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Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná

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combinação de realismo com fantasia (viagens imaginárias, fábulas, ficções utópicas<br />

e alegóricas); utilização de aforismos, epigramas, epitáfios e outras formas<br />

consagradas de expressão e emprego sistemático de fragmentos de obras literárias<br />

canônicas com finalidade parodística. 37<br />

O satirista costuma ser aquele que se apropria das funções punitiva e<br />

excludente <strong>do</strong> riso e as utiliza como cães de caça na perseguição de certas vítimas.<br />

Ao empregar o riso como instrumento de correção, ao realizar uma espécie de<br />

educação pelo méto<strong>do</strong> irreverente, o ora<strong>do</strong>r satírico acaba provocan<strong>do</strong> efeitos que<br />

às vezes fogem ao seu controle e que podem, inclusive, voltar-se contra ele (torná-<br />

lo, por exemplo, impopular no presente, despreza<strong>do</strong> ou esqueci<strong>do</strong> no futuro). Sua<br />

pedagogia da irreverência parece estar dirigida a um tipo muito específico de<br />

auditório, o conjunto das pessoas mais bem informadas, influentes e comprometidas<br />

com os problemas de seu tempo. Em geral, o desenvolvimento de sátiras exige<br />

tolerância, liberdade de expressão e certo convívio com a buliçosa atmosfera<br />

estética e sociopolítica das grandes cidades. A sátira, acredito eu, é uma etapa da<br />

atitude discursiva que só conseguirá cumprir de forma satisfatória os seus propósitos<br />

depois que os principais discursos sérios a respeito de um tema forem<br />

suficientemente experimenta<strong>do</strong>s ou estiverem muito bem instala<strong>do</strong>s numa<br />

comunidade.<br />

Quem ri dificilmente perde o controle de si mesmo, isto é, a maior parte <strong>do</strong>s<br />

risos tem em comum a propriedade de nos reacomodar no <strong>do</strong>mínio da razão. Como<br />

diria Lorenz, “Os cães que ladram às vezes mordem, mas o homem que ri nunca<br />

dispara.” 38 Na verdade o que ri dentro de nós, quan<strong>do</strong> rimos, parece ser a nossa<br />

própria razão. O riso provoca<strong>do</strong> pelos satíricos é capaz de fazer com que a razão<br />

moral (continuamente vigilante e atrelada ao senso comum) se sobreponha à<br />

emoção, ao entusiasmo excessivo ou à indiferença. O riso satírico é quase sempre<br />

um riso amargo e conserva<strong>do</strong>r, um ato que exerce pressão e responsabilidade moral<br />

sobre os ridentes.<br />

Os escritores de sátiras, como bons alquimistas <strong>do</strong> riso, há muito<br />

descobriram que as oposições abruptas e fora de contexto podem neutralizar os<br />

contrários, gerar incompatibilidades e criar o ridículo; que rir <strong>do</strong>s flagelos alheios,<br />

37 Para mais detalhes, ver o capítulo Las formas de la sátira em HODGART, Matthew. La sátira.<br />

Madrid: Ediciones Guadarrama, 1969. p. 132-187.<br />

38 LORENZ, Konrad. Op. cit., p. 298.<br />

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