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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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narrativa o sentimento de um verdadeiro humanista, de um autor preocupa<strong>do</strong> e cioso<br />

por mostrar também o la<strong>do</strong> bom, por romancear o homem no que ele tem de<br />

humano e vivo, por permitir a sua afirmação como indivíduo.<br />

A literatura satírica observa o mun<strong>do</strong> e a humanidade através de lentes<br />

distorcidas. São distorções bizarras que não possuem meios-termos, que<br />

transformam to<strong>do</strong>s os objetos e seres <strong>do</strong> universo (suas dimensões, quantidades,<br />

qualidade e importância), ora em algo extraordinariamente superior, gigantesco ou<br />

inesgotável, ora em alguma coisa minúscula, escassa, insignificante ou pior que a<br />

mais terrível das misérias, muito provavelmente para rebaixar no homem seu<br />

orgulho, suas ambições de liberdade, seus anseios de transcendência espiritual e a<br />

convicção de que é um ser único, sensato, irrepetível e inimitável.<br />

Cuan<strong>do</strong> el satírico nos priva de nuestra libertad y nuestra unicidad, lanza un<br />

golpe mortal contra nuestra ilusión vital básica, y es un golpe que medio<br />

esperábamos, porque en realidad nunca estamos seguros de que somos<br />

realmente libres, únicos o cuer<strong>do</strong>s. 41<br />

A redução satírica <strong>do</strong>s indivíduos pode deter-se no plano animal, mostran<strong>do</strong><br />

os desvios e as aberrações físicas, ou descer a níveis ainda mais inferiores,<br />

atingin<strong>do</strong> até mesmo as esferas vegetativa e inorgânica. O satirista também viola as<br />

atividades humanas privadas, secretas e pudicas, publican<strong>do</strong>-as com grande<br />

estardalhaço. Há uma compulsão por tu<strong>do</strong> o que é automático, involuntário e<br />

incontrolável, como as funções excretórias e sexuais. As sátiras estão sempre nos<br />

fazen<strong>do</strong> lembrar que, dia após dia, essas criaturas que se autodenominam homo<br />

sapiens se alimentam, vomitam, arrotam, cospem, espirram, suam, fedem, defecam,<br />

peidam, urinam, menstruam, se excitam, ejaculam, parem, a<strong>do</strong>ecem... e morrem.<br />

Acontece que o ser humano também ri, ri às gargalhadas, às lágrimas, a<br />

bandeiras despregadas, e tão estron<strong>do</strong>sa e grosseiramente que será necessário<br />

denunciar também esse riso. O riso funambulesco de Rabelais. Mas como fazê-lo, a<br />

não ser transforman<strong>do</strong> o leitor ridente em objeto de sua própria zombaria, levan<strong>do</strong>-o<br />

à autoderrisão, forçan<strong>do</strong>-o a reconhecer no mun<strong>do</strong> às avessas a loucura de seu<br />

próprio mun<strong>do</strong> e a enxergar-se a si mesmo neste homem bestial, neste reflexo<br />

distorci<strong>do</strong> que a sátira lhe devolve.<br />

A técnica da degradação se presta a envilecer, desmascarar ou macular<br />

aquilo que uma comunidade considera nobre ou é ti<strong>do</strong> por ela na mais alta estima:<br />

41 HODGART, Matthew. Op. cit., p. 120.<br />

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