 40.<br />

77 Ibid., p. 16.<br />

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