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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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O humor paródico<br />

Captar uma paródia é ser capaz de perceber (com os senti<strong>do</strong>s, a razão e a<br />

memória) que algo aparentemente único está sen<strong>do</strong> copia<strong>do</strong> ou reproduzi<strong>do</strong>.<br />

Também é dar-se conta de que essa reprodução é apenas um arreme<strong>do</strong> <strong>do</strong> original,<br />

uma cópia malfeita, e constatar que o fato de ser uma imitação infiel é totalmente<br />

proposital, isto é, que o parodia<strong>do</strong>r teve, em algum momento, a intenção de<br />

deformar aquilo que lhe servia de modelo.<br />

O decodifica<strong>do</strong>r deve ser igualmente capaz de atribuir determina<strong>do</strong>s graus<br />

para essa deformação, de saber se entre o modelo e a cópia existem mais<br />

diferenças ou mais semelhanças, ou melhor, de saber se o modelo original foi<br />

levemente modifica<strong>do</strong>, bastante adultera<strong>do</strong> ou ridiculamente deforma<strong>do</strong>. Se ele<br />

perceber um grau de deformação excessivo, se observar mais diferenças <strong>do</strong> que<br />

semelhanças, é muito provável que esta percepção seja sancionada com o riso. Mas<br />

rir dependerá muito <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como o decodifica<strong>do</strong>r se relaciona com o original. Se o<br />

modelo for algo (ou alguém) que o decodifica<strong>do</strong>r aprecia e respeita, se for sua<br />

própria pessoa, por exemplo, é quase certo que não haverá riso, a menos que ele se<br />

proponha a rir não da paródia, mas de motivos alheios a ela (para mostrar que<br />

possui senso de humor, para demonstrar que não se sentiu agredi<strong>do</strong>, por<br />

consideração ao parodia<strong>do</strong>r, etc.).<br />

Para que haja humor paródico é preciso que a cópia, de alguma forma, se<br />

aproxime <strong>do</strong> ridículo, que contenha um grau de deformação suficiente, tanto em seu<br />

aspecto formal (com a percepção de que certas peculiaridades foram distorcidas ou<br />

exageradas) quanto em seu aspecto contextual (com a percepção de que não há um<br />

encaixe perfeito, de que sobra ou falta algo, de que existe um anacronismo ou um<br />

desvio de padrão).<br />

Mas também é possível haver paródia sem humor, neste caso, basta que o<br />

decodificante perceba mais semelhanças <strong>do</strong> que diferenças e que a cópia possua<br />

um grau menor de deformação. Essa forma de paródia costuma ser utilizada não<br />

para ridicularizar o modelo, mas para pastichá-lo e recontextualizá-lo. Acontece que,<br />

às vezes, a recontextualização também pode provocar humor. Tu<strong>do</strong> depende <strong>do</strong> tipo<br />

de contexto evoca<strong>do</strong>: contextos ti<strong>do</strong>s como razoáveis não costumam fazer rir,<br />

contextos completamente desproposita<strong>do</strong>s podem provocar risos. O pastiche, por si<br />

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