Tese Delson Biondo.pdf - Universidade Federal do Paraná
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distanciamentos podem gerar não apenas o riso, mas também a indiferença, o temor<br />
ou a perplexidade.<br />
Estudar minuciosamente as formas lingüísticas de uma dicção cômica, suas<br />
propriedades textuais e verbais, pode nos fornecer algumas chaves sintáticas,<br />
revelar ingredientes semânticos e mecanismos referenciais que não apenas<br />
compõem o cômico, mas parecem suportar o próprio risível. 25 Se o humor pode ser<br />
uma questão de como configuramos e modelamos certas formas discursivas, então,<br />
como explicar satisfatoriamente por que razões a forma nos provoca risos, por que<br />
apreciamos as coisas subentendidas ou por que rimos mesmo quan<strong>do</strong> não<br />
entendemos todas as minúcias de uma piada?<br />
E se procurássemos as raízes <strong>do</strong> humor dentro <strong>do</strong> psiquismo humano?<br />
Parece inegável que muitas de nossas funções vitais, bem como nossos me<strong>do</strong>s e<br />
sonhos, são de alguma maneira governa<strong>do</strong>s por impulsos inconscientes. Freud, que<br />
analisou diversas técnicas e tendências das piadas e teorizou sobre as fontes<br />
anímicas <strong>do</strong> cômico, ao final, brin<strong>do</strong>u-nos com esta singela metáfora: rir é uma forma<br />
prazerosa de poupar energia, de economizar recursos psíquicos e afetivos que de<br />
outro mo<strong>do</strong> poderiam significar gastos dispendiosos de cólera, indignação ou<br />
desprazer. 26 Outras correntes psicológicas reforçam o que se convencionou chamar<br />
de teoria <strong>do</strong> alívio (uma versão moderna da antiga catarse greco-romana), segun<strong>do</strong><br />
a qual o riso parece ser uma liberação salutar de tensões e constrangimentos<br />
latentes, uma espécie de válvula de escape necessária. E ainda há os que vêem no<br />
cômico a expressão da superioridade <strong>do</strong> ego. Rir <strong>do</strong> outro faz com que nos sintamos<br />
superiores ou mais seguros de nós mesmos, rir parece ser uma forma de tentarmos<br />
<strong>do</strong>minar nosso interlocutor. 27<br />
A psicologia, aliada aos avanços da fisiologia e da medicina, tem da<strong>do</strong> mais<br />
e mais atenção às funções terapêuticas da hilaridade, e a neurologia parece estar a<br />
um passo de descobrir a localização exata de um provável centro <strong>do</strong> riso no córtex<br />
cerebral. Se a história antiga já havia registra<strong>do</strong> casos de pessoas enfermas que se<br />
curavam através <strong>do</strong> riso e de pessoas tristes que saravam mais lentamente <strong>do</strong> que<br />
25 Para mais detalhes, ver os esclarece<strong>do</strong>res ensaios de POSSENTI, Sírio. Os humores da língua:<br />
análises lingüísticas de piadas. Campinas: Merca<strong>do</strong> de Letras, 1998.<br />
26 FREUD, Sigmund. El chiste y su relación con lo inconsciente. In: ______. Obras completas.<br />
Buenos Aires: Santiago Rueda, 1953. v. 3, p. 7-287.<br />
27 LE GOFF, Jacques. O riso na Idade Média. In: BREMMER, Jan; ROODENBURG, Herman. (Org.).<br />
Uma história cultural <strong>do</strong> humor. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 75.<br />
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