14.04.2013 Views

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“sorrisos são arma política que partem muros de gelo” 45 . A virtude <strong>do</strong> sorriso,<br />

segun<strong>do</strong> o autor, parece estar tanto na habilidade de saber usá-lo como tática ou<br />

manobra de aproximação social quanto no aproveitamento de sua energia para<br />

romper o esta<strong>do</strong> de frieza ou indiferença <strong>do</strong>s indivíduos. Esse riso político, capaz de<br />

favorecer a convivência humana, alia-se à força purgativa <strong>do</strong>s palavrões para formar<br />

o imenso e caudaloso rio de raivas <strong>do</strong> ficcionista. 46<br />

O componente emocional <strong>do</strong> palavrão sempre faz com que ele pareça<br />

ocupar no discurso mais espaço <strong>do</strong> que realmente ocupa. O palavrão tem a<br />

capacidade de fazer ecoar nossas emoções e agressões como nenhuma outra<br />

palavra; diante dele, a razão se cala. Em O tetraneto del-rei, as raivas serão<br />

expurgadas por um conjunto bastante restrito, embora recorrente, de expressões e<br />

vocábulos de baixo-calão: filho de puta, puta, putana, putaça, pica, caralho, pau,<br />

rabo, bunda, cu, merda, bosta, pei<strong>do</strong>, cagar, caganeiras, foder(-se), fodi<strong>do</strong> e<br />

cornu<strong>do</strong>. Se levarmos em conta que o romance traz à baila um mun<strong>do</strong><br />

fundamentalmente masculino (de homens confina<strong>do</strong>s, grosseiros, incultos e<br />

violentos), esse repertório de obscenidades pode soar até mesmo parcimonioso e<br />

bem modesto.<br />

É a combinação de elementos chulos e escatológicos com o desejo de<br />

difamar e degradar certos personagens que faz com que os palavrões adquiram um<br />

efeito bombástico e retumbante. Por exemplo, enquanto os índios são retrata<strong>do</strong>s<br />

com termos nem sempre favoráveis, mas com certeza não de to<strong>do</strong> negativos, tais<br />

como: “quieta gente” 47 (p. 24), “Intrujão!” (p. 148), “bruta gente” (p. 161), “Cavalos!”<br />

(p. 210), “são sábios” (p. 214), “estranha gente e vária” (p. 228), “demasia<strong>do</strong><br />

broncos” (p. 248); os portugueses, por sua vez, são bombardea<strong>do</strong>s com expressões<br />

pejorativas e detratoras <strong>do</strong> tipo: “quadrúpede” (p. 57), “seus lusos filhos de puta!”<br />

(p. 66), “invasores de bosta!” (p. 67), “bastar<strong>do</strong> praguento” (p. 74), “animais [...]<br />

camelos” (p. 92), “mansíssimo cornu<strong>do</strong>” (p. 95), “punha<strong>do</strong> de mer<strong>do</strong>sos” (p. 117),<br />

“Hidrófobos!” (p. 123), “poltrão” (p. 129), “saco de pei<strong>do</strong>s” (p. 130), “gambá<br />

remelento” (p. 130), “bodalhão tramposo” (p. 130), “português de merda” (p. 131),<br />

“porcos de comum pocilga” (p. 161), “grumetinho de bosta” (p. 165), “catarroso [...]<br />

45 MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. Rio de raivas. Rio de Janeiro: F. Alves, 1987. p. 20.<br />

46 Note-se a ambigüidade no título <strong>do</strong> romance acima: rio como substantivo e rio como verbo.<br />

47 MARANHÃO, Harol<strong>do</strong>. Op. cit., 1988.<br />

41

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!