Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
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Na segunda metade <strong>do</strong> século XX, Lorenz desenvolveu uma das teorias<br />
mais intrigantes sobre a evolução filogenética <strong>do</strong> riso. Estudan<strong>do</strong> o comportamento<br />
<strong>do</strong>s animais sociais, ele percebeu que a agressão não é, como supúnhamos, uma<br />
força demoníaca e tão-somente destrutiva; ela também cumpre funções<br />
indispensáveis para a preservação da espécie e um papel de suma importância na<br />
organização social e na defesa da vida. 34 Embora nossa primeira reação diante de<br />
um antagonista seja quase sempre tentar agredi-lo verbal e fisicamente, deve haver<br />
algum tipo de mecanismo inibi<strong>do</strong>r que nos impede de lesá-lo ou matá-lo, que coíbe o<br />
uso de um impulso hostil como única saída possível para resolvermos nossos<br />
conflitos. Parece que a evolução nos ensinou, nesses casos, a reorientar e desviar<br />
nosso instinto de ataque para vias mais inofensivas, que não afetam a sobrevivência<br />
<strong>do</strong> grupo. É bem provável, portanto, que o riso tenha se desenvolvi<strong>do</strong> no homem<br />
“por ritualização a partir de um movimento de ameaça reorienta<strong>do</strong>” 35 , ou seja, o que<br />
deveria ser um ato de efetiva agressão (ameaçar com os dentes à mostra) acabou<br />
se tornan<strong>do</strong> um ato ritualiza<strong>do</strong>, estiliza<strong>do</strong>, disfarça<strong>do</strong>. No entanto, o riso manteve<br />
algumas arestas agressivas. Talvez por isso ainda sintamos a necessidade de<br />
discipliná-lo, organizá-lo, regulamentá-lo, fazê-lo adaptar-se a certas estruturas e<br />
convenções. “Cada sociedade, cada época construiu as suas.” 36<br />
O humor satírico<br />
Uma das convenções discursivas tradicionais recebeu o nome de sátira.<br />
Mesmo em sua origem, entre filósofos cínicos gregos e poetas latinos, parece que<br />
esse tipo de composição não tinha contornos literários bem defini<strong>do</strong>s. Os satíricos<br />
eram aqueles que a<strong>do</strong>tavam certa atitude brincalhona e zombeteira diante da vida,<br />
na maioria das vezes com intenção moraliza<strong>do</strong>ra e crítica, para desta forma poder<br />
troçar <strong>do</strong>s costumes, das idéias, coisas, pessoas ou grupos sociais.<br />
Ao que parece, desde o princípio eles já se serviam de diversas estratégias<br />
para provocar seus auditórios e realizar comentários maledicentes sobre vícios e<br />
defeitos humanos: miscelânea poética, máscaras teatrais, música, dança e mímica;<br />
34 Para mais detalhes, ver o capítulo Para que é que o mal é bom? em LORENZ, Konrad. Op. cit.,<br />
p. 35-59.<br />
35 Ibid., p. 298.<br />
36 MINOIS, Georges. Op. cit., p. 619.<br />
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