14.04.2013 Views

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

— São tantos os apeli<strong>do</strong>s, Muira-Ubi!, são tantos os apeli<strong>do</strong>s! Olha, você<br />

diz: Rã-rã! Rã-rã!<br />

— Rã-rã?<br />

— É. Rã-rã. Por enquanto. Depois, vê-se melhor.<br />

— Rã-rã?<br />

— Rã-rã!<br />

E antes que ela novo embaraço lhe causasse, apressou-se o português a<br />

apontar-lhe a grutinha:<br />

— Rẽ-rẽ!<br />

Ela riu:<br />

— Pipu. Rẽ-rẽ?<br />

— É. Rã-rã e rẽ-rẽ.<br />

A lição inaugural completou-se a risadas. 69<br />

A estes, outros temas <strong>do</strong> risível poderiam ser acrescenta<strong>do</strong>s, embora um<br />

tanto marginais, como por exemplo: o metateatro, ao qual voltaremos no capítulo<br />

dedica<strong>do</strong> às metáforas; o me<strong>do</strong> de ser castra<strong>do</strong> ou de perder a virilidade; o me<strong>do</strong> de<br />

ser desnuda<strong>do</strong>; o orgulho <strong>do</strong>s antepassa<strong>do</strong>s nobres e da pureza de sangue; as<br />

alucinações e devaneios quixotescos de Jerónimo; as invencionices onomásticas; o<br />

escarnecimento da figura de Camões (imagem invertida e caricata <strong>do</strong> Torto) e o<br />

horror aos médicos e aos seus tratamentos:<br />

poderás curar-te, que não estás em mãos de cirurgião. De um deles um<br />

amigo livrei [...] Podes sarar, amigo Cabreira, podes sarar, que por aqui não<br />

andam eles e se os vir, a um que seja, ponho-o a correr com suas infusões,<br />

emplastros e sangrias. E se perseverar, lanceto-o justo ao centro <strong>do</strong> rabo. 70<br />

A literatura satírica parece ser uma das estratégias discursivas de maior<br />

contundência inventadas para influenciar aqueles auditórios incrédulos e apáticos<br />

que já não respondem a nenhum tipo de discurso moralizante. Talvez seja uma das<br />

formas mais persuasivas de aliciá-los e de conquistar sua adesão por meio <strong>do</strong> riso.<br />

Ao contrário <strong>do</strong> que fazem os discursos considera<strong>do</strong>s nobres, a sátira se empenha<br />

em criticar e desmistificar o caráter pretensamente divino, altruísta, respeitável,<br />

benévolo, eleva<strong>do</strong> e racional <strong>do</strong>s indivíduos, obrigan<strong>do</strong>-nos a ver o quanto somos na<br />

realidade estúpi<strong>do</strong>s, perigosos e ridículos, “cuan<strong>do</strong> consigue to<strong>do</strong> esto bien, ya ha<br />

dicho lo suficiente. Quede para los poetas hablar de la gloria de los hombres.” 71<br />

69 Ibid., p. 158-159.<br />

70 Ibid., p. 126-127.<br />

71 HODGART, Matthew. Op. cit., p. 248.<br />

50

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!